25 de agosto de 2011 Educação no Brasil | Correio Braziliense | Opinião | BR
»WANDA ENGEL Superintendente-executiva do Instituto Unibanco Apesar da crise internacional, vivemos um momento de grande otimismo. Crescimento com diminuição da desigualdade parece um sonho que vai se tornando realidade. A consolidação desse sonho depende, entretanto, do aumento da escolaridade de nossa juventude. O nível de competitividade global de um país depende da capacidade de garantir que seus jovens acessem, permaneçam e concluam o ensino básico. Infelizmente, estamos mal na foto. O nível médio de escolaridade de jovens entre 18 e 24 anos é de apenas 9,2 anos. Nossa juventude apenas completa o ensino fundamental. Talvez o dado mais alarmante é que somente metade dos jovens que chegam ao ensino médio consegue concluí-lo. Já nos falta o capital humano para o crescimento econômico sustentável. Por seu lado, só conseguiremos efetivamente quebrar o ciclo reprodutivo da pobreza aumentando as oportunidades educacionais dos jovens pobres. Os programas de transferência de renda se tornaram importantes para reduzir a pobreza em longo prazo ao incluírem condicionalidades no campo da educação das crianças. A sua extensão a famílias com filhos de 15 a 17 anos parece ser um caminho a mais curto prazo, mas, ao direcionar a bolsa às famílias, pode não ser capaz de alterar a disposição do jovem de permanecer na escola. O fato é que a saída da pobreza depende hoje de que o jovem pobre termine o ensino médio e tenha a oportunidade de inserção no moderno mercado de trabalho, rompendo o ciclo intergeracional de pobreza. O grande desafio do país, tanto em função do crescimento econômico quanto da redução da pobreza, é o de estancar a sangria que afeta nosso ensino médio. Para isso, é urgente nos aprofundarmos nos fatores que empurram os jovens para fora da escola. Sem a possibilidade de analisar o conjunto de fatores intra e extraescolares responsáveis pelo abandono, vou me deter no absoluto divórcio entre educação e trabalho. Isso parece ser fatal numa escola de jovens que têm, como principal preocupação, a identificação de possibilidades de renda que possam satisfazer as "necessidades básicas" geradas por nossa sociedade de consumo. Parece haver um consenso de que o caminho seja estender a profissionalização para todo o ensino médio. A primeira constatação é que apenas 9% das vagas são destinadas a algum tipo de profissionalização. Assim, chegar à totalidade seria demorado e oneroso. A questão é se seria desejável. Nos países em que a profissionalização é tratada com seriedade, a cobertura beira os 30%. No passado, já tivemos experiência com o ensino médio obrigatoriamente profissionalizante que foi um desastre. Na tentativa de avançar na questão, as novas Diretrizes Nacionais Curriculares para o EM propõem diversificar as modalidades, incluindo Ensino Médio Integrado, que conjuga o ensino regular com educação profissional e estendendo essa opção para a Educação de Jovens e Adultos. Para os atuais 90% de ensino propedêutico, existe apenas uma vaga indicação de que a integração entre educação e trabalho deva ser uma das bases da proposta curricular. O "como" é que é o problema. Poderíamos pensar, em primeiro lugar, ter um componente curricular sobre introdução ao mundo do trabalho, no qual, além da elaboração de um projeto de vida, seriam abordadas questões referentes a habilidades, competências, atitudes e conhecimentos requeridos pelo mercado de trabalho. Meu temor quanto a essa sugestão é o de engarrafar ainda mais um currículo que já tem de suportar 14 componentes obrigatórios e mais seis transversais. Teríamos de incluir também experiências de trabalho concreto para nossos jovens. Nesse sentido, a única proposição é o estágio, mais afeito à própria educação profissional. Por que não importarmos do ensino superior a ideia da monitoria? Sendo monitor nos laboratórios de informática ou de ciências, nas bibliotecas ou nos ginásios esportivos, os jovens teriam a oportunidade de vivenciar, no ambiente escolar, uma situação de trabalho, criando vínculos mais fortes com sua escola e ganhando um dinheirinho para suas "necessidades básicas". Outra opção seria a Lei do Aprendiz, a partir da segunda série do ensino médio, em contratos de apenas 4 horas, para não haver a necessidade de estudar no noturno. Como esses contratos são de aproximadamente 2 anos e o jovem não pode abandonar a escola, a conclusão estaria garantida. O desafio é grande, mas uma coisa é certa: se quisermos garantir a onda positiva de crescimento econômico com redução da pobreza, teremos de descobrir estratégias que garantam a nossos jovens a conclusão do ensino médio - e isso depende de restabelecermos o elo perdido entre educação e trabalho. |
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