09/06/2011
O projeto anti-homofobia foi suspenso pela presidente Dilma Rousseff, após grande repercussão, mas voltará a ser distribuído
Por Andréa França
dea.franca@bol.com.br
A violência cometida contra homossexuais não é novidade no Brasil. Porém, os números relativos a esses casos, ao contrário de outras estatísticas ligadas à violência, vêm crescendo a cada ano. E mais: o país lidera o ranking mundial de assassinatos contra lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.
Com vistas a reduzir a incidência desse tipo de crime, ações estão sendo promovidas pelos diversos setores da sociedade, a fim de informar e educar a população brasileira quanto à questão da homossexualidade. A mais recente foi tomada pelo governo federal. O chamado kit anti-homofobia – material que o Ministério da Educação promoveu para turmas do Ensino Médio de seis mil escolas públicas – foi lançado mês passado, mas já saiu de circulação devido à grande polêmica gerada.
“Tudo que foi realizado contra a homofobia foi polêmico, principalmente por parte dos religiosos”, afirma Miriam Abramovay, socióloga e coordenadora da Área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais Brasil (FLACSO).
O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou, no entanto, que o material será refeito e redistribuído a partir do semestre que vem. O projeto, batizado de Escola sem Homofobia, foi aprovado por UNESCO, UNE e diversas outras instituições que legitimaram o conteúdo do kit anti-homofobia, composto por uma cartilha e três vídeos.
“O Kit só vai passar por uma revisão, algumas modificações. Mas o projeto, idealizado em parceria com a LGBT, vai ser distribuído sim e a gente já tem o aval do ministério pra isso”, esclarece Leandro Rodrigues, assessor de comunicação e membro do APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo).
Ele informou ainda que a ideia de que o kit seria entregue para crianças foi o ponto-chave da polêmica, segundo ele, incentivada de forma desonesta por políticos da frente conservadora. “Jamais o projeto seria distribuído para crianças. A faixa etária de abrangência é a partir dos 14 anos”.
Cartilha divide opiniões mas agrada especialistas em comportamento humano
Conforme Miriam Abramovay, a explicação para tamanha polêmica não são os vídeos, de conteúdo válido, mas a questão dos princípios vigentes na sociedade brasileira. Segundo ela, nós brasileiros vivemos numa sociedade preconceituosa, em que os valores são muito fechados. Ela também ressalta que o kit chama a atenção para uma questão intrínseca no país: o comportamento homofóbico.
“Nós vivemos numa sociedade onde os parâmetros são heterossexuais. As nossas primeiras pesquisas de violência nas escolas saíram em 2002, quando fazíamos com a UNESCO. Hoje eu sou FLASCO, que na época fazia uma serie de recomendações para que as escolas começassem a trabalhar a questão da homofobia”, conta a socióloga.
O psicólogo Klecius Borges também aprova a iniciativa de prover as escolas com o material. Ele explica que a ideia do Escola sem Homofobia é combater o preconceito por meio da informação e da sensibilização sobre as graves consequências produzidas nos jovens que não se enquadram no modelo heteronormativo.
Para ele, não se trata de conversar sobre a homossexualidade, e sim de mostrar que é preciso respeitar as diferenças, sejam elas de gênero, raça, credo ou orientação sexual. O psicólogo informa ainda que os pais devem responder às duvidas das crianças de acordo com a faixa etária.
“O importante é que a criança seja criada num ambiente onde as diferenças não sejam apenas toleradas, mas também reconhecidas como um valor positivo. Esses valores, se transmitidos desde cedo, irão afetar a forma como o jovem irá mais tarde lidar com a questão da sexualidade”, explica. Klecius Borges conclui explicando que o kit não deve gerar preconceito se for utilizado da forma adequada. “As escolas e os professores, em particular, precisam estar preparados para utilizar o material”, ressalta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário