6 de abril de 2013

Proliferação de grupos neonazistas aterroriza Sul


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PORTO ALEGRE - Eles são em geral jovens, entre 17 e 30 anos. A maioria é formada por homens, mas também há mulheres — as chelseas — que atuam nas linhas de frente do movimento. Não são de famílias ricas, mas estão longe de ser pobres ou excluídos. Alguns trabalham, outros apenas estudam ou nem isso. Uma pequena parte, que forma os doutrinadores, tem curso superior e bons empregos. Decoram o corpo com tatuagens que identificam suas simpatias ideológicas e são violentos, muito violentos, quando em grupo.
— Na verdade são covardes porque só atacam em ampla maioria, geralmente cinco ou seis contra uma vítima sozinha. São pessoas normais, comuns até. Isso antes de atacarem. Aí se revelam ideologicamente complexas, disciplinadas e fanáticas — descreve o delegado Paulo César Jardim, líder do grupo de trabalho da Polícia Civil gaúcha que há dez anos investiga a proliferação de grupos neonazistas na Região Sul do Brasil.
Longe de constituírem um bando de arruaceiros folclóricos e caricatos, os neonazistas preocupam a polícia e mostram uma organização rígida no planejamento e na execução de ações violentas. A corporação gaúcha já identificou e fichou 500 integrantes desses grupos que atuam no estado, em um número indefinido de células. O último ataque em Porto Alegre ocorreu no dia 9 de março, no centro da cidade. Um homem foi agredido a facadas por um grupo ainda desconhecido da polícia.
A divisão interna dos neonazistas segue uma lógica política e inclui atividades paramilitares, institucionais e de propaganda. As operações são ousadas: uma dessas células planejou, em 2009, um ataque com bombas de alto poder destrutivo a uma sinagoga em Porto Alegre, frustrada pela ação da polícia. Em 2005, um grupo de 14 pessoas atacou três frequentadores de um bar da capital gaúcha e deixou duas delas feridas com gravidade. Os agredidos eram judeus.
Quatro dos 14 indiciados pelo crime vão a júri popular no próximo dia 11 de julho, acusados por três tentativas de homicídio e por formação de quadrilha, além de corrupção de menores e apologia ao nazismo. É, segundo a polícia, o primeiro julgamento dessa natureza no Brasil. Os réus são Luzia Santos Pinto, Fábio Roberto Sturm, Laureano Vieira Toscani e Thiago Araújo da Silva.
— Os integrantes do movimento neonazista estão muito ativos, apesar do trabalho de inteligência da polícia. Há recrutadores em locais-chave, como universidades e escolas. É muito difícil identificá-los porque são bastante movediços — relata o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, Jair Krischke.
Segundo ele, os grupos que atuam no Sul do Brasil têm diversas conexões internacionais e são bancados basicamente por organizações europeias. Dinheiro não falta, segundo Krischke. Inclusive para bancar pocket-shows de bandas internacionais realizados apenas para angariar novos adeptos. Atualmente, também têm tentado recrutar simpatizantes atacando a política de cotas das universidades públicas. Um dos focos principais dessa estratégia foi localizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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