Na escolha do colégio,
pedagogia em 2º plano
Pesquisa mostra que pais dão mais valor à infraestrutura física e ao atendimento
Os coordenadores se esforçam para apresentar detalhadamente os projetos pedagógicos de suas escolas em reuniões e palestras, mas na hora da escolha, os pais não percebem as diferenças entre os vários discursos. Eles levam em conta mesmo se os banheiros são limpos, se as salas de aula estão organizadas, a cordialidade de quem os atendeu ao telefone e, é claro, a classificação no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A falha na comunicação entre pais e escolas foi detectada por uma pesquisa qualitativa da Meio Ponto, empresa de estudos educacionais. Em 2009, foram ouvidos diretores e coordenadores de 16 escolas paulistanas de elite. Em janeiro deste ano, foram entrevistadas oito famílias que escolheram agora uma nova escola.
"O mais importante para os pais são as informações visuais, como conservação, organização, aparência dos funcionário", afirma a educadora Renata Rubano, autora da pesquisa. "A escolha nunca tem como base a proposta pedagógica. A metodologia de cada colégio fica indiferenciada."
O estudo mostrou que os representantes dos colégios não gostam quando os pais aparecem com listas de itens predeterminados, mas também não conseguem se fazer compreender. "Os rótulos pedagógicos atrapalham o entendimento", diz Renata.
Angustia. Todos os pais entrevistados relataram que o período de escolha é angustiante. "Eles querem a escola perfeita e buscam uma escola para toda a vida, para não precisar mais se preocupar com isso", diz a pesquisadora. Mas a escolha não deve ser definitiva.
Ivone Neuber, mãe de gêmeos de 11 anos, não precisou nem sequer de um ano letivo para perceber que havia feito a opção errada. Na semana passada, antes de completar três meses de aula, transferiu Rodrigo para a Escola Viva, onde Thomaz já estudava.
"Eles são diferentes, achei que se dariam bem em lugares diferentes", conta a mãe. Mas uma das escolas, apesar da ótima fama, não tinha um perfil que combinava com a família.
Os pais planejavam uma viagem na Páscoa para as cidades históricas de Minas Gerais, mas a quantidade de trabalhos e conteúdo para estudar era tão grande que o passeio teria de ser cancelado. "Achei demais para um menino de apenas 11 anos", diz Ivone. "O Rodrigo estava angustiado com tanta cobrança e me perguntei se a gente queria mesmo aquilo." A resposta foi "não".
Os pais já haviam decidido tirar Rodrigo e Thomaz da escola anterior, em período integral, para suavizar o ritmo dos meninos.
Perfil. A tradição, a fama, a localização são os fatores que mais acabam pesando na hora da escolha. Em meio a tantas opções de escolas, muitos pais se esquecem de perguntar que tipo de valores eles esperam do colégio.
"Não basta saber se tem artes na escola. Tem de perguntar como a arte é vista; que tipo de arte se estuda; se a abordagem é o ensino da técnica ou o desenvolvimento da criatividade", afirma Renata.
Os pais também tem de levar em consideração os desejos e características dos filhos. "Quem escolhe é o pai, mas a gente vai trabalhar com o aluno", afirma o diretor da escola Hugo Sarmento, João Mendes de Almeida.
Segundo ele, cada vez mais os pais têm a responsabilidade sobre o tipo de educação que recebem as crianças. "Antes, até existia aquela escola que dizia que ela é que sabia o que era bom para o aluno e pronto, não aceitava questionamento. Hoje não dá mais", diz.
Internet. Em meio a um período de tantas dúvidas, os sites das escolas estão sendo usados como ferramentas que ajudam na decisão. Antes mesmo de visitar, os pais podem acompanhar a rotina escolar, saber que tipo de atividades são feitas e quais os resultados delas.
"Hoje todo mundo entra nos sites várias vezes", diz Renata. O atendimento que os pais recebem desde o primeiro contato também é fundamental. "Se prometem ligar e não ligam, a escola acaba descartada."
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