4 de julho de 2011

Sob o Medo de Educar,Perda de limites:violencias nas escolas


Correio Brasiliense, 04 de julho de 2011





Em Samambaia, dois professores vivem diariamente essa realidade. Ana Maria Brito e Dilton Ávila lecionam português no Centro de Ensino Fundamental 507 há cinco e três anos, respectivamente. "Parece que os pais se perderam. Ora permitem demais, ora esquecem demais, ora nos criticam por tentar nos aproximar", lembra a professora. Para ela, além disso, tanto as escolas públicas quanto as particulares, assim como a Secretaria de Educação, estão despreparadas para atender esse tipo de crise. "Não há assistência para as partes quando a crise se instala. O aluno não conta com acompanhamento especializado, psicológico ou mesmo educativo, para discutir suas necessidades e dificuldades. Acaba que as famílias dependem de uma estrutura precária para auxílio na educação desses jovens. A violência contra o professor também parece velada esquecida. A quem recorrer? Parece que só cabe à Justiça ou ao sistema de saúde, em casos extremos, nos afastar do problema.
O que deveria ser prevenido na raiz, na minha opinião", questiona a educadora.
Segundo Ana Maria, o resultado, nesses casos, é o simples adiamento do problema, que sempre vai explodir. Ela já foi agredida por um aluno transtornado em seu primeiro ano na escola, mesmo após anos de dedicação. "Ele se sentiu agredido por ser repreendido. Bastou que eu olhasse com olhos de reprovação para que ele lançasse para mim, com um chute, uma carteira. O choque foi demais. É terrível imaginar que um aluno seu seja capaz de querer feri-lo", lembra a professora. Para Dilton, cada dia na sala de aula é um desafio para o professor. "É como diz a música: andar com fé eu vou, a fé não costuma falhar. Medo, nós sempre temos, mas não adianta pensar no próximo problema que pode acontecer - o próximo aluno drogado, a próxima briga ou xingamento. Temos que nos esforçar por aqueles que ainda acreditam nos estudos, no nosso carinho e dedicação", afirma.





Fernanda* é professora de artes há mais de 20 anos. Ao longo de sua carreira, deu aulas para crianças, jovens e adultos, a maioria em escolas da rede pública. A dedicação pelo trabalho, sempre impecável, encorajava a educadora de 48 anos a passar cada vez mais tempo em duas instituições de Ensino Fundamental, em Sobradinho, onde lecionou durante o ano passado. Em uma delas, escola rural localizada na Fercal de Sobradinho 2, chegou a assumir a coordenação no período noturno. O trabalho durou menos de um mês. Sem a presença de outros membros da direção, Fernanda assumia a responsabilidade sobre os alunos - assim como sobre suas brigas. Esforçando-se para amenizar conflitos da escola, não tardou para que os desentendimentos passassem a envolver também a professora. Insatisfeito com a postura de Fernanda, um jovem deixou claro que ela não é bem-vinda: "Se liga! Eu vou te matar!", era a resposta escrita pelo aluno em uma prova recolhida por ela.

Ela abdicou do novo cargo e fez várias tentativas para sair da escola. "Os colegas afirmavam que o aluno que me ameaçou não seria capaz de nada e que eu não deveria me preocupar. Mas estava se tornando impossível, essa era a gota dágua de vários outros problemas", lembra. A preocupação passou a tomar conta também das horas em que a professora passava longe da escola. "Os alunos não se importavam. A direção tampouco. Onde fica a motivação do professor se, até ao pensar em ir trabalhar, eu me sentia infeliz?". A falta de apoio e a tensão nos dois empregos levaram Fernanda aos primeiros sintomas da depressão. "Eu não dormia bem, não queria dar aula, só pensava em me afastar", relembra.
Ela conseguiu, por fim, ser removida da escola. Outros não tiveram ainda a mesma sorte. A psiquiatra Ana Paula Hecksher Faber afirma que, por isso, aumenta o número de educadores que buscam auxílio em seu consultório.
"Muitos professores afastados do trabalho por depressão relatam que se sentem melhor em casa, como se o problema já não existisse. Esse medo retorna logo que ele é submetido aos corredores da escola, sem explicação. A crise é desencadeada pela simples lembrança de corrigir uma prova ou num domingo a noite, ao pensar na semana de trabalho", explica.
"O professor que é submetido a um ambiente de constante pressão e violência acaba adoecendo ou perdendo a afetividade com a profissão"", afirma. "Alguns respondem a isso com o forte sentimento de infelicidade ou com a agressividade, multiplicando a violência." Segundo a profissional, a falta de estrutura das escolas limitam o professor e acabam por influenciar em seu estado emocional. "Ele se sente desmotivado e não vê saída para seu problema", explica Paula. "Os professores, muitas vezes, são obrigados a assumir a falta da família, os problemas pessoais do aluno.
Estando sozinho, isso se torna uma tarefa impossível."

