12 de dezembro de 2012

MATIAS SPEKTOR A mensagem mais valiosa



O problema é não conseguir convencer a presidente de que ignorar a diplomacia atravanca seu projeto político

DEZEMBRO AQUECE a indústria de análises de conjuntura, quando consultorias privadas e centros de pesquisa preparam a síntese do ano que passou.
No quesito política externa, o tom do que se lê por aí é lúgubre.
As lamentações começam pelo que seria o principal equívoco: a decisão de suspender o Paraguai do Mercosul. Pego de surpresa pela reviravolta política num dos raros países onde exerce poder real, o Brasil teria abdicado de seus interesses para seguir terceiros a reboque.
Os analistas também elencam promessas frustradas, como uma Rio+20 de orçamentos exuberantes e resultados inócuos. Ou o recuo na ONU, onde o governo enterrou sua própria proposta para disciplinar as intervenções humanitárias do futuro.
Que dizer então da vizinhança, onde o ano que se encerra viu nascer a Aliança do Pacífico, plataforma que junta Chile, Peru, Colômbia e México? São os quatro vizinhos que menos gostam de regionalismo à brasileira e mais força têm para resisti-lo.
Nesse tatibitate de fim de ano, os analistas culpam Dilma.
Impaciente para as coisas da diplomacia, ela estaria convicta de que o Itamaraty tem roda presa.
Improvisando na última formatura de jovens diplomatas, ela alfinetou: "Patriota, quantos engenheiros?"
Como política externa não ergue estradas, escolas ou hospitais, não pacifica favelas nem descongestiona portos, a presidente passaria longe do tema.
Essas análises certamente trazem verdades. O problema é que perdem o ponto principal, que é mais profundo e significativo.
O ano de 2012 mostrou que a manutenção da arquitetura de relacionamentos do Brasil de hoje é cara e trabalhosa.
Dez anos atrás não havia Brics nem Unasul. O BNDES não emprestava além-fronteira. O Brasil não mandava tropas para missões da ONU em que se autorizasse o uso da força e os orçamentos de ajuda para o desenvolvimento eram ínfimos.
Agora, a execução da política externa é mais complexa e o ambiente internacional também.
Como os custos aumentaram, cresceu ao mesmo passo a necessidade de justificá-los.
A política externa brasileira sempre precisou de uma causa. Entre JK e Sarney, era o projeto de modernização conservadora. Entre Collor e o primeiro Lula, era a democratização com estabilização financeira.
Do segundo Lula para cá, o país ganhou novas coordenadas políticas e sociais, expressas no aparecimento de uma nova "classe batalhadora".
O grupo, que é maioria inconteste da população, vem realinhando a política partidária, mudando a cara de nossa sociedade e abrindo avenidas inéditas para o capitalismo nacional.
Acontece que a centralidade desse grupo no mapa político cria imperativos de política externa que ainda não foram articulados.
O problema não é ter uma presidente desinteressada por política externa. O problema é ainda não termos argumentos afiados para convencê-la de que ignorar a diplomacia equivale a atravancar o fabuloso projeto político que a sustenta.
Eis aí uma prioridade para 2013.

Folha de S.Paulo, 12/12/2012

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