27 de julho de 2011
Educação e Ciências | Gazeta do Povo | Ensino | PR
Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Antonio More/Gazeta do Povo
Aprender conteúdos de Matemática, Português ou Biologia não é suficiente para encarar os desafios do mundo ao redor da sala de aula
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Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Antonio More/Gazeta do Povo
Aprender conteúdos de Matemática, Português ou Biologia não é suficiente para encarar os desafios do mundo ao redor da sala de aula
Essa noção de que a escola tem o dever de transmitir um conjunto organizado de informações e conhecimentos que vão durar para o resto da vida não se sustenta mais. O que os estudantes precisam em termos de educação é mais do que sentar e ouvir o professor discorrer sobre Matemática, Física ou Biologia. Hoje nós temos na ponta dos dedos qualquer informação que desejamos e há outras competências que os estudantes precisam absorver , afirma Eduardo Chaves, que durante mais de 30 anos foi professor de Filosofia da Educação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e atualmente trabalha como consultor do Instituto Ayrton Senna e da Microsoft.
Além do conhecimento formal de Matemática, Português e Biologia, os estudantes devem ter capacidade de: questionamento, comunicação oral e escrita, empreendedorismo, trabalho em equipe e controle emocional. Alguém poderia perguntar o que há de novo em tudo isso? Essas habilidades também não eram desejadas para o século 20 ou para épocas ainda mais distantes? Para Chaves, a resposta é não . Ficamos com a impressão de que essas competências sempre foram necessárias, mas não é verdade. Num passado um pouco mais recente pode ser que sim, mas não com a centralidade que elas têm hoje , afirma.
Empreendedorismo
Um bom exemplo é a importância do empreendedorismo, aqui entendido tanto como a capacidade de abrir o próprio negócio quanto de inovar, de fazer diferente . O estudante do século 21 precisa chegar ao mercado de trabalho consciente de que ter um diploma não é garantia de colocação com carteira assinada. Cada vez mais as pessoas têm de encontrar um jeito de sobreviver sem contar com um emprego fixo, com registro em carteira, que garanta o seu sustento ao longo de 35 ou 40 anos. Mesmo que o indivíduo esteja empregado, muitas vezes ele precisa complementar a renda. As pessoas precisam se virar e muitas vezes criar negócios para suplementar a renda de um emprego ou da aposentadoria , afirma. Por causa dessas características o empreendedorismo se tornou importante , explica Chaves.
Segundo Pedro Demo, Ph.D. em Sociologia e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), estudos mostram que os trabalhadores nos Estados Unidos trocam dez vezes de emprego, em média, até a aposentadoria. Mesmo dentro da mesma empresa, a mudança é cada vez mais comum. Na Finlândia, o trabalhador da Nokia fica só dois anos em uma ocupação e depois muda, para que volte a estudar. É preciso ter capacidade de se renovar constantemente , ressalta. Segundo os pesquisadores, a disposição para questionar e se reinventar deve começar no processo educativo.
Trabalho em equipe
Com a globalização, as pessoas lidam com pessoas de culturas variadas e se confrontam com diferenças muito mais expressivas do que há 50 anos. Por isso, desde a escola, é necessário aprender a conviver de perto com opiniões diversas. O estudante não deve ver as diferenças como desvantagem ou como inferioridade, mas como riqueza do mundo. É importante conviver, sobretudo diante da diversidade , afirma Pedro Demo. Na convivência com o outro, também é importante ter inteligência emocional, ou seja, capacidade de se relacionar bem com as outras pessoas e controlar os próprios sentimentos para não explodir nos momentos mais difíceis.
Segundo Emerson Barreto, gerente de atendimento pedagógico para o segmento de escolas particulares da Aymará Educação, é na sala de aula que o estudante aprenderá a trabalhar e conviver em equipe. Por outro lado, ele ressalta que a escola gasta muito tempo com o ensino de conteúdos conceituais e, por isso, muitas vezes não tem tempo para trabalhar outras competências.
Comunicação
Para trabalhar com outras pessoas, o estudante deve saber se expressar bem. É essencial que ele consiga argumentar e se expor publicamente. Quantas vezes não precisamos fazer uma comunicação oral no nosso trabalho? , questiona Emerson Barreto, da Aymará Educação. Em sua avaliação, porém, somente colocar os alunos para apresentar trabalhos diante da turma não é suficiente para desenvolver essa habilidade. Uma saída interessante, de acordo com ele, seria oferecer aulas específicas de oratória, a exemplo do que ocorre na high school, o ensino médio dos Estados Unidos, nos cursos de speech ( discurso ).
Para Barreto, consumo consciente, educação financeira, preservação ambiental e administração do tempo também são temas importantes que deveriam ser trabalhados em sala. Com esse objetivo, ele afirma que a Aymará lançou neste ano o Programa Escola Inovadora, voltado para alunos da primeira etapa do ensino fundamental de colégios particulares. O programa traz um conjunto de recursos didáticos, para alunos e professores, além de serviços de apoio para as escolas.
Atitude investigativa
O padrão autoritário de ensino já não tem espaço na escola do século 21. Como o conhecimento hoje é extremamente mutante, pelo próprio avanço da ciência e pela facilidade de trocar informações, o professor precisa desenvolver no aluno a capacidade de pensar por conta própria e de pesquisar. O que importa é produzir conhecimento e não transmitir informações, pois para isso basta a internet. O papel do professor é manter o aluno pesquisando , diz Pedro Demo. Além de incluir a pesquisa como parte do método de aprendizagem, a escola deve respeitar o conhecimento do aluno, permitindo (e incentivando) o questionam
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