27 de junho de 2011 Educação no Brasil | Valor Econômico | The Wall Street Journal | BR Paulo Trevisani Um número crescent de latino-americanos, especialmente no Brasil, está disposto a pagar por educação, e escolas com fins lucrativos nacionais e estrangeiras estão felizes em atendê-los. A maior economia da América Latina é conhecida pelo baixo nível de educação. Segundo um estudo da Unesco divulgado em 2009, o Brasil gerava só 428 formados em faculdades para cada 100.000 habitantes. Outros países da região também têm desempenho ruim nos rankings mundiais de educação. Nos últimos anos, o crescimento econômico aumentou a demanda por mão de obra qualificada, abrindo um caminho para instituições que visam lucro e oferecem mensalidades baixas para jovens trabalhadores que não conseguem entrar nas melhores faculdades mas estão querendo um diploma para crescer na profissão. Críticos avisam que qualidade pode estar sob risco. No Brasil, por exemplo, já houve casos de faculdades com fins lucrativos punidas pelo Ministério da Educação devido ao mau desempenho em testes de qualidade. Mas muitos observadores dizem que as escolas que visam lucro podem ter um importante papel na geração de mão de obra qualificada e podem levar brasileiros de baixa renda a um nivel de emprego melhor. O setor privado vai suprir uma porção cada vez maior do mercado total de educação superior, já que cerca de 80% do orçamento governamental para educação vai para o ensino elementar e médio, deixando pouco para o superior, disse Steven Glass, administrador de carteira da firma australiana de investimentos Hunter Hall International, que tem investido em faculdades privadas no Brasil. A mesma dinâmica se repete, com pequenas diferenças, através da América Latina. Países como Colômbia, México e Argentina também estão tendo forte demanda por trabalhadores graduados. Mas em nenhum outro país a escala é tão grande quanto no Brasil. O Brasil tem um excesso de demanda por educação superior, disse Bob Wettenhall, analista do setor de ensino com fins lucrativos nos EUA para a RBC Capital Markets. Ele vê um interesse crescente entre os atores do setor por expandirem-se no mercado brasileiro, e acrescenta que países como México também podem ser um alvo. Todas [as faculdades americanas que visam lucro] têm finanças fortes e caixa disponível, disse ele. Algumas já entraram na dança. A DeVry Inc., do Estado de Illinois, pagou US$ 40,4 milhões em 2009 por 82,3% da Fanor, de Fortaleza. A companhia americana planeja acrescentar novas instalações e melhorar as existentes no país, disse Steven Riehs, diretor da DeVry para educação internacional e profissional. Ele disse que a empresa também está de olho em possíveis aquisições no México, na Colômbia, no Chile e no Peru, países em que chegamos em segundo em alguns recentes negócios, disse ele. Além da DeVry, a britânica Pearson PLC pagou 326 milhões de libras (US$ 521 milhões) em julho para comprar a empresa paulista de ensino básico e superior SEB, que também licencia métodos de ensino. A Pearson, que tem negócios em várias partes da América Latina, já indicou que o Brasil, junto com a China, é uma de suas maiores prioridades para crescimento. A compra no Brasil foi o maior investimento individual da Pearson no ramo de educação desde 2006, segundo uma porta-voz. Mas apesar desse e de outros negócios, o mercado brasileiro ainda é amplamente visto como fragmentado demais e propenso a consolidar-se. Há mais de 2.000 instituições com fins lucrativos no Brasil, disse Jacqueline Lison, analista do Banco Fator em São Paulo. Ela acha que qualquer uma delas pode ser alvo de aquisição, não apenas por multinacionais mas principalmente por outras escolas brasileiras, especialmente as três de capital aberto: Anhanguera Educacional Participações SA., Estácio Participações S.A. e Kroton Educacional SA. Nós compramos 32 escolas entre 2006 e 2008, disse o diretor-presidente da Anhanguera, Alex Dias, e nosso objetivo é dobrar nossa capacidade até dezembro de 2012. Ele disse que sua instituição tem hoje 55 campus e R$ 1 bilhão em caixa. Dias não espera que os preços dos ativos no setor subam muito, apesar da onda de consolidação. Entre [2006 e 2008], pagamos em média R$ 5.500 por estudante, e desde então a média subiu para R$ 5.700, disse ele. Analistas que cobrem as três instituições negociadas em bolsa estão, de maneira geral, recomendando as ações do setor a invstidores, que estão atentos. Em abril, por exemplo, a Estácio informou à CVM que o fundo de investimento londrino Findlay Park Partners LLP havia acumulado uma participação de 5,19% em seu capital. Outras firmas de investimento de vários países também compraram ações dessas escolas privadas. Dias, da Anhanguera, diz que investidores estrangeiros representam 80% do capital da companhia, embora eles não controlem a maioria das ações votantes. As faculdades privadas oferecem bolsas para estudantes de baixa renda dentro de programas do governo federal que as recompensam com reduções de impostos, o que segundo analistas é um importante elemento das finanças dessas instituições. Paulo Augusto Gomes Costa, de 18 anos, é um beneficiário desse tipo de bolsas. Ele trabalha para uma empresa de alimentos em Abadiândia, GO e está fazendo Ciência da Computação na Faculdade Anhanguera de Anápolis. Ele diz que está muito otimista quanto ao efeito da educação superior sobre suas perspectivas de carreira. Eu planejo usar o que eu aprender pra mudar de emprego, disse ele. Costa paga R$ 292 por mês, o que representa 50% do preço normal, dentro de um dos programas que oferecem corte de impostos à faculdade que dá a bolsa. Segundo o Ministério da Educação, há 472.000 bolsas assim ativas. Os dados mais recentes do governo indicam que em 2009 havia 5,95 milhões de brasileiros matriculados em faculdades, dos quais 74% em escolas privadas, com ou sem fins lucrativos. |
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