26 de setembro de 2011 Educação no Brasil | O Globo | O País | BR
EDUCAÇÃO Dados de 11 países da América Latina revelam que evasão e baixo aprendizado são maiores nesse nível O ensino médio encabeça as muitas urgências educacionais da América Latina. É nessa fase da vida escolar que se dão as maiores taxas de evasão e repetência, as principais deficiências de aprendizado e os mais graves problemas relacionados a currículos desatualizados e pouco afins à realidade sociocultural dos adolescentes. Esse é o quadro que emerge depois de analisados dados de 11 países da região, reunidos pelos jornais que compõem o Grupo de Diários América (GDA), O GLOBO entre eles. Com diferentes ímpeto, velocidade e eficácia, governos latino-americanos têm levado a cabo tentativas de reformas e melhorias na qualidade da escola secundária. Na maioria dos países os resultados são parciais ou pouco visíveis, num cenário que evidencia desigualdades sociais, econômicas e regionais. Chamam a atenção as diferentes avaliações, nacionais e internacionais (como o Pisa, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, a OCDE), das quais a maioria dos países participa, com resultados muito díspares - e quase sempre insuficientes. O próprio uso dessas provas varia bastante: enquanto alguns difundem publicamente os resultados e os usam como referência para suas próprias avaliações, caso de Brasil e Chile, outros os criticam, caso da Argentina. Desigualdades sociais e econômicas contribuem para o problema. Na Colômbia, o número de matrículas subiu 20% na última década, mas 428.302 jovens estão fora do sistema, sobretudo em função da necessidade de trabalhar. No México, a cobertura da escola secundária cresceu de 48% para 66% em dez anos, mas só 45% dos jovens de 19 a 24 anos concluíram esse nível, o que coloca o país abaixo de Chile (80%), Venezuela (62%) e Brasil (57%). - Há mais de sete milhões de jovens mexicanos que não estudam ou trabalham. Sete em cada dez não conseguem cursar uma faculdade, e há mais de 550 mil jovens analfabetos - disse o reitor da Universidad Nacional Autónoma de México (Unam), José Narro Robles. Estar na escola nem sempre assegura o aprendizado: ainda no México, depois de permanecer 12 anos no sistema educativo, 80% dos jovens só sabem fazer operações matemáticas básicas, e metade tem níveis baixos de leitura, índices similares aos verificados no Brasil. Muitos países começaram, nos últimos anos, a propor reformas para o ensino médio. Na Argentina, está em marcha o plano "Secundaria para todos", que visa a reformular os conteúdos das matérias, institui a figura dos tutores para acompanhar o rendimento dos alunos e integra atividades esportivas, artísticas e comunitárias à escola. Avaliações geram polêmica Historicamente, a maioria dos conflitos entre sindicatos de docentes e governos se deu por conta dos baixos salários. Nos últimos anos, porém, os problemas se relacionam a iniciativas oficiais para avaliar os professores e vincular seus salários e sua mobilidade aos resultados. É o caso do Peru, onde as primeiras provas, a partir de 2008, mostraram que metade dos professores não conseguia fazer cálculos aritméticos simples. Este ano, só 11% foram aprovados. No Brasil, não há avaliações para docentes, mas o governo federal planeja implementar uma prova já em 2012. Atualmente, alguns benefícios dos professores são vinculados ao desempenho dos alunos em estados como Rio de Janeiro e Pernambuco. Na Argentina, onde o salário do professor se define por tempo de carreira, e os sindicatos são reativos à ideia das avaliações, o governo não pensa em instituí-las por enquanto. Em todo caso, o magistério continua a ser uma profissão de baixa valorização social na região. No Uruguai, metade dos que ingressam nos institutos de formação fracassou antes em carreiras universitárias. As matrículas em cursos de formação de professores caíram 30% nos últimos três anos. Em Porto Rico, um estudo revelou que só 24,9% dos professores estão satisfeitos com seu salário e apenas 11,1% creem que a sociedade valoriza seu trabalho. Para compensar, no Chile, a ex-presidente Michelle Bachelet criou em 2009 a prova Inicia, um diagnóstico voluntário do nível de preparação dos bacharéis em Pedagogia que deve se tornar obrigatório, com impacto no salário inicial dos professores da rede pública. Este ano estreou um programa de bolsas para alunos de Pedagogia. A medida se diluiu na onda de protestos por melhor educação que sacode o país há dois meses. Já há alguns anos, o conceito de qualidade educativa se tornou prioridade para especialistas e profissionais ligados ao ensino. Por isso, as medições que refletem melhoras ou diagnosticam problemas são uma constante no debate. O uso que se faz delas, porém, varia. O Brasil, por exemplo, criou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que tem escala de 1 a 10 e se calcula assim: metade da nota provém das provas nacionais de avaliação de leitura e matemática; a outra, do índice de aprovação dos alunos no final do ano letivo. A meta do MEC para 2021 é um Ideb 6, média dos países da OCDE no Pisa 2003. Em 2009, o Ideb para os primeiros anos do ensino fundamental foi 4,6. A maioria dos países tem avaliações de rendimento. Em Porto Rico, segundo a lei norte-americana "No child left behind" (algo como nenhuma criança para trás), há uma prova padronizada de progresso acadêmico dos alunos. Cada escola que não cumpre suas metas entra num plano de melhorias levadas a cargo por empresas privadas. Já na Venezuela, a última avaliação ocorreu há sete anos, e os resultados não foram divulgados. |
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