Oito cientistas do País se juntam aos mais de 100 pesquisadores nacionais presentes na Academia, que reúne representantes de nações em desenvolvimento.
Ela mudou de nome pela segunda vez. De Academia de Ciências do Terceiro Mundo (TWAS, em inglês) passou a Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento e, agora, Academia de Ciências do Mundo. Um reflexo de que poderia estar havendo uma aproximação no nível científico entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, especialmente a China, segundo opina o pesquisador Jairton Dupont, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), um dos oito brasileiros eleitos como novos membros da Academia.
A mudança de nome, que não afetou a sigla TWAS, gerou polêmica. Alguns cientistas não apoiam a nova denominação pois acreditam que o foco nos países menos desenvolvidos se perderá. Em um comunicado divulgado no último dia 19, durante a 12ª Conferência Geral e 23ª Reunião Geral da TWAS em Tianjin (China), realizada na semana passada, a organização afirmou que continuará se dedicando "ao progresso da ciência nos países em desenvolvimento, mas agora em um mundo só".
Apesar de achar que a China hoje está mais próxima dos países desenvolvidos, o que já seria uma justificativa para que a TWAS "perdesse" um importante membro, Dupont não entra na discussão e lembra que na Reunião havia correspondentes de vários países desenvolvidos, como Suécia, Itália, Estados Unidos e Alemanha, o que demonstra que a Academia alcançou interesse global.
Além de ter sido eleito novo membro da Academia, o pesquisador acaba de receber o Prêmio TWAS em Tianjin. "É sempre bom ter seu trabalho reconhecido e principalmente se for um trabalho em grupo. Mas o que mais me chamou a atenção na reunião da China foi o comprometimento do governo chinês com ciência e tecnologia. Quem abriu o congresso foi o presidente [Hu Jintao], talvez o segundo homem mais poderoso do mundo, que também nos entregou o prêmio", lembra Dupont.
Evolução do Brasil - Dupont foi escolhido para receber a distinção em Química antes do anúncio de sua eleição como membro da TWAS (caso contrário, não poderia recebê-la). Junto com ele, que é representante das Ciências Químicas, outros sete cientistas brasileiros entram para o restrito grupo no próximo ano: Abramo Hefez (Ciências Matemáticas), Anibal Vercesi (Biologia Estrutural, Celular e Molecular), Carlos Gustavo Moreira (Ciências Matemáticas), Eloi Garcia (Sistemas e Organismos Biológicos), Mauro Teixeira (Ciências Médicas e da Saúde), Roberto Dall'Agnol (Ciências da Terra, do Espaço e Astronomia) e Renato Cotta (Ciências da Engenharia).
São 49 novos membros no total e, além dos oito brasileiros, a TWAS escolheu também um novo membro da Jamaica, um da Argentina e oito da África (um de Uganda, dois do Egito, um do Quênia, dois da Nigéria e uma da África do Sul). Foram contemplados ainda 16 cientistas chineses, nove indianos e três de Taiwan. Entre os quatro Países Associados, foi eleita uma cientista mulher japonesa e os outros três da Holanda, EUA/Taiwan e EUA/Reino Unido.
Entre os quase 1.100 membros da TWAS, há 115 brasileiros (incluindo os oito novos), divididos em diversas categorias. As Ciências Matemáticas e as Ciências Médicas e da Saúde agrupam o maior número de pesquisadores do Brasil, com 24 e 21, respectivamente. A China, um dos países responsáveis pela atual elevação do nível científico das nações em desenvolvimento, reúne 212 representantes na TWAS (já com os novos membros incluídos), quase o dobro do Brasil.
"Em termos de números [de cientistas] é complicado, pois competimos com países como Índia e China, que têm um número muito maior [na Academia], mas, em termos de evolução, nosso país está indo muito bem. Acho que a ABC [Academia Brasileira de Ciências, que indica os candidatos à TWAS] está fazendo um trabalho muito sério, estimulando e divulgando a ciência brasileira, e a tendência que vejo é aumentar o número de brasileiros na TWAS", acredita Eloi Garcia, da Fundação Oswaldo Cruz, outro dos eleitos este ano.
Diferenças - Garcia destaca que a TWAS, fundada em 1983, ajudou a ciência dos países em desenvolvimento a se tornar "muito mais conhecida". "A gente tinha ciência só no primeiro mundo, na Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos, e a TWAS deu uma força muito grande para a ciência que se fazia nesses países [em desenvolvimento]", relata.
Por sua vez, Dupont ressalta as diferenças no tratamento da ciência entre os países que integram a TWAS. "Países como China, Índia, Paquistão e África do Sul têm tradição muito grande na Academia e seu maior número de participantes reflete seu compromisso com ciência e tecnologia", compara. O pesquisador sublinha a necessidade de o Brasil seguir um caminho parecido, atuando em três frentes "essenciais".
A primeira seria definir as universidades de pesquisa do País, escolhendo "umas sete ou oito", que devem ter "investimento diferenciado". "A China tem mais de quatro mil universidades e escolheu 10 ou 12 para serem 'as' universidades". "A segunda medida seria o Governo decidir se ciência é ou não política de Estado, se poderá dar um salto de investimento muito maior", relata. Por último, Dupont sugere uma mudança na escala da quantidade de cientistas do Brasil.
"Na minha área, o País deve ter uns cinco mil doutores em química. Isso é o que os Estados Unidos têm em apenas um centro de pesquisa. Se esse esforço não for feito, vamos cair para terceira divisão e continuar brincando de fazer ciência, com algumas ilhas de excelência", alerta, completando que o gasto em C&T no Brasil ainda é visto "como uma despesa e não como um investimento".
(Clarissa Vasconcellos - Jornal da Ciência)
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