15 de dezembro de 2011

País registra um Carandiru por dia


15 de dezembro de 2011 O Globo | O País | BR




RETRATOS DO BRASIL
Em 30 anos, violência matou 1,1 milhão de brasileiros, superando assassinatos em países com guerra
Flávio Freire flavio@sp.oglobo.com.br
SÃO PAULO. Nos últimos 30 anos, a violência no país praticamente dizimou uma cidade inteira de grande porte, como São Gonçalo. Nesse período, cerca de 1,1 milhão de pessoas foram vítimas de homicídio, superando, de longe, as impressionantes estatísticas de países em guerra. Morreu muito mais gente no Brasil do que nos 24 anos de conflito na Guatemala (com 400 mil mortes), nos nove anos da Guerra do Iraque (que vitimou cerca de 110 mil pessoas) ou nos 53 anos de disputa entre Israel e Palestina, período em que 125 mil civis foram assassinados.
A média dessas últimas três décadas é de quatro brasileiros assassinados por hora. Só em 2010 foram mortas 50 mil pessoas, média de 137 mortes por dia. É mais do que um massacre do Carandiru - quando 111 presos perderam a vida no confronto com a polícia, em 1992, em São Paulo - a cada dia. Uma pessoa foi morta a cada dez minutos no Brasil no ano passado.
- Foram mortas, exatamente, 1.091.125 pessoas. Para se ter uma ideia da tragédia, só 13 cidades brasileiras têm uma população que ultrapassa 1 milhão de habitantes. Matou-se no Brasil muito mais gente do que em países onde há conflitos armados por décadas - ressaltou Júlio Waiselfisz, responsável pela pesquisa do Mapa da Violência 2012, elaborada e divulgada ontem pelo Instituto Sagari, em São Paulo.
Com dados compilados desde 1980, o estudo revela o avanço da violência ano a ano. Se, há 30 anos, 13.910 pessoas foram vítimas de homicídio no país, em 2010 o número de mortes chegou a 49.932, um crescimento de 258%. A população aumentou no período, mas não na mesma velocidade. Passou de 119 milhões para 190 milhões de habitantes, registrando elevação de 60%.
Taxa de homicídio no país saltou de 11,7 para 26,2
Desde 1980, a taxa de homicídio para cada 100 mil habitantes também deu um salto considerável, pulando de 11,7 para 26,2. Segundo o estudo, na última década foi observado o crescimento vertiginoso das taxas até o ano de 2003, quedas relevantes até 2005 e, a partir deste ano, equilíbrio instável, com cerca de 26 homicídios para cada 100 mil habitantes. A década fechou com taxa de 26,2 homicídios, semelhante ao verificado em 2000: 26,7.
- Ao mesmo tempo em que se pode comemorar essa estagnação, não podemos deixar de nos preocupar com a dificuldade para combater essa tragédia - disse Waiselfisz.
O estudo ainda mostra que 17 estados que tinham as menores taxas do país no ano 2000 viram seus índices aumentar. Alagoas é o estado que ocupa a primeira posição no ranking dos mais violentos. Há dez anos, estava na 11ª colocação, com taxa de 25,6 mortes por 100 mil habitantes, e agora passou para o topo do pódio com a marca mais preocupante: 66,8.
Também estão em situação caótica os seguintes estados: Espírito Santo (50,1), Pará (45,9), Pernambuco (38,8) e Amapá (38,7). Na contramão, com resultados mais positivos, aparecem: Santa Catarina (12,9), Piauí (13,7), São Paulo (13,9), Minas Gerais (18,1) e Rio Grande do Sul (19,3).
Em relação à última década, a pesquisa também verificou a explosão dos homicídios. Em três estado, a evolução desse tipo de crime é assustador. Na Bahia, entre 2000 e 2010, os homicídios cresceram 332,4%, enquanto no Maranhão subiu 329,7% e no Pará, 332%.
Dois estados fizeram o caminho inverso. Enquanto, na última década, São Paulo diminuiu a taxa de homicídio de 42,2 para 13,9 por 100 mil habitantes, (4º para 25 º lugar no ranking), o Rio de Janeiro reduziu a taxa 51,0 para 26,2 (passou de 2º para 17º).
- O que precisamos saber é se não estamos tapando um buraco e abrindo outro. De qualquer forma, três fatores explicam a redução das taxas de homicídios em alguns lugares: campanha do desarmamento, investimento em segurança pública e políticas estaduais - disse Waiselfisz.
Num recorte feito por raça e cor, o estudo mostra que, enquanto pessoas brancas são, cada vez menos, vítimas de homicídios, boletins de ocorrências registram elevação de assassinatos contra negros. Em relação aos brancos, segundo o mapa, a queda vem se acentuando: 18.852 assassinados em 2002, 15.753 em 2006 e 13.668 no ano passado. Sobre os negros, a situação é crítica: foram mortos 26.952 em 2002, 29.925 em 2006 e 33.264 em 2010.
Em relação aos assassinatos de jovens, entre 15 e 24 anos de idade, os números também são alarmantes. Mais de 201 mil pessoas nessa faixa etária foram mortas em 2010. Na comparação com 2000, o mapa registrou crescimento de 11,1% de homicídios contra jovens.
HOMICÍDIOS CAEM NO RIO E EM SP na página 14
oglobo.com.br/pais

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