8 de novembro de 2011

Professor mal pago:Editorial, Folha de São Paulo

Editoriais

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Há três anos, aprovou-se no Brasil legislação federal que estabelece um piso para o salário do magistério, hoje estipulado em R$ 1.187. No ensino básico, segundo pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo, a remuneração situa-se, em média, na faixa entre R$ 1.404 e R$ 1.603 -computadas escolas públicas e privadas.
Diante desses valores, não surpreende que professores do ensino básico, de acordo com o mesmo estudo da USP, busquem outras atividades para complementar seus vencimentos.
O que chama a atenção, na realidade, é a fatia relativamente exígua dos que recorrem aos "bicos" na tentativa de ganhar um pouco mais -cerca de 10% do professorado da educação fundamental.
É fato que a renda desses docentes situa-se no mesmo patamar médio da auferida pelos trabalhadores brasileiros. Sendo assim, é possível argumentar -como fez um pesquisador em reportagem publicada ontem por esta Folha- que os salários do magistério podem não ser "uma maravilha", mas os professores "não estão morrendo de fome".
Não deixa de ser um alívio que os responsáveis pelas primeiras letras das crianças brasileiras não corram risco de inanição, mas isso parece muito pouco num país que deverá terminar 2011 como a sexta maior economia do mundo.
Especialistas consideram, não sem razão, que a melhoria da qualidade do ensino básico não depende apenas de salário. Há, de fato, iniciativas que poderiam ajudar a tirar o país das últimas colocações que costuma ocupar em testes internacionais -como o aperfeiçoamento da gestão escolar, a ampliação dos turnos e o investimento na qualificação dos professores.
Mas não há dúvida que medidas como essas ganhariam em eficácia se o professorado fosse mais bem pago e, em contrapartida, submetido a mecanismos de avaliação.
Se o Brasil pretende tornar-se uma nação desenvolvida -e não apenas um grande mercado consumidor-, é indispensável investir na valorização dos professores.
Os exemplos de países que deram saltos ao transformar o ensino em prioridade nacional são eloquentes. Baixos salários afastam da carreira os melhores quadros e são um desestímulo para o aperfeiçoamento profissional.

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