21 de junho de 2011

"Faltam pai e amor. Sobra TV", dizem alunos do Rio em documentário




Segunda-feira, 20 de junho de 2011

Relatos integrarão filme produzido pelo projeto Cinema Sem Fronteiras

Os integrantes do projeto Cinema sem Fronteiras estão produzindo um documentário sobre a realidade de alunos de escolas públicas municipais do Rio localizadas em áreas de risco. Eles perguntaram a 40 crianças dos 3º e 4º anos do ensino fundamental o que falta e o que sobra na vida delas. Metade respondeu que faltam "pai", "carinho" e "amor" e que sobram "televisão" e "roupa".

Segundo a psicóloga e professora da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Angela Donato Oliva, essas respostas afastam os alunos dos valores impostos pelo mercado: da busca pelo consumo de bens materiais.

- É como se as crianças conseguissem rebater os valores sociais que o mundo moderno impõe e passassem a valorizar o aconchego e figuras importantes de apego.

As imagens que estarão no documentário que ainda não tem data para estrear foram feitas pelo professor de cinema André Freitas. Ele filmou os alunos dos Cieps (Centros Integrados de Educação Pública) de Irajá e do Borel, na zona norte. As crianças registraram suas carências e mostraram os excessos por meio de desenhos.

- Eles fizeram figuras de coração para mostrar que falta amor, figuras de pássaros para mostrar que precisam de paz e carinho e escreveram a palavra pai. Quando perguntamos o que falta, metade disse que tem muita televisão e roupa em casa.

Algumas crianças disseram que faltam amigos, paz, felicidade, animal, carro, bicicleta e patins. Outras escreveram que necessitam de paciência e da figura da mãe. Uma delas chegou a escrever no papel que tem muitas irmãs e que precisa de dinheiro.

De acordo com Letícia Cannavale, atriz e uma das coordenadoras do projeto, o objetivo do filme é retratar a realidade desses alunos e mostrar a necessidade que eles têm de se expressar. - Nós levamos o projeto às escolas, observamos o que as crianças trazem para nós, criamos um roteiro, filmamos, editamos e produzimos o produto final. Não temos a intenção de analisar e criticar. Nosso objetivo é apenas retratar essas realidades.

Segundo a pedagoga Eloísa Lima, mestre em neurolinguística pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é importante que as escolas promovam discussões sobre o resultado dessas respostas para tentar ajudar os alunos.

- A escola não tem muita coragem de discutir este assunto com as crianças. As pessoas não veem o conceito pedagógico do debate como crescimento pessoal. Isso é necessário para se tomar consciência do que é preciso mudar. Se isso acontecesse, não veríamos tantos casos de . Cinema Sem Fronteiras

O é a frente de atuação audiovisual do coletivo . O objetivo é produzir filmes em lugares diversos e dar oportunidade para as manifestações artísticas já existentes dentro de comunidades de baixa renda do Rio.

O projeto conta com a parceria da Secretaria de Livros e Leitura do Rio. Eles desenvolvem oficinas de cinema em escolas municipais que possuem baixo índice de aprendizagem ou que são localizadas em áreas de risco.

Os produtores audiovisuais já fizeram filmes em Irajá, na Cidade de Deus, no Borel e no Vidigal. Eles também desenvolvem um trabalho na comunidade do Batan e dentro do assentamento rural de Campo Alegre, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que possui o segundo pior índice de desenvolvimento humano do Estado do Rio de Janeiro.



















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