11 de junho de 2011

Verdade inconveniente : as novas tecnologías e o clima escolar

11 de junho de 201
Novas Tecnologias | O Globo | Opinião | BR
11 de junho de 2011
Novas Tecnologias | O Globo |

CELSO NISKIER

Os tiros disparados na Escola Municipal Tasso da Silveira ecoam até hoje no coração dos que amam a Educação. Salas de aula, ambientes sagrados em que o conhecimento é construído e laços afetivos são forjados, foram profanadas pelo gesto tresloucado de um rapaz suicida. A pergunta que todos se fazem, nesse momento, é dramática: uma tragédia como essa poderia ser evitada?

Não existem soluções fáceis para um problema complexo como esse, que tem origem em uma alma tortuosa e aflita. No entanto, muitos educadores se questionam se o crescimento da violência no ambiente escolar, em especial na sala de aula, pode ser detido. Porte ilegal de armas por estudantes, desrespeito aos professores e bullying são questões que vêm à tona e fazem emergir o que o ser humano tem de pior, justamente em um local acostumado às atividades mais nobres do Homem, que é a escola.

Uma verdade inconveniente é que os nossos currículos escolares são construídos a partir de uma visão competitiva da nossa sociedade. O pressuposto básico é que as competências a ser adquiridas são necessárias para "crescer na vida", "ter sucesso", "ser produtivo". Não se permite aprender nada que não tenha utilidade prática, que não seja "útil", que não gere mais renda e emprego. Ora, por essa ótica educacional utilitária, a necessidade de sobrevivência passa a ser a principal necessidade a ser preenchida por uma educação formal, reduzindo espaços para outras necessidades, como as de convívio social e transcendência.

Infelizmente, não há mais espaços para a convivência, para o desenvolvimento da compaixão, para a compreensão das diferenças individuais e dos valores universais do ser humano. Em um ambiente em que os alunos são estimulados a competir pelas melhores notas, muitas vezes os que têm mais dificuldade são isolados e discriminados, fomentando-lhes a raiva e detonando a sua autoestima. Mesmo alguns professores, com baixa remuneração e sob intensa pressão das constantes avaliações, acabam involuntariamente transmitindo estresse aos seus alunos. Estaríamos construindo fábricas de potenciais assassinos?

Claro que não podemos atribuir somente ao bullying o ato insano do assassino de Realengo, mas certamente temos muito a fazer para que as escolas voltem a ser ambientes de convivência e fraternidade, começando pela revisão dos currículos, valorizando a integração dos conhecimentos, a ética e a solidariedade. Introduzindo práticas de relaxamento, como a meditação, que poderia ser oferecida diariamente, em local próprio, para os interessados. A Ciência recentemente comprovou que alunos mais relaxados aprendem mais e melhor. Poderíamos incentivar também a responsabilidade social entre grupos de estudantes, e nesse ponto as novas tecnologias sociais podem ajudar muito. Seria maravilhoso se o Facebook e o Twitter fossem trabalhados em salas de aula para disseminar iniciativas de transformação social, e não o ódio às diferenças.

Enfim, devemos resistir à tendência de colocar fechaduras em portas que já foram arrombadas, ou, como querem alguns, detectores de metais nas portas das escolas. Devemos trabalhar, sim, os motivos que levam à violência, e criar uma cultura de paz nas escolas, em que o reconhecimento das diferenças seja valorizado e a competição desenfreada da nossa sociedade consumista seja substituída pela cooperação e pela compaixão, centrando os currículos nos valores universais que nos fazem humanos, tão únicos e ao mesmo tempo tão diferentes.

CELSO NISKIER é reitor da UniCarioca.

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