A década do livro
O ano de 2010, que inaugura a segunda década do Século XXI, mostra-se muito promissor para o mercado editorial e ampliação do hábito de leitura no País. A começar pela estimativa de crescimento econômico de 5%, consolidando a recuperação econômica do Brasil, a primeira nação a emergir da grave crise mundial. Ademais, teremos a realização das eleições que sempre suscitam maior interesse em pesquisas e estudos sobre política e história. Haverá, ainda, a Copa do Mundo, na África do Sul, evento tradicionalmente estimulante para a indústria da cultura e do entretenimento. Há que se considerar também o crescimento anual dos programas governamentais de distribuição de livros às escolas públicas, agora não mais restritos às obras didáticas. Assim, há vários fatores que permitem vislumbrar com otimismo a performance do mercado editorial. Dados mais recentes corroboram a percepção de que o livro e a leitura encontram-se numa curva ascendente no País. No período de 2006 e 2008, foram lançados aproximadamente 57 mil novos títulos e impressos mais de um bilhão de exemplares, conforme a pesquisa ``Produção e vendas do mercado editorial brasileiro``, realizada pela Fipe/USP para a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). O estudo também aponta significativa redução de preços. Se considerarmos os valores reais, ou seja, já descontada a inflação de 2004 a 2008, a queda foi de 22,4% no segmento de obras gerais, por exemplo. Em 2008, o mercado editorial faturou R$ 3,3 bilhões. Foram publicados 51.129 títulos e produzidos 340.274.195 exemplares. Os números mostram maior investimento em novos títulos. É uma estratégia inteligente do mercado, estimulando o surgimento de autores e a produção intelectual. O maior número de títulos permite gerenciamento estratégico das tiragens, que vão respondendo ao comportamento da demanda. Outra importante pesquisa - Retratos da Leitura no Brasil - também indica um cenário de crescimento para o consumo de livros. Em sua última edição, identificou a existência de 95 milhões de leitores no País e um índice de leitura de 4,7 títulos por habitante/ano. Fica muito claro que a década terminada em 2009 apresentou um grande avanço do livro no Brasil. Entretanto, ainda estamos num patamar aquém do compatível com a realidade do País detentor da 10ª economia mundial. Assim, é preciso um imenso esforço para mitigar os obstáculos à expansão substantiva do hábito de leitura. Um dos passos importantes é suprir a falta de bibliotecas, inclusive na rede pública de ensino. O Censo Escolar 2008 indica essa carência em 113 mil escolas, ou 68,81% da rede pública! O problema não se limita à falta de livros. Em 2009, o orçamento federal para o envio de obras gerais à rede pública foi de R$ 76,6 milhões. É um montante apreciável para as aquisições. Em 2008, as escolas receberam, em média, 39,6 livros cada uma, média muito razoável. E isto não inclui o Programa Nacional do Livro Didático (PNDL). O que mais falta é infraestrutura física, ou seja, espaços adequados à montagem das bibliotecas. Somam-se a esse problema os grilhões do analfabetismos. Em números absolutos, segundo o Ministério da Educação, cerca de 15 milhões de brasileiros maiores de 15 anos não sabem ler e escrever. Mais grave é que 21,6% com mais de 15 anos são analfabetos funcionais. São prioritários programas capazes de facilitar o acesso ao livro pelos estudantes da rede pública. Além da ampliação das ações federais, como o PNLD, são necessárias mais iniciativas conjuntas entre União, estados, municípios e a iniciativa privada. É essencial a mobilização do setor público e da iniciativa privada, como vêm fazendo a s entidades do mercado editorial para que 2010 seja o primeiro ano de um década em que o livro esteja ao alcance de todos os brasileiros e a leitura, conduzindo nossa população à sociedade do conhecimento, referende nossa condição de país desenvolvido! Rosely Boschini - Presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL) | |
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