"É preciso oferecer novas alternativas ao ensino médio tradicional e não apenas cursos complementares"
Naercio Menezes Filho é e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor associado da FEA-USP. Artigo publicado no "Valor Econômico":
Apesar do momento de euforia no mercado de trabalho brasileiro, há um grupo demográfico para quem a situação não apresenta sinais de melhora: os jovens na faixa entre 18 e 21 anos de idade. Com o progresso educacional que ocorreu nas duas últimas décadas, esse grupo ficou mais escolarizado. No entanto, a transição da escola para o mercado de trabalho está cada vez mais difícil, assim como a permanência na escola. Como explicar esse aparente paradoxo?
A figura ( www.jornaldaciencia.org.br/links/arte22opin-101-arte2-a15.jpg ) ilustra o aumento na proporção de jovens do sexo masculino nessa faixa etária que não trabalha nem estuda. Entre os jovens de 18 anos de idade, por exemplo, essa proporção cresceu três pontos percentuais, passando de 14% em 2001 para 17% em 2009. Isso não é decorrência de uma tendência geral na economia pois a parcela dos sem emprego nem escola reduziu-se tanto para o grupo imediatamente mais jovem (16 anos de idade) como para o mais velho (de 22 anos). O que pode explicar esse fenômeno?
O problema não está só na escolaridade. Em 2001, apenas 20% dos jovens de 18 anos sem emprego nem escola tinham concluído o ensino médio, ao passo que em 2009 essa taxa aumentou para 40%. O problema está na forma como o ensino médio brasileiro é estruturado no Brasil. Os jovens que saem da escola antes de atingir esse nível claramente não acham o ensino atraente.
A grande maioria das escolas oferece o ensino médio tradicional, no qual o jovem aprende todo um rol de disciplinas clássicas, como matemática, física, química e biologia. Muitos jovens não veem utilidade nesse tipo de ensino para sua vida profissional. Assim, preferem sair da escola antes disso. Vale notar que o diferencial de salário entre o ensino médio e fundamental, que era de 40% em 2001, declinou para 28% em 2009, ou seja, fazer o ensino médio tradicional está cada vez menos atraente.
Por outro lado, um aumento salarial de 28% para o resto da vida ainda é substancial, especialmente quando se pode cursar o ensino médio à noite, junto com o trabalho. O problema para os jovens que concluem o ensino médio é que o número de pessoas com essa titulação triplicou no período recente, passando de 1 milhão em 1992 para quase 3 milhões em 2008. E o mercado de trabalho não parece disposto a absorver essa nova geração de concluintes, pelo menos não da forma como o ensino médio está estruturado.
Há evidências de que a demanda no mercado de trabalho hoje em dia está mais voltada para jovens que dominam alguma especialidade como mecânica, marcenaria etc. Por outro lado, a parcela de jovens que aprende ofícios desse tipo em escolas técnicas ou profissionalizantes ainda é muito reduzida.
Assim, há um clássico descasamento entre a oferta e a demanda no mercado de trabalho brasileiro, como explicado pelos ganhadores do último prêmio Nobel de economia. Dessa forma, os jovens saem da escola com o diploma em busca de um emprego, mas não conseguem alcançá-lo, por falta de qualificação e de experiência, acabando sem emprego nem escola.
Mas, por que esses jovens não ingressam no ensino superior? Afinal, o salário médio é bastante superior e o desemprego bem menor entre os graduados. Nesse caso, entram questões financeiras e de interesse pessoal. A maioria dos jovens sem emprego nem escola cresceu em famílias com renda familiar reduzida e frequentou escolas com baixa qualidade de ensino.
Logo, esses jovens não têm recursos para pagar mensalidades, nem potencial para obter boas notas no Enem, o que lhes permitiria obter vagas no ensino superior privado por meio do ProUni, por exemplo. Além disso, o próprio fato de ter estudado a vida toda em escolas com baixa qualidade desestimula a busca por uma faculdade.
Enfim, a solução parece ser oferecer outras possibilidades, além do ensino médio tradicional, para os jovens que concluem o ensino fundamental. Essas modalidades têm que ser voltadas para a profissionalização e alternativas ao ensino médio tradicional, e não complementares como ocorre hoje em dia.
Assim, o jovem não teria que aprender as matérias tradicionais, que ficariam reservadas para os que almejam o ensino superior. Enquanto isso não for feito, a parcela de jovens sem escola nem trabalho tende a aumentar no Brasil.
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