Em maio, um jovem de Curitiba foi preso por agredir verbalmente o vice-diretor da escola de ensino médio onde estuda: Adalto da Cruz da Luz, de 20 anos, é aluno do 2 º ano do ensino médio de uma escola pública e xingou diversas vezes Clédison Gama, que afirma ter tentado dialogar com o estudante. No mesmo dia, uma outra discussão em uma escola estadual em Salvador terminou mal da mesma forma. Alunos acusam um professor de agredir um estudante de 14 anos com um soco. O motivo? Uma caixa de som ligada durante o recreio. O professor Lázaro Esteves dos Santos negou a agressão e disse ter sido ameaçado pelo estudante. No ano passado, o estudante Amilton Loyola Caires, de 23 anos, matou a facadas o professor de educação física, Kássio Vinícius Castro Gomes, de 39, dentro do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. O crime aconteceu na noite de 7 de dezembro, quando Loyola acertou o professor no tórax sem dizer nada ou dar chance de defesa.
Uma simples avaliação negativa de um trabalho escolar seria o motivo da agressão. Em Brasília, casos desse tipo já abalaram pais, alunos e educadores. Em junho de 2010, uma professora foi presa por amordaçar e amarrar uma criança de 6 anos a uma cadeira dentro da sala de aula na Escola Classe Jardim Botânico











Fernanda* é professora de artes há mais de 20 anos. Ao longo de sua carreira, deu aulas para crianças, jovens e adultos, a maioria em escolas da rede pública. A dedicação pelo trabalho, sempre impecável, encorajava a educadora de 48 anos a passar cada vez mais tempo em duas instituições de Ensino Fundamental, em Sobradinho, onde lecionou durante o ano passado. Em uma delas, escola rural localizada na Fercal de Sobradinho 2, chegou a assumir a coordenação no período noturno. O trabalho durou menos de um mês. Sem a presença de outros membros da direção, Fernanda assumia a responsabilidade sobre os alunos - assim como sobre suas brigas. Esforçando-se para amenizar conflitos da escola, não tardou para que os desentendimentos passassem a envolver também a professora. Insatisfeito com a postura de Fernanda, um jovem deixou claro que ela não é bem-vinda: "Se liga! Eu vou te matar!", era a resposta escrita pelo aluno em uma prova recolhida por ela.
Ela abdicou do novo cargo e fez várias tentativas para sair da escola. "Os colegas afirmavam que o aluno que me ameaçou não seria capaz de nada e que eu não deveria me preocupar. Mas estava se tornando impossível, essa era a gota dágua de vários outros problemas", lembra. A preocupação passou a tomar conta também das horas em que a professora passava longe da escola. "Os alunos não se importavam. A direção tampouco. Onde fica a motivação do professor se, até ao pensar em ir trabalhar, eu me sentia infeliz?". A falta de apoio e a tensão nos dois empregos levaram Fernanda aos primeiros sintomas da depressão. "Eu não dormia bem, não queria dar aula, só pensava em me afastar", relembra.
Ela conseguiu, por fim, ser removida da escola. Outros não tiveram ainda a mesma sorte. A psiquiatra Ana Paula Hecksher Faber afirma que, por isso, aumenta o número de educadores que buscam auxílio em seu consultório.
"Muitos professores afastados do trabalho por depressão relatam que se sentem melhor em casa, como se o problema já não existisse. Esse medo retorna logo que ele é submetido aos corredores da escola, sem explicação. A crise é desencadeada pela simples lembrança de corrigir uma prova ou num domingo a noite, ao pensar na semana de trabalho", explica.
"O professor que é submetido a um ambiente de constante pressão e violência acaba adoecendo ou perdendo a afetividade com a profissão"", afirma. "Alguns respondem a isso com o forte sentimento de infelicidade ou com a agressividade, multiplicando a violência." Segundo a profissional, a falta de estrutura das escolas limitam o professor e acabam por influenciar em seu estado emocional. "Ele se sente desmotivado e não vê saída para seu problema", explica Paula. "Os professores, muitas vezes, são obrigados a assumir a falta da família, os problemas pessoais do aluno.
Estando sozinho, isso se torna uma tarefa impossível."

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