18 de julho de 2011

A Índia aprende a inovar


18 de julho de 2011
Educação e Ciências | Folha de S. Paulo | The New York Times | BR

TENDÊNCIAS MUNDIAIS INTELIGÊNCIA

RAJEEV MANTRI
Nova Déli
A Índia é vista como centro mundial do trabalho terceirizado e grande centro de produção de medicamentos genéricos. A tecnologia de informação e as empresas farmacêuticas enriqueceram a história indiana, graças a suas reputações de eficiência. Além de gerar centenas de milhares de empregos no país, essas indústrias vêm ajudando a formar uma força de trabalho doméstica que sofre em função de um sistema de ensino superior falho. Mais do que qualquer coisa, os indianos que trabalham nessas empresas se enchem de confiança para começar seus negócios. As sementes da inovação de vanguarda estão deitando raízes na economia indiana.
Durante muito tempo, faltou capital para a economia indiana. Os melhores talentos científicos do país emigravam por não haver oportunidades em casa. Empresas monopolistas constatavam que havia demanda permanente por seus produtos, por causa da escassez artificial gerada pela política governamental e, por essa razão, nunca sentiam necessidade de investir em inovação. Mas as realidades econômicas vêm mudando dramaticamente nos últimos dez anos, à medida que a Índia se transforma em uma economia industrial urbanizada. A competição no mercado e uma base de consumidores dotada de discernimento cada vez maior estão obrigando as empresas a inovar para o mercado doméstico. Um exemplo é a Tata Motors, que produz o automóvel de US$ 2.500 Nano, que mudou o design automotivo de maneira fundamental e inventou novas modalidades de manufatura automotiva.
A turbulência econômica em países desenvolvidos, aliada às políticas de imigração restritivas, vêm tornando a perspectiva de retornar a seu país mais atraente a indianos que vivem no exterior. Vivek Wadhwa, que faz pesquisas sobre inovações, demonstrou que mais de 60% dos indianos que retornam ao país citaram as oportunidades econômicas melhores como a razão principal de sua decisão. Esses indivíduos levam com eles não apenas experiência e habilidades, mas também uma rede cultural e profissional que vem catalisando inovações na Índia.
Vendo a qualidade das pessoas que estão se mudando para a Índia, investidores globais vêm se instalando no país. A Índia nunca antes viu tanto capital financeiro de risco disponível. Mas muitos investidores acham que a Índia ainda é limitada quando se trata de novos produtos e hesitam em apostar em empreendimentos movidos pela inovação. Como empreendedor e capitalista de investimentos na Índia, vejo que meu país se encontra em um momento crítico, de possível virada. A Índia nunca conseguiu realizar seu potencial em comercialização da tecnologia, mas, com a volta de talentos e o surgimento de enorme mercado interno, ela está com impulso para isso.
Constatei que as empresas que geram conhecimento e comercializam pesquisas científicas são capazes de atrair engenheiros e cientistas. Duas companhias nas quais investi incluem indianos que antes viviam no exterior entre seus fundadores.
A Índia pode ser um lugar caótico e difícil para se fazer negócios, ficando em lugares baixos nos rankings do Banco Mundial sobre a facilidade de se fazer negócios. Abrir contas bancárias ou trabalhar com as agências tributárias ou regulatórias do governo implica em pilhas de papelada, uma tarefa que pode se arrastar por semanas. Mesmo assim, faz sentido investir na inovação, devido à eficiência superior de capital da Índia, o que mitiga os riscos financeiros. O economista Niranjan Rajadkyaksha mostrou em "The Rise of India" (a ascensão da Índia) que ela precisa de quatro unidades de capital para gerar uma unidade de produto, enquanto a China consome cinco unidades de capital para uma unidade de produto.
Países que defendem a abertura e a liberdade vão poder competir e prosperar, enquanto aqueles que permanecem ilhados ficarão para trás. Muita coisa falta ser feita para cultivar esse ambiente na Índia. As leis trabalhistas superadas dificultam o desenvolvimento do setor manufatureiro, e o sistema de ensino superior precisa de investimentos grandes para ser ampliado.
A Índia já avançou rapidamente em comparação com seu passado rigidamente socialista, criando condições para maior abertura e liberdade. Um colega mais velho, na casa dos 60 anos, comentou comigo que minha geração de indianos tem sorte por poder construir empresas desde o zero. No passado, a economia indiana era tão rigidamente controlada pelo governo que isso teria sido impossível. O governo pode encorajar o empreendedorismo, fazendo com que seja mais fácil dirigir negócios, melhorando o acesso a recursos financeiros e investindo pesado em infraestrutura.
A Índia não precisa ser apenas o escritório dos fundos do mundo. Pode também ser seu motor de inovações.

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