Falta professor em 32% das escolas estaduais
Levantamento se refere à cidade de São Paulo; maior parte das aulas vagas é de arte, geografia e matemática
Para secretaria, dados não refletem realidade; na zona norte, alunos tiveram apenas duas aulas de geografia
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
Dois meses após o início do ano letivo, uma em cada três escolas estaduais da capital enfrenta falta de professores.
Dados levantados pela Folha a partir de convocações das diretorias de ensino na primeira semana de abril mostram que, dos 1.072 colégios, 343 têm vagas abertas. Faltam professores, principalmente, nas disciplinas de arte, geografia, sociologia e matemática.
A Secretaria Estadual da Educação diz que o resultado não reflete a "realidade". Sem citar números específicos, o governo afirma ter uma estimativa segundo a qual o deficit é de apenas 0,6% em todo o Estado -não citou, porém, dados sobre a capital, alvo do levantamento da Folha.
OUVINDO FUNK
Na escola estadual Gavião Peixoto, na zona norte da cidade, alunos do oitavo ano do ensino fundamental dizem que só tiveram duas aulas de geografia até agora. Na sétima série, nenhuma de artes.
Os estudantes relataram que, algumas vezes, o professor substituto das aulas vagas acaba ouvindo funk com os jovens dentro da sala.
Na rede estadual, o déficit de professores persiste mesmo após a Secretaria da Educação liberar a convocação de profissionais reprovados em exame do Estado e de outros que nem fizeram a prova -o número de docentes nessa situação não foi divulgado.
Também foram chamados para lecionar estudantes universitários de licenciatura.
Segundo a secretaria, cerca de 2% do magistério está nessa condição -não possui ensino superior completo.
A regra autoriza a entrada até de universitários que nem cursaram 50% do curso.
A rede enfrenta problemas de qualidade: no último exame estadual, só 4,2% dos formandos no ensino médio apresentaram conhecimento adequado em matemática.
Na rede municipal, a situação da falta de professores é menor. A prefeitura informou que, na primeira semana de abril, faltavam 198 docentes nas cerca de 1.400 escolas.
O número de escolas com deficit atinge, portanto, no máximo 14% das escolas, ou seja, menos da metade do montante da rede estadual.
Ainda assim, afirma a prefeitura, os alunos não ficam sem aulas, pois já é previsto um número extra de professores por unidade.
REAJUSTE SALARIAL
Na tentativa de melhorar o quadro docente, a gestão Alckmin (PSDB) implementou plano de reajuste salarial, que prevê aumento de 42% até o final do mandato. Fez também concurso público.
"O caminho está certo, mas [o aumento] deveria ser mais agressivo", disse o presidente da Udemo (sindicato dos diretores), Francisco Poli.
Segundo ele, muitos professores desistem da rede, atraídos por salários melhores em outras atividades.
PROVIMENTO
O pesquisador Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP, afirma que a falta de professores na rede estadual "é injustificada".
Ele citou dois motivos. O primeiro, disse, porque é possível estimar o número de professores que vão sair da rede com base em dados históricos. Além disso, afirmou, o número de estudantes na educação básica no Estado caiu 40% entre 1993 e 2011.
"O que se assistiu foi a falta de uma verdadeira política para o provimento de profissionais da educação", diz.
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Não é novidade, com um salário ruim deste, eu mesmo tenho licenciatura e tenho outra atividade. O salário não ficaria atraente nem se subisse 42%, ainda mais com um aumento parcelado até 2014 (parece piada diante da atual situação). O Estado fala em aposentadorias e licenças, mas eu conheço muitos professores que simplesmente pediram exoneração. Isto é reflexo dos péssimos salários do estado e do município de São Paulo, ou melhor, da má gestão pública do trio Kassab, Serra e Alckmin....
ResponderExcluirÉ vergonhoso ser professor no Estado de São Paulo. Recebemos um mísero salário, trabalhamos em ambientes péssimos, salas super lotadas e falta de recursos desejáveis a uma educação de qualidade.
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