15 de maio de 2012

Escolas públicas de Nova York são as mais segregadas do país


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NOVA YORK — Em uma aula de inglês, em uma escola pública de Nova York, a professora Floriande Augustin pergunta o momento de virada na vida de cada aluno. Foi positivo ou negativo?, quer saber. Os alunos levantam as mãos, agitados. Uma menina conta que foi quando ela ganhou seu primeiro gato. Outra, relata um acidente de carro. Um terceiro aluno lembra o dia que seu primo levou um tiro, e que foi positivo, porque ele pensou “que a vida estava tão maluca que ele deveria voltar a estudar”.
A lição é desviada para Martin Luther King Jr. e seus momentos durante a vida. A professora lembra o dia em que seu pai o levou para comprar sapatos e a atendente pediu para que eles esperassem nos fundos; de quando um motorista de ônibus ordenou que ele cedesse seu lugar a um passageiro branco; ou do ano em que ele deixou de brincar com seus amigos brancos, porque eles foram para uma escola diferente. Os estudantes começam a tomar notas. A cena se passa em uma sala de aula repleta de negros, na Explore Charter School, no Brooklyn, uma escola quase inteiramente frequentada por estudantes negros.
—Estamos falando sobre isso e olhe para nós. Somos todos iguais — reflete a professora Floriande Augustin, também negra.
O sistema de educação pública de Nova York é um dos mais segregados do país: enquanto a população da cidade parece diversificada — 40,3% de hispânicos, 32% de negros, 14,9% de brancos e 13,7% de asiáticos — muitas das escolas não refletem essa mistura. Cerca de 650 das quase 1.700 escolas de Nova York têm 70% dos alunos de uma única raça, revela uma análise do “New York Times” para o ano letivo de 2009/2010. Ainda segundo a pesquisa, em mais da metade das escolas da cidade, 90% dos estudantes são negros e de origem hispânica.
A Explore Charter School é uma dessas escolas: dos 502 alunos do jardim de infância ao 9º ano, 92,7% são negros e 5,7% hispânicos. Nenhum é branco ou asiático. Há uma boa dose de diversidade cultural, com estudantes do Haiti, Guiana e até da Nigéria. Mas não de classe econômica. Quase 80% dos alunos recebem um almoço subsidiado, marca da pobreza familiar. Na Explore Charter, como em muitas escolas de Nova York, as crianças saem de bairros segregados para escolas segregadas.
A matrícula na Explore Charter School é ainda mais racialmente desigual do que a sua área de influência. Os alunos são escolhidos por sorteio, com preferência dada ao Distrito 17, que engloba bairros como Flatbush, Flatbush do leste, Crown Heights e Farragut. Dados do censo para a área mostram uma população estudantil de 75% de negros, 13% de hispânicos, 12% branco e 1% de asiáticos. Os alunos brancos vão para outras escolas particulares.
Tim Thomas, um arrecadador de fundos branco que mora em Flatbush, escreve um blog chamado “The Q em Parkside”, sobre o bairro. Ele conversou com pais brancos, tentando compreender por que as escolas locais não estão mais integradas. — Eles argumentam que não querem ser cobaias. Outro dia, um deles disse: ‘Eu não quero ser a única gota de creme no café’.
Corpo docente não reflete a realidade dos alunos
Décadas de estudos acadêmicos apontam para os efeitos corrosivos da segregação sobre os alunos, especialmente em minorias, tanto no desempenho escolar quanto na falta de preparação psicológico para o mundo inter-racial que os espera. — As evidências mostram que alunos que frequentam escolas mais diversificadas têm efeitos positivos durante a vida escolar. Em outras palavras, os problemas em escolas segregadas são acentuados ao longo do tempo — afirmou Roslyn Mickelson, professor de Sociologia e Política Pública da Universidade da Carolina do Norte, que tem centenas de estudos sobre escolaridade integrada.
Uma maneira de maquiar essa segregação está no corpo docente. Na Explore Charter, por exemplo, a maioria dos professores, 61%, é branca, um assunto delicado entre alunos e pais, que preferem professores negros. A maioria dos membros da administração, incluindo o fundador da escola e o atual diretor, bem como o conselheiro e a assistente social, são de cor branca.
— Quando eu cheguei aqui e comecei a falar sobre mim, os alunos ficaram chocados. Eu comecei a me perguntar, será que eles realmente têm modelos? — questiona-se a professora Floriande.
Numa terça-feira depois aula, 10 alunos reunidos em uma sala de aula discutem sua escola e a questão racial. O que eles pensam da ausência de diversidade racial? — Realmente não nos preparam para o mundo real — disse Tori Williams, um aluno do 8º ano.
Jahmir Duran-Abreu, outro aluno do 8º ano, concorda: — Parece que só existem crianças negras e professores brancos. Outro dia disse para uma professora que gosto de ouvir Eminem e ela professor disse que isso era coisa de gueto. Ela era branca. Fiquei muito chateado. Fiquei me perguntando por que ela diria algo com isso.

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