Desejo de uma cidade mais segura se destaca entre pedidos dos leitores. Para gestores públicos, desafio é frear estatísticas de criminalidade
As estatísticas da violência no Paraná e principalmente em Curitiba assustam. Muito mais do que meros números, as taxas de homicídios que colocam o estado como o nono mais violento do país se traduzem numa sensação de insegurança palpável que restringe direitos básicos, como o de ir e vir. Não à toa, os leitores da Gazeta do Povo elegeram a construção de uma Curitiba mais segura como a segunda prioridade para 2012 atrás apenas do pedido por políticos mais honestos e compromissados.
O consenso mostrado entre os leitores quanto à necessidade desse presente é resultado de um cenário que, se não é novo, atingiu patamares insustentáveis neste ano. O Mapa da Violência 2012, divulgado neste mês pelo Instituto Sangari, coloca Curitiba na sexta posição entre as capitais mais violentas do país, com uma taxa de 55,9 homicídios por 100 mil habitantes. Somente de janeiro a setembro, Curitiba registrou 562 assassinatos, segundo balanço da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). Em tese, é como se não tivesse passado um dia neste ano em que pelo menos duas pessoas caíram mortas vítimas da violência na capital.
No entanto, em meio às más notícias, também há espaço para otimismo, mesmo que ele seja ainda alardeado tão-somente pelos gestores públicos. A tendência no número de homicídios é de queda, já comprovada em relação ao ano anterior. Principal bandeira até então do governo Beto Richa, o programa Paraná Seguro foi lançado neste ano com metas ousadas, como investir R$ 2 bilhões em segurança pública até 2015 para diminuir, ano a ano, a taxa de assassinatos por 100 mil habitantes em todo o estado.
A expectativa em relação aos frutos desse esforço é grande. Ao lado da população, os próprios agentes de segurança aguardam resultados concretos, defendendo principalmente duas demandas: reforço no efetivo policial e retirada dos presos das delegacias. O maior desafio parece ser mesmo esse último. Hoje, o Paraná é o estado com mais detentos mantidos irregularmente em carceragens. Dos 50,5 mil presos custodiados nas delegacias de todo o Brasil, cerca de 16 mil estão distribuídos entre as unidades paranaenses.
Se o governador otimizar os recursos da polícia e tirar os presos das delegacias, a nossa contrapartida será dada. Queremos fazer o nosso trabalho, ir pra rua, fazer investigação, elucidar os crimes. Sem isso, 2012 será um ano igual ou pior do que 2011 , defende o presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia do Paraná (Sipol), Roberto Ramires.
E a população?
Para o coordenador do Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada da Universidade Tuiuti do Paraná, Algacir Mikalovski, o fato de a Sesp ter estabelecido metas objetivas para a diminuição dos homicídios é sinal suficiente para aguardar mudanças positivas a curto prazo. O pesquisador, porém, lembra que a busca por mais segurança não deve ser prioridade só do setor público. O mesmo cidadão que está reclamando da polícia está comprando cigarro contrabandeado e DVD pirata, financiando a ponta duma criminalidade que tem um braço na violência , afirma Mikalovski.
Pequenos, mas atentos
Os críticos mais contumazes da mídia e do entretenimento digital ou videogames, pra usar um termo popular costumam destacar o papel negativo da exploração da violência junto aos jovens espectadores e jogadores. Se, de fato, hoje é comum encontrar crianças que já não arregalam os olhos ao ver um personagem irromper em sangue na tela, é preciso reconhecer que nenhuma violência fictícia deixa lembranças tão fortes quanto a real.
Os cinquenta alunos do quinto ano da Escola Municipal Professor Erasmo Pilotto, em Curitiba, não estudam em um dos bairros mais violentos da cidade. Mesmo assim, os jovens estudantes, de nove a 11 anos, não pestanejaram ao serem provocados pela professora: Curitiba merece de presente menos roubos, menos assaltos, menos violência. Curitiba merece ser uma cidade segura. Difícil imaginar que o trabalho em sala de aula, pautado na proposta da Gazeta do Povo de questionar quais as prioridades para a capital paranaense, surtisse efeitos diferentes em outras escolas de outros bairros da cidade. A sensação de insegurança não respeita limites geográficos, tampouco idade.
Isso está refletindo a realidade deles, o que eles vivem, o entorno das escolas. Desde muito cedo, já estão por dentro desses problemas , analisa a professora da turma, Joseane Maia de Oliveira, docente há sete anos da Escola Erasmo Pilotto. O sonho por uma cidade mais segura só ficou à frente de outro pedido, tão prático quanto: a reforma da escola. Qual tem mais chances de virar realidade no próximo ano? Difícil dizer.
Para Joseane, porém, nem tudo é motivo para ceticismo. Se as crianças já estão preocupadas desde cedo em buscar mudanças, quem sabe elas não demorem tanto assim. Eles (os alunos) são os agentes transformadores, que vão fazer o futuro do bairro, da escola, da cidade. Queremos que eles reflitam sobre que mundo eles querem e o que podem fazer para mudar esse mundo , profetiza a professora.
Como diriam os otimistas, meio caminho já está andado.
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