26 de agosto de 2011 Educação e Ciências | Valor Econômico | Internacional | BR Protestos estudantis não são novidade no Chile. As manifestações que tomaram conta do país, porém, junto com uma greve geral de dois dias e greves de fome agora em sua sexta semana, não são mera arruaça juvenil. Neste país, amplamente considerado um modelo, os protesto desnudam uma profunda crise de legitimidade. O sistema educacional é uma mancha na história do êxito econômico chileno. Embora um crescimento quase ininterrupto desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet tenha melhorado a vida de todos, praticamente não modificou a intolerável desigualdade no país. A promessa era de que, por meio de educação, os jovens pobres passariam a ter acesso às oportunidades negadas a seus pais. Essa é uma promessa que o sistema educacional chileno notoriamente ruim está longe de satisfazer. Não porque dependa tanto de instituições privadas, mas porque o Estado gasta menos com o ensino superior, público ou privado, do que qualquer outro país na Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento (OCED). Em consequência, muitos alunos terminam (seus estudos) superendividados, ao passo que má supervisão permite que os estabelecimentos de ensino, tanto públicos como privados, proporcionem uma formação de baixa qualidade que rende escassos retornos no mercado de trabalho. Isso tudo é indiscutível. O governo do presidente Sebastián Piñera concordou com a maioria das exigências por mais verbas e melhor qualidade do ensino. Mas o fato de não ter conseguido acalmar os protestos antes que chegassem a esse ponto de ebulição revela incompetência política de Piñera: da popularidade recorde, após o salvamento dos mineiros no ano passado, sua aprovação caiu para um nível inferior ao de qualquer presidente chileno eleito antes dele. Mas ele não é o único que pode ser culpado. A classe política inteira não conseguiu fazer seu trabalho. A exortação dos manifestantes por um referendo sobre a política educacional - apoiada por irresponsáveis legisladores da oposição, revela uma crise de representação política. O país continua sendo governado por elites - da direita e da esquerda - cuja capacidade para canalizar as prioridades populares é vista com desconfiança por muita gente. E com boas razões. O campo político chileno está travado - institucionalmente, por regras eleitorais que cristalizam um impasse entre dois blocos; psicologicamente, por ódios decorrentes do golpe de 1973. Concebidos para salvaguardar o programa social e econômico de Pinochet, essa fossilização esvaziou a representatividade das instituições estatais. Essa crise não terminará com a volta às aulas. Sua solução exigirá uma reforma eleitoral, talvez até mesmo um processo constituinte mais amplo. Os problemas chilenos mostram que sua transição permanece incompleta - crescimento econômico contínuo não é suficiente para por fim às divisões sociais. |
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