1 de abril de 2013

Proibição do véu em escolas russas gera tensões



Por ELLEN BARRY, Folha de S.Paulo, 1/4/2013

LEVOPADINSKY, Rússia - Quando as autoridades escolares deste povoado da região de Stavropol anunciaram que alunas usando "hijabs" (véus islâmicos) teriam seu acesso barrado nas escolas públicas, as meninas da família Salikhov foram obrigadas a encarar mudanças.
Raifat, 15, chorou ao ouvir que seria enviada ao vizinho Daguestão. Sua sobrinha Amina, 10, começou a ter aulas particulares, em vez de assistir às aulas na escola. A irmã menor de Amina, Aisha, tem 5 anos e ainda não sabe que sua vida mudou.
A proibição do "hijab" em Stavropol é a primeira restrição do tipo a ser imposta por uma região da Federação Russa. Ela chegou em meio às crescentes tensões étnicas que vêm criando problemas para o Kremlin.
O presidente Vladimir Putin conseguiu reprimir a violência separatista no norte do Cáucaso em parte porque concedeu subsídios e autonomia ampla às regiões de população majoritariamente muçulmana.
Mas, agora, o Kremlin encara o ressentimento crescente em regiões de maioria etnicamente russa, como Stavropol, vizinha da cordilheira do Cáucaso.
Quando a diretora russa de um dos povoados pobres da região declarou que não permitiria mais a entrada de alunas usando "hijab" nas escolas, muitos em Stavropol aplaudiram a decisão.
Os líderes regionais respaldaram seu decreto, lançando um uniforme escolar que não permite o uso de qualquer chapéu ou véu na cabeça.
A restrição atinge uma população de cerca de 2,7 milhões de pessoas. De acordo com as estatísticas oficiais, 10% desses habitantes são muçulmanos, mas o International Crisis Group afirma que a proporção real é duas vezes maior.
Um advogado da vizinha Tchetchênia, que concordou em representar quatro pais de alunas agora impedidas de frequentar as aulas, disse que vê a proibição do "hijab" em Stavropol como uma tentativa de acirrar tensões.
"Quando discutimos o aspecto social do problema com o 'hijab', um de nossos adversários falou: 'Deixe esse povo voltar para seu lugar de origem e usar o 'hijab' lá'", comentou Murad Musayev.
Os russos étnicos vêm deixando a estepe há anos, principalmente por razões econômicas. Também vem acontecendo um êxodo dos jovens do grupo étnico Nogay, que pratica uma forma moderada de islamismo.
Os daguestanenses que vieram tomar seus lugares são mais conservadores, mas apenas algumas moças em poucos vilarejos usam o "hijab".
Mesmo assim, com o aumento do sentimento conservador e pró-igreja na Rússia, os jornais televisivos nacionais deram destaque à notícia vinda de Stavropol, mostrando um administrador escolar levando uma criança de "hijab" de volta ao ônibus escolar e mandando-a de volta para casa.
"Esta é uma instituição onde o traje a ser usado é secular", disse a diretora da Escola Número 12, Marina Savchenko, a uma equipe da televisão.
Ela foi aplaudida por autoridades em Stavropol, 81% de cujos habitantes são russos étnicos.
Vladimir Putin tomou o partido da diretora. "Não há 'hijab' em nossa cultura, e quando digo 'nossa' me refiro ao islã tradicional", disse Putin.
"Estadistas respeitados no mundo islâmico também dizem que isso não deve ser feito. Será que deveríamos adotar tradições que nos são estranhas?"
A proibição do véu vem tendo repercussões em grupos étnicos muçulmanos.
Ali Salikhov, o pai de Amina, disse que está começando a pensar que as autoridades estão criando problemas na esperança de que sua família vá embora, retornando ao Daguestão. "Deveriam ter criado uma lei dizendo: 'Não venham para cá'", disse ele. "Assim, pelo menos, eu saberia que estava infringindo a lei."

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