28 de agosto de 2011 Educação no Brasil | Folha de S. Paulo | Opinião | BR Editoriais editoriais@uol.com.br Pesquisa sobre nível de alunos no ensino básico mostra desigualdade alarmante entre escolas públicas e particulares Depois de três anos na escola, a maioria das crianças brasileiras não sabe calcular o troco, desconhece a diferença entre um triângulo e um retângulo, não identifica o tema de um texto simples e é incapaz de ler as horas. Ler as horas, diga-se de passagem, não num relógio comum. Seria exigir demais. A incapacidade se verifica diante do mostrador de um relógio digital. Tempo perdido, portanto: a frase, talvez excessivamente dramática, aplica-se ao que acontece nas salas de aula de grande parte das escolas do país, num período crucial para a aquisição de habilidades básicas na leitura, na escrita e na aritmética. É o resultado a que chegou uma pesquisa em 250 escolas brasileiras, públicas e particulares, realizada pelo movimento Todos pela Educação. A chamada Prova ABC avaliou 6.000 alunos que concluíram o 3º ano (antiga 2ª série) do ensino fundamental, em todas as capitais do país. São crianças que em geral têm 8 anos de idade. Mais do que as deficiências substantivas constatadas na pesquisa, é o abismo entre alunos de escolas públicas e particulares o que chama a atenção. Nas escolas pagas, 3/4 das crianças atingiram os resultados esperados em matemática; a porcentagem reduziu-se a 43% entre os alunos da rede pública. Disparidades gritantes também se manifestaram nos testes de leitura (79% contra 49%) e de escrita (82% contra 53%). Há também diferenças conforme as regiões do país. No Sudeste e no Sul, o índice de desempenho satisfatório dos alunos é superior (respectivamente, 63% e 64%) ao do Nordeste (43%) e ao da região Norte (44%). Em todas as partes do país, entretanto, o hiato entre escola pública e privada constitui o dado mais impressionante da pesquisa. Apenas um exemplo. Na região Sudeste, 81% dos alunos de escolas particulares foram bem em matemática. Na rede pública, a proporção cai para 37%. Confirma-se, é claro, a constatação de que o Brasil tarda a enfrentar o desafio que se segue ao processo, bem-sucedido, de universalização do ensino básico. Garantido o acesso ao ensino fundamental, falta fazer com que se torne, de fato, ensino. Não é apenas o aluno que marca passo, diante do absenteísmo e da má remuneração dos professores, da carência de material escolar e de orientação pedagógica adequada. É o país inteiro, que se gaba de avançar rumo ao grupo das potências econômicas mundiais, que arrasta, no plano da qualificação da mão de obra e da formação dos cidadãos, o peso de seu passado. | |
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