Arnaldo Niskier é membro da Academia Brasileira de Letras, presidente do CIEE/RJ e professor titular aposentado da UERJ. Artigo publicado no Correio Braziliense de hoje (26).
A expressão desenvolvimento sustentável está na moda. Tem tudo a ver com as nossas perspectivas de vida saudável. Por isso mesmo, o papel da educação, nesse processo, é fundamental, quando, numa aula de ciências, discute-se a quantidade de animais ameaçados de extinção, como é o caso das ararinhas azuis, que não se encontram mais na natureza (só em cativeiros). Na verdade, estamos preparando o espírito dos nossos futuros executivos para a necessidade inadiável de respeito aos limites do planeta.
O especialista Israel Klabin, presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FNDS), está preocupado: "estamos degradando a Terra em alta velocidade". Reclama da utilização intensiva de combustíveis fósseis, do desmatamento desordenado e da falta de cuidado com os nossos recursos hídricos.
Essas alterações, a que se soma a perda da biodiversidade, sacrificam a sustentabilidade. O abate de uma árvore na Amazônia pode ser causa de uma inundação na Índia, assim como queimar carvão na China pode causar uma grande onda de frio na Europa. São intercorrências naturais, quando não se tem o cuidado elementar de respeitar fatores que podem levar a humanidade ao retrocesso em relação ao seu conforto e sobrevida.
Segundo estudos da OCDE, a poluição atmosférica urbana será a principal causa da mortalidade no mundo em 2050. Nem as guerras localizadas e a eventual insanidade de líderes da época serão capazes de promover maior estrago. É mais atual do que nunca a discussão em torno da redução da emissão de gás carbônico na atmosfera, para atenuar os efeitos danosos sobre o clima.
Queremos o crescimento sustentável do Brasil, ou seja, aquele que pode ser sustentado ou mantido, trazendo maior conforto ao nosso povo. Abordando o tema, a presidente Dilma Rousseff tocou fundo no problema: "temos de ser contemporâneos do momento histórico e apostar em ciência e tecnologia, inovação e educação". Levou a tese ao presidente Barack Obama, que concordou.
Para discutir o assunto, nada menos de 120 países estarão representados na Rio+20, que se realizará em junho. Longe da preocupação da Eco-92 com a caça às baleias e o fim do uso da energia nuclear, hoje os temas estão bem mais perto de cada um de nós: o uso da água, da energia (com suas novas formas), o lixo, o transporte e o consumo.
A preocupação dominante na sociedade internacional é a preservação de recursos naturais, matéria até aqui descurada. Só no Rio de Janeiro, que bate o recorde nacional, consome-se 215 litros de água diariamente por pessoa, naturalmente um gasto despropositado. Há muito o que fazer nesse item, como comprovaram técnicos brasileiros que estiveram recentemente em Israel, para o qual a água tem tanto valor quanto o petróleo. Sem exagero.
O que pode a educação fazer para a implementação desse processo de desenvolvimento? Tudo, diríamos nós, pois é na escola que se deve mostrar aos alunos, em idade adequada, os malefícios da falta de cuidado com a natureza. Basta o exemplo do desmatamento para convencer os céticos de plantão.
Nos parâmetros curriculares nacionais prevê-se a existência de matérias transversais, como é o caso da educação ambiental. Dar maior valor a isso é passo decisivo para a criação de verdadeira e inadiável consciência ecológica no espírito dos nossos estudantes. Sabe-se que o limite saudável para aspirar certos materiais é de 150 microgramas por metro cúbico. Nas cidades paulistas de Cubatão e Santa Gertrudes (indústria cerâmica) esses limites passam de 200, o que naturalmente cria problemas respiratórios muito sérios. É a esses cuidados que se dá hoje o nome de sustentabilidade. É na escola que se aprende o que fazer.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário