"Sem uma análise dura sobre nossa realidade educacional, dificilmente sairemos do lugar" Ilona Becskeházy é diretora executiva da Fundação Lemman. Artigo publicado em "O Estado de SP":
Na semana passada, a divulgação do Ideb veio acompanhada de comemorações e análises positivas sobre o desempenho da educação. O índice elaborado pelo Ministério da Educação combina as notas dos alunos na Prova Brasil às taxas de aprovação, reprovação e abandono. É uma forma de impedir que as escolas "trapaceiem", expulsando ou retendo os piores alunos para que não façam a prova. Mas comemorar a evolução do Ideb sem checar a evolução do desempenho na prova é também uma forma de autoengano.
E o que mostra a análise dos resultados? Que o sistema educacional brasileiro ainda não conseguiu sair da inércia. A estagnação fica especialmente clara quando analisamos a evolução das notas nos últimos 15 anos. Observemos apenas a disciplina de língua portuguesa, já que o desempenho em matemática acompanha o mesmo raciocínio.
Em 1995, ano em que começa a série histórica do Sistema de Avaliação da Educação Básica, os alunos da 4.ª série tiveram como desempenho médio na prova uma pontuação de 188,3. Em 2009, o desempenho médio foi de 184,3. No mesmo período, ao final da 8.ª série, a média variou de 256,1 para 244 pontos. Ao final do ensino médio, passou de 290 para 268,8 pontos.
A análise dentro dessa perspectiva histórica mostra que os incrementos nas notas da prova em anos recentes não dão respaldo para celebração. Reforça a preocupação o fato de a performance dos alunos estar muito distante da expectativa de aprendizado para cada uma das séries.
Embora não sejam oficiais, dados publicados pelo MEC indicam que na prova de língua portuguesa, o nível adequado para alunos de 4.ª série seria atingir 200 pontos. Para os de 8.ª série, o ideal seriam 300 pontos. E, ao final do ensino médio, o adequado seriam 350 pontos.
Os dados sobre o ensino no Brasil não surpreendem. De acordo com a primeira lei de Newton, um corpo só deixa seu estado de repouso ou de movimento retilíneo uniforme se sobre ele atuar uma força externa. E, com exceções pontuais, não há no país políticas públicas que tenham força para tirar a nação da inércia educacional. Por causa dessa constatação, o Boletim da Educação no Brasil, publicado pela Fundação Lemann no ano passado, trouxe no título o questionamento "Saindo da Inércia?".
Não nos enganemos. Sem uma análise dura sobre nossa realidade educacional, dificilmente sairemos do lugar. Pior. Ficaremos para trás, porque outros países, que já estão anos-luz na nossa frente, continuam insatisfeitos com a educação que oferecem à sua população e fazem enormes esforços para continuar melhorando. (O Estado de SP, 6/7) |
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