Brasil tem de universalizar o ensino médio, diz Clinton | |
Para ele, isso garantiria que os alunos estariam preparados para o vestibular. Para ex-presidente norte-americano, nível baixo de educação será limitador do crescimento no Brasil. Desde que assumiu, em 2010, o posto de chanceler honorário da Laureate Internacional Universities - um dos maiores grupos de educação privada do mundo, com investimentos de R$ 1 bilhão no Brasil -, o tema da universalização do ensino superior virou uma das bandeiras do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton (1993-2001). No sábado passado, durante breve passagem por Manaus, ele conversou com a Folha com exclusividade, sob a condição de que fossem feitas apenas perguntas sobre educação. Em sua participação no Fórum Mundial de Sustentabilidade, em Manaus, Clinton falou sobre o potencial energético do Brasil. Entre outros temas, pediu desculpas pela crise financeira internacional e declarou acreditar que a ação militar na Líbia levará o país a incertezas políticas. Folha - O sr. acha que o Brasil tem condições de se tornar liderança mundial com ensino público de baixa qualidade? Bill Clinton - No curto prazo, sim, pois vocês são um país grande e já têm 5,5 milhões de estudantes no ensino superior. Não sei quantos diplomas são concedidos por ano, aqui. Mas olha o caso do Egito, um país com mais de 80 milhões de pessoas, quase metade do tamanho de vocês. Houve revolta social, pois eles concedem 400 mil diplomas por ano e queriam que fossem gerados 400 mil empregos por ano no nível de graduação. E isso vocês estão fazendo aqui, mantendo o crescimento econômico. Mas, cedo ou tarde, isso será um limitador. A não ser que vocês consigam fazer com que 98% das crianças do país que estão matriculadas no ensino fundamental cheguem ao ensino médio e vocês tenham a certeza de que elas vão passar no vestibular. Acredito que o Brasil chegará lá. Vocês já provaram. O Brasil é um dos primeiros países, em seu nível de renda per capita, a universalizar o ensino fundamental com o programa Bolsa Escola. Então, o que vocês precisam é universalizar o ensino médio e garantir que esses alunos estejam preparados para o vestibular. Acredito que muito já foi feito nesse sentido. Há as bolsas que permitem aos mais pobres entrar na universidade. Mas é preciso ter certeza de que as pessoas saibam da existência dessas bolsas. Em áreas em que há desproporção no número de pessoas pobres e de famílias que não possuem familiaridade com a universidade, você não pode presumir que só porque há uma lei, ou uma fundação ou corporação que oferecem bolsas, as pessoas vão tomar conhecimento. Folha - Como adaptar as universidades aos desafios do século 21, com novas profissões que estão surgindo? Clinton - Muitos dos empregos do século 21, mesmo nos países desenvolvidos, não vão demandar diploma universitário. Porém, quase todos esses novos empregos serão criados por pessoas que possuem diploma universitário. Logo, quanto mais gente na universidade, maior o potencial de criação de empregos. Isso é muito importante. Folha - Existe um desafio para a educação neste século? Clinton - Sim, mas também acho que um diploma de ensino superior tem um valor que é intrínseco. Você entende melhor o mundo, aumenta seu senso de segurança quando você navega por todas as incertezas do mundo. Um valor que vai além do econômico. Acho que o diploma ajuda a construir um bom senso de cidadania. Folha - O que o Brasil pode aprender com a experiência dos EUA? Clinton - Acho que há duas coisas a aprender. Um, que você pode aumentar o número de matrículas nas universidades se você torná-las mais acessíveis. Com isso, o país vai construir uma classe média muito maior para poder dividir as oportunidades. A segunda é que, quanto mais próspero e quanto mais tempo você fica no topo da renda, mais diverso será o país. A partir de então, vocês vão enfrentar novos desafios no sentido de manter a qualidade do ensino médio. Mas isso é uma coisa que precisa ser trabalhada o tempo inteiro, senão o sistema de ensino superior corre o risco de ficar muito voltado para si mesmo, gastando muito dinheiro em coisas que não são a principal missão e o custo pode sair do controle. (Folha de São Paulo) |
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