21 de junho de 2012

JOSÉ ELI DA VEIGA ,Três antídotos para reverter a choradeira



O GRANDE campeão da quarta cúpula mundial sobre as fronteiras ecológicas do desenvolvimento humano foi um dos dez piores vícios de linguagem: a prolixidade. Mas a boa notícia é que pode valer a pena o exercício masoquista de examinar com lupa os 283 maçantes tópicos da declaração "O Futuro que Queremos".
Como previsto, o Pnuma não será mesmo uma nova agência especializada. Mas até poderá vir a ser muito mais do que isso se forem levadas à prática as oito promessas elencadas depois do estúpido subtítulo "Pilar ambiental no contexto do desenvolvimento sustentável".
De lambuja, ainda surgirá um fórum de alto nível para substituir a raquítica Comissão de Desenvolvimento Sustentável.
A também prevista diluição da "economia verde" foi bem inferior à que desejavam seus detratores, mesmo que não tenha sido consagrada a singela definição original. Conforme o terceiro capítulo, só é verde o investimento que promover inclusão social via empregos decentes sem aumentar a pegada ecológica.
Se consumidores e contribuintes pressionarem empresas e governos nessa direção, só faltará quebrar o tabu da redução das desigualdades para que se comece a falar sério sobre desenvolvimento sustentável.
Também foi confirmada a previsão de que o melhor resultado dessa cúpula das Nações Unidas nem chegou a ser pautado por sua Assembleia-Geral: o prazo de três anos para que sejam adotadas métricas de monitoramento. Em breve será formado um grupo de trabalho com 30 especialistas indicados pelas cinco comissões regionais da ONU.
É preciso apostar muitos cacifes nesse páreo, pois o maior obstáculo a evoluções cognitivas e institucionais na direção do tal futuro que as 193 nações declaram querer está na ausência de critérios objetivos, legitimados e persuasivos sobre a principal assimetria global.
O grosso das 193 nações que estão reunidas no Riocentro dispõe de alto crédito ecológico, pois a pressão que exercem sobre os ecossistemas não atrapalharia a regeneração da biosfera. É a parte do mundo em que as pegadas ecológicas são inferiores à biocapacidade global, mas que infelizmente ainda convive com o cosme e damião do subdesenvolvimento: ampla pobreza multidimensional alavancada por expansão demográfica.
O outro lado do balcão é dos países cujos fortes déficits ecológicos resultam de altíssimo desenvolvimento humano. Onde a erradicação da pobreza já engendrou encolhimento populacional. Lado que ainda está quase vazio, pois são apenas dois: Alemanha e Japão.
JOSÉ ELI DA VEIGA, professor dos programas de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP e do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), é enviado especial da Folha à Rio+20.
Site: www.zeeli.pro.br

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