Folha de S.Paulo, 25/9/2012 SÃO PAULO - Muito interessante o exercício do Datafolha de mensurar o conservadorismo/liberalismo da população paulistana. O ligeiro excesso de pessoas com ideias mais à direita (34% contra 27%) ajuda a explicar o fenômeno Russomanno, mas isso é só a ponta do "iceberg". Desde que a ciência começou a investigar a orientação política das pessoas, há cerca de 40 anos, tivemos algumas surpresas. Para começar, o papel do DNA é maior do que se suspeitava. Um estudo de John Hibbing de 2005 que envolveu mais de 8.000 pares de gêmeos nos EUA estimou que genes respondiam por 53% da variação no perfil ideológico. Cuidado, não se deve imaginar aqui que existe o gene do PT e o do PSDB. O efeito é bem mais indireto. Fatores hereditários têm peso importante na formação da personalidade, que é razoavelmente estável ao longo da vida e determinante para definir como nos sentimos em relação a uma série de questões como igualdade, justiça, autoridade, pureza -itens que constituem a base da identidade moral de cada indivíduo. Outro ponto interessante é que já quase dá para ver a coloração política das pessoas em exames de neuroimagem. Um trabalho de 2011 de Ryota Kanai mostrou que conservadores tendiam a ter amígdalas, estruturas cerebrais envolvidas na memória das emoções, maiores e mais ativas. Já liberais exibiam maior quantidade de massa cinzenta no córtex anterior cingulado, que processa informações contraditórias. O conservador seria assim um sujeito mais intuitivo e com baixa tolerância a incertezas. O liberal, por seu turno, seria mais reflexivo. Não liga tanto se o mundo é um lugar meio sem sentido. O bacana aqui é que, como o voto é o resultado de interações complexas entre indivíduo e sociedade, por mais que avancemos no entendimento do cérebro ideológico e da política partidária, eleições, ainda que encerrem alto grau de previsibilidade, sempre nos reservarão surpresas. |
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