Na quarta feira dia 26 de outubro serão publicados, finalmente, os resultados dos trabalhos do grupo de estudos sobre educação infantil instituido pela Academia Brasileira de Ciências em 2008 com a participação de especialistas em neurobiologia, economia e psicologia do desenvolvimento cognitivo. A publicação coincide com um seminário internacional sobre a experiência internacional e brasileira em aprendizagem infantil, realizado conjuntamente pela Academia e a Fundação Getúlio Vargas, cujos detalhes estão disponíveis aqui. A evidência analisada pelo grupo de trabalho, resumida no texto abaixo, não deixa dúvida quanto à importância do desenvolvimento cognitivo dos primeiros anos no desempenho das pessoas ao longo da vida, dos benefícios econômicos dos investimentos nestes primeiros anos, e da importância dos métodos de alfabetização baseados no desenvolvimento da consciência fonológica por parte das crianças. Dois desdobramentos importantes não analisados pelo grupo decorrem destas conclusões, e requerem aprofundamento. Primeiro, a educação infantil e pré-escolar se expandiu muito no Brasil na última década, mas sem mecanismos de acompanhamento e garantias de qualidade, e absorvendo recursos que talvez fossem melhor utilizados em outros níveis mais estruturados. Além de consumir recursos, existem evidencias de que educação infantil e pré-escolar de má qualidade pode ter efeitos danosos sobre as crianças. Qualquer política de expansão deste nível educacional deve estar centrada e apoiar ao máximo o relacionamento das mães com seus filhos, e zelar pela qualidade das creches e escolas. Segundo, o que fazer com o grande estoque de jovens que não tiveram os estímulos e as oportunidades de uma boa educação nos primeiros anos, e que hoje mal conseguem terminar o ensino médio? As evidencias dos trabalhos de Heckman e outros mostram que os custos de recuperação escolar desta população no currículo convencional pode ser demasiado alto, e os resultados, duvidosos. Este é um forte argumento para a necessidade de pensar em caminhos alternativos e diversificados de estudo sobretudo a partir do ensino médio, proporcionando as competencias cognitivas e não cognitivas que possam ser adequadas para os diversos segmentos da população. Sumário das conclusões e recomendações do Grupo de Trabalho sobre Educação Infantil O PROBLEMA • O desempenho educacional das crianças brasileiras é muito inadequado. Resultados da Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização, a Prova ABC, avaliação do movimento Todos pela Educação divulgada em agosto de 2011, mostram que 57,2% dos estudantes do terceiro ano do ensino fundamental, o que corresponde a antiga segunda série, não conseguem resolver problemas básicos de matemática, como soma ou subtração. Resultados semelhantes são encontrados na avaliação dos estudantes brasileiros no Programa International de Avaliação de Estudantes da OECD, PISA. • Dificuldades de linguagem são associadas às de processamento matemático e de lógica. Falhas na alfabetização dificultam a incorporação de conhecimentos importantes para o desenvolvimento profissional. • Embora o número de alunos no ensino médio venha aumentando de forma significativa nos últimos 20 anos, menos de 60% dos jovens de uma coorte conseguem concluí-lo, porém este número tem se estabilizado. Uma fração ainda menor ingressa no ensino superior. CAUSAS • Parte do problema se deve tanto à falta de recursos e má utilização destes, quanto à ausência de uma política nacional eficaz de atração, seleção e retenção de melhores professores. Outra parte ao descompasso entre as políticas específicas de atenção às crianças (antes da escola e na alfabetização) e as recomendações que decorrem de evidência científica internacional. • De acordo com a neurobiologia, sabe-se que o desenvolvimento mais acentuado da estrutura cerebral (volume e maturação cerebral e, notadamente, sinaptogenese) ocorre nos primeiros anos de vida. Consequentemente, este é um período sensível para o desenvolvimento das habilidades envolvidas no processo de aprendizagem da linguagem. Eventual atraso na estimulação dessa habilidade poderia implicar perda do melhor momento para o desenvolvimento do reconhecimento da relação grafema-fonema, tão importante para a leitura, no futuro, de palavras desconhecidas. Este fato tem sido ignorado na formulação de políticas públicas de educação. • Essa evidência se complementa pelos estudos em economia que mostram a grande rentabilidade de investimentos que ocorrem na mais tenra idade e produzem habilidades, que são utilizadas para acumulação de outras habilidades (“habilidade produz habilidade”). Por exemplo, é muito difícil formar um engenheiro que não tenha desenvolvido habilidades básicas de álgebra. Estudos recentes mostram que investimentos que ocorrem entre os três e quatro anos de idade têm uma taxa de retorno de 17% ao ano, enquanto alguns programas de recuperação tardia apresentam retornos que são nulos e muitas vezes negativos (custo maior do que o benefício). RECOMENDAÇÕES Atenção à infância: é importante investir na educação durante os primeiros anos
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