30 de dezembro de 2011 Educação no Brasil | Folha de S. Paulo | Poder | BR
ELEONORA DE LUCENA PAULA CESARIANO COSTA Governador do Rio, que lamenta desempenho de escolas do estado, dá nota 10 a Dilma e defende privatizações tucanas Sem querer criar arestas com PT e PSDB, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), dá nota dez ao primeiro ano da presidente Dilma Rousseff e defende as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. "Qualquer discurso caricato antiprivatização eu rejeito preliminarmente", declara. Cabral, 48, que teve suas ligações pessoais com os empresários Eike Batista (EBX) e Fernando Cavendish (Construtora Delta) escancaradas após acidente na Bahia em junho, se defende: "Nunca misturei relações pessoais com decisões públicas". Em entrevista no Palácio Laranjeiras, ladeado por seus homens fortes -o vice-governador Luiz Fernando Pezão e o secretário da Casa Civil, Regis Fichtner-, Cabral faz um balanço do seu governo (sem dar nota). Diz que a corrupção policial e o tráfico de drogas diminuíram. Reconhece a "situação vexatória" na educação, mas promete melhora. E avisa que José Mariano Beltrame é "candidato a secretário de Segurança até 2014". Folha - Qual a sua avaliação política do governo Dilma? SÉRGIO CABRAL - Confesso a minha total felicidade com o governo, como gestor. Uma pessoa como a Dilma, uma mulher, que milhões de brasileiros passaram a conhecer durante o processo eleitoral, era uma incógnita. Ela soube impor o estilo dela, avaliar o quadro internacional com muita serenidade, fazer o país avançar. Manter os fundamentos macroeconômicos, fazer uma política fiscal dura como fez é de muita competência. O primeiro ano da Dilma é nota 10. Como o sr. enxerga a questão político-partidária de uma forma mais ampla? Como o sr., que já foi do PSDB, analisa o impacto desse "Privataria Tucana" [livro que trata de supostos desvios de recursos durante privatizações do governo FHC]? "Privataria". Acho uma bobagem esse discurso. O presidente Fernando Henrique fez muito bem ao Brasil ao abri-lo para investidores nacionais e estrangeiros, ao permitir, no caso da exploração do petróleo e do gás, a entrada de empresas nacionais e multinacionais, acabando com o monopólio da Petrobras e com o monopólio da Telebras e abrindo para investidores nacionais e as telecomunicações. Qualquer discurso caricato antiprivatização eu rejeito preliminarmente. Esse momento internacional permite um discurso falso, demagógico e arriscado, de que o Estado é capaz de tudo. Pelo contrário, o Estado precisa cada vez mais das parcerias público-privadas. A aliança PT-PMDB é muito positiva para o Brasil, para a governabilidade. O que o sr. vai fazer em 2014? Cuidar de reeleger a Dilma, o Michel Temer, e ajudar a eleger o Pezão, porque acho que essas conquistas do Rio são muito importantes de terem continuidade. Antes, em 2012, eleger o Eduardo Paes [prefeito do Rio]. Mas qual o seu futuro político? Terminar o dever de casa. Tem três anos ainda. Termino com um Rio muito melhor do que o que encontrei em 2006 e sem nenhuma ansiedade do processo político. Não tenho nenhum pensamento esquizofrênico de ocupar nem o lugar do Temer nem o da Dilma. Falo isso para os meus aliados. Imagina eu ficar vislumbrando a hipótese de ocupar o lugar de pessoas que eu apoiei, que estão no primeiro mandato e que eu quero que dê certo. Não faz sentido isso. Um dos pontos polêmicos do ano foi a sua relação com empresários que tiveram incentivos, foram doadores de campanha, a sua vida privada e a pública entremeadas nos casos com Eike Batista e a Construtora Delta. Essa relação é inevitável? Nunca misturei relações pessoais com decisões públicas. Nunca. O sr. não acha que viajar num jatinho de um empresário que tem relações com o Estado... Não tem relações com o Estado. Eike Batista não tem relações com o Estado, não recebe incentivos? Mas várias empresas [recebem]. Me dói falar sobre isso porque tem um lado pessoal, emocional forte. Nunca misturei qualquer decisão pública minha com o fato de ter relações pessoais. Eike Batista é um empresário, um dos maiores empreendedores do planeta, que não deixou de estar ao lado do Rio. Os incentivos que dei para a Nissan vir para o Rio, os que dou para a EBX ou para a Michelin são incentivos de políticas públicas. E no caso da Delta? A mesma coisa. Essas empresas são doadores de campanha. O que o sr. acha do financiamento público? Sou favorável ao financiamento público. Ele dá maior transparência e maior visibilidade aos recursos que vêm para os partidos. Por que entrar no Supremo contra os pedidos de informações que os deputados fazem ao Executivo? Qualquer ação exige procedimentos, porque senão anarquiza, desorganiza. Solicitamos a organização do processo. Pedidos têm que passar pela comissão [da Assembleia], como acontece na Câmara dos Deputados e no Senado. A polícia do Rio está menos corrupta? Conseguimos acabar com a politização da segurança. Foi um choque cultural e de gestão. Deputado não nomeia mais comandante do batalhão, delegado. Uma felicidade enorme ter escolhido um policial honesto, sério, e trabalhador. Há um permanente combate à má conduta, à milícia, por exemplo. No governo da minha antecessora foram presos menos de 40 milicianos. Já prendemos mais de 600, 700, mil. O secretário José Mariano Beltrame vai ser candidato? É candidato a secretário de Segurança até 2014. Ele não é político, ele é um policial. O tráfico de drogas diminuiu? Diminuiu. Foi um jogo de ganha-ganha. Escasseou a droga, escasseou a arma e aumentou o valor imobiliário das residências. O sr. elegeu educação como prioridade, mas o Rio vai muito mal em educação. Está em penúltimo no Brasil. Na educação eu errei no primeiro mandato: mantive a politização na ponta, nas coordenadorias. [O secretário Wilson] Risolia está fazendo um trabalho emocionante. É vexatória a situação. Vigésimo sexto no Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] me envergonhou profundamente. Meu compromisso é estar entre os cinco do Ideb em 2014. |
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