17 de maio de 2012

Rio: 51% dos alunos são retidos no 1º ano do ensino médio


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RIO - Os dados divulgados esta semana pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) revelam que, se no Estado do Rio a situação do ensino médio é crítica, na capital é pior ainda. No 1º ano, por exemplo, 51% dos estudantes da rede pública repetem ou abandonam a escola. O número coloca os cariocas com o terceiro pior desempenho entre todas as 27 capitais do país, à frente apenas de Vitória (53,3%) e Porto Alegre (52,5%).
Entre os 92 municípios fluminenses, a rede pública da cidade do Rio só é melhor do que Búzios no 1º ano do ensino médio. O município da Região dos Lagos apresentou taxa de 53,6% na soma de abandono e repetência. Na outra ponta, aparece a pequena Italva, com apenas 5,8%. Os dados são referentes ao ano de 2011.
Levando-se em conta todos os três anos do ensino médio, a capital fluminense tem 39,7% dos estudantes retidos porque largaram a escola ou não conseguiram passar para outra série. O Rio aparece como a quarta pior capital do país. A pior foi Salvador, com 42,9%. A melhor, Manaus (19,3%). Dentro do estado, os cariocas novamente só conseguem ficar melhor do que Búzios (41,6%).

Para especialista, problema é ainda maior

Para a mestre em educação pela PUC-Rio e superintendente-executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel, a situação pode ser ainda mais grave do que a mostrada por esses números.
— O problema pode ser ainda mais sério, já que há pesquisas mostrando que, em termos nacionais, 20% dos alunos que saem do ensino fundamental sequer se matriculam no ensino médio. Para quem ingressa, o principal momento de desistência é o 2º bimestre do 1º ano. E a grande questão é a falta de condições acadêmicas: o estudante chega sem ter aprendido fração para estudar física e química. Tira zero nas provas e acaba achando que não é capaz — avalia ela.
Quando é feita a comparação entre a rede pública (onde mais de 95% das matrículas estão com o estado e o restante é federal) e a particular na capital, o abismo fica evidente. Se na primeira o índice de abandono e reprovação no 1º ano do ensino médio é de 51%, nas escolas privadas é de somente 16,3%.
— Na capital, há um ponto crítico na rede pública, que é a grande oferta de vagas noturnas no ensino médio. E, do jeito que as aulas são aplicadas à noite, são um convite para o abandono. Esse período deveria ser reservado para os jovens acima de 18 anos que cursam a Educação de Jovens e Adultos (antigo supletivo) — completa Wanda Engel.
Apesar do fraco desempenho principalmente na capital, o secretário estadual de Educação, Wilson Risolia, comemorou os resultados divulgados esta semana pelo Inep, pois mostram que tem havido uma diminuição significativa de alunos que repetem ou abandonam o ensino médio.
— Quando falamos de todo o estado, fomos o terceiro que mais melhorou desde 2009 na quantidade de aprovados, tanto no ensino médio quanto somente no 1º ano. No total do ensino médio, por exemplo, a rede diminuiu em 5,3% o número de alunos que são reprovados ou abandonam a escola de dois anos para cá.
Risolia admite, no entanto, que ainda há muito o que fazer. O secretário afirma que parte do problema no ensino médio é decorrência de falhas no ensino fundamental, mas que estão sendo tomadas ações de aceleração escolar, para os alunos com defasagem idade-série, e de reforço, para aqueles que não conseguem acompanhar o ritmo das aulas.
— Em 2010, tínhamos 60 mil alunos fazendo reforço. Este ano, a nossa expectativa é chegar a 240 mil. Realmente enfrentamos um problema de falta de vagas diurnas, principalmente na Zona Oeste da capital. Mas no início deste ano, por exemplo, abrimos três mil. Também estamos preparando mudanças na Educação de Jovens e Adultos para o segundo semestre — adiantou o secretário.
Responsável por boa parte do ensino fundamental (porta de entrada do ensino médio) na capital, a secretária municipal de Educação, Claudia Costin, também se defende:
— Até 2009, havia um problema que era a aprovação automática. Quando se implementa esse tipo de progressão sem um processo estruturado de ensino, o problema vai sendo empurrado para frente. Mas, de lá para cá, o quadro já mudou: implementamos medidas como um currículo único e um sistema de acompanhamento de desempenho com provas bimestrais. O Rio está entre as capitais de melhor desempenho no ensino fundamental.
Para Zaia Brandão, professora do Departamento de Educação da PUC-Rio, a crise do ensino médio tem uma de suas principais raízes na formação do professor:
— Enquanto não levarmos a sério as condições de formação e trabalho (materiais, culturais e simbólicas) do professor, a situação permanecerá caótica. A solução não será encontrada com fórmulas mágicas e sim com vontade política e competência técnica.

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