Achim Steiner é diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente; Mervyn King é presidente do Comitê Internacional para Relatórios Integrados; Steve Waygood é chefe de investimentos responsáveis da Avina Investors; David Pitt-Watson é presidente da Hermes Focus Asset Management e presidente da Comissão de Investimento da Iniciativa Financeira do Pnuma (UNEP-FI); e Herman Mulder é presidente do conselho diretor, Global Reporting Initiative. Artigo publicado no Valor Econômico de hoje (25).
Com o encontro de governos na Rio+20 no próximo mês, um resultado definitivo, decisivo e positivo para o planeta e suas pessoas poderia ser um compromisso global em relação à prestação de contas sobre sustentabilidade corporativa.
Desde a Cúpula da Terra de 1992, no Rio de Janeiro, um número crescente de empresas tem incluído questões ambientais, sociais e de governança em seus modelos de operações e negócios. Cerca de um quarto das empresas questionadas pela Bloomberg estão agora encapsulando e divulgando alguns de seus elementos em seus relatórios anuais, lado a lado com seus fluxos de caixa, débitos e passivos.
Muitos compromissos serão levados a líderes mundiais no Rio, como a proposta de relatórios de sustentabilidade, que pode evoluir para uma futura convenção e tornar-se inspiradora opção política que vai garantir resultados ambientais, sociais e econômicos poderosos.
Enquanto isso, diversas bolsas que variam de Istambul e Joanesburgo a São Paulo e Cingapura estão agora exigindo um compromisso sério das empresas listadas com questões de meio ambiente, sustentabilidade e governança.
Esse progresso é bem-vindo: ele permite que os fundos de pensão, acionistas e outros investidores possam escolher empresas que consideram a sustentabilidade como questão central - considerando boas evidências de que tais corporações são melhor gerenciadas, manejam recursos naturais de forma mais eficiente, reduzem pegadas de poluição, são menos propensas a choques em um mundo globalizado e menos vulneráveis a riscos reputacionais.
Além disso, é uma ajuda para governos enfrentarem uma ampla gama de desafios que abrangem desde o cumprimento de metas de gases de efeito estufa até o monitoramento da melhoria da saúde e segurança dos trabalhadores de todos os setores e regiões geográficas.
No entanto, não é suficiente: a verdade é que a Coalizão Empresarial de Relatórios de Sustentabilidade - uma aliança de fundos de pensão e investidores com US$ dois trilhões em ativos sob gestão, em conjunto com agências da ONU e ONGs - conclui que acordos voluntários existentes atingiram seus limites.
O momento é propício para um quadro de políticas globais sobre relatórios de sustentabilidade corporativa e é essencial para levar a informação básica, assim como transparência e comparabilidade necessárias para avançar no rastreamento eficiente da transição para uma economia verde global.
Por que? Em primeiro lugar, vários países, incluindo China, Dinamarca, Equador, Índia, Noruega, Cingapura e Reino Unido, recentemente criaram leis, procedimentos, diretrizes e normas em consonância com a convenção proposta. Elas são muito bem-vindas. Mas o que as empresas mais precisam não é de muitas normas diferentes, mas de um comum acordo global sobre esse tipo de prestação de contas. Algo mais eficaz e de menor custo.
Em segundo lugar, muitos dos pregos que sustentam uma potencial estrutura global já existem por meio de esforços voluntários, como a Global Reporting Initiative, fundada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o Pacto Global, o Carbon Disclosure Project e o Conselho Internacional de Informação Integrada, que defende o desenvolvimento de relatórios integrados.
Em terceiro lugar, um levantamento realizado entre entrevistados da bolsa descobriu que 80% dos que responderam estavam a favor de uma abordagem global para relatórios de sustentabilidade. Apenas 30% se opuseram à obrigatoriedade da mesma.
Alguns países e empresas receiam que um quadro político global, como uma convenção, possa ser uma camisa de força burocrática ou um freio sobre os lucros. O que não necessariamente é o caso.
Fato é que a experiência em todo o mundo até o momento dá uma ideia de como os benefícios de relatórios de sustentabilidade corporativa podem ser colhidos sem que se tornem uma extensão da burocracia, e que a existência de um padrão global não precisa implicar em regra de abordagem.
Os governos podem ter a flexibilidade de fazer essa implementação de várias maneiras diferentes, seja por meio de novas leis, leis já existentes ou por outros meios como bolsas de valores nacionais. Uma vez adotada a nível nacional, o cumprimento das leis pelas empresas individuais poderia ser feito por meio de um relatório de sustentabilidade. O conselho de diretores das empresas teriam que definir, por um lado, o que é significante e terá de ser comunicado, e, por outro lado, o que é irrelevante e deve ser apenas explicado para os reguladores e acionistas.
Dia após dia, um fluxo de trilhões de dólares acontece dentro e fora dos investimentos em todo o mundo, uma proporção que está ajudando na geração de condições para a transição para uma economia verde de baixo carbono, eficiência de recursos e geração de empregos.
Um compromisso global sobre relatórios de sustentabilidade poderia ajudar dramaticamente na aceleração e intensificação dos fluxos de investimento positivo e fazer pontes no que, atualmente, é uma grande lacuna entre ambição e realidade para um futuro sustentável. O quadro atual está favorecendo os investidores responsáveis, assim como um número crescente de empresas e setores da sociedade civil que olham para o futuro.
Muitos compromissos serão levados a líderes mundiais que estarão no Rio de Janeiro daqui a algumas semanas, o que levará a proposta de relatórios de sustentabilidade para um nível maior, mais amplo e juridicamente fundamentado, de preferência na forma de uma futura convenção, que deve estar no radar como uma inspiradora opção política que vai garantir resultados ambientais, sociais e econômicos poderosos e positivos.
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