30 de junho de 2013
Salário médio de quem estudou mais de 12 anos cai 8% em uma década
Junio 30, 2013. Estado de S.Paulo
Ganho concentrado. O setor de serviços foi o mais favorecido pelos aumentos salariais
Dois ritmos. Os profissionais mais escolarizados perderam renda porque passaram a enfrentar maior concorrência com a difusão do ensino médio e universitário, enquanto os salários de quem estudou menos subiram 32%, com o crescimento do setor de serviços
Luiz Guilherme Gerbelli
O salário médio mensal dos trabalhadores com mais anos de escolaridade recuou entre 2002 e 2011 no Brasil. A média de salário dos profissionais com 12 anos ou mais de estudo caiu 8% nesse período, de R$ 3.057 para R$ 2.821. A variação já desconta a inflação do período. Isso significa que o poder aquisitivo desse grupo caiu em 10 anos.
O recuo do salário na faixa mais escolarizada ocorreu por diversos motivos. Foi influenciado pelo modelo de crescimento dos últimos anos passando até pelo descompasso entre as profissões escolhidas pelos universitários e a demanda do mercado de trabalho.
Esse descompasso, aliás, ficou mais evidente na área de humanas. "O salário caiu mais na área de humanas, porque houve um aumento no número de profissionais", afirmou Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e responsável pelo cruzamento do avanço médio salarial com os anos de escolaridade. Os dados têm como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
O setor mais educado também viu aumentar a concorrência na última década. Os trabalhadores passaram mais tempo na escola, elevando a fatia dos brasileiros com ensino médio e superior em andamento ou concluído. Ou seja, houve mais ofertas de trabalhadores dessa classe. E muitos profissionais podem ter ingressado no nível mais elevado de escolaridade, mas com o mesmo salário, o que reduz a média de ganho da categoria. "Nos últimos anos, as pessoas ficaram mais tempo na escola e a oferta de profissionais com ensino médio e superior aumentou. O crescimento da escolaridade também foi impulsionado pelo aumento do número de universidades privadas", disse Naercio.
Crescimento. Já a dinâmica da economia brasileira, de impulsionar o setor de serviços, fez com que a maior alta salarial fosse registrada entre os menos qualificados. Logo, cabeleireiros, manicures, pedreiros e jardineiros sentiram mais o ganho salarial. Na faixa dos profissionais com zero a quatro anos de estudo, por exemplo, o aumento médio foi de 32% no período - o salário pulou de R$ 566 para R$ 745. Para os menos escolarizados, também pesou a política de aumento real do salário mínimo dos últimos anos.
"De alguma forma, a economia cresceu na direção desses setores, o que acaba favorecendo alguns tipos de trabalhadores. Grande parte da melhora na base da pirâmide decorre de um aumento da demanda pelo trabalhador menos qualificado", afirmou Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista e pesquisador do Ibre. "Não é à toa que o ex-presidente Lula ficou tão popular. Ele introduziu na economia pessoas que, antes, não participavam dela."
Nas classes intermediárias, também houve comportamento distinto nesse período em comparação com a evolução da média salarial por anos de estudo. Os trabalhadores com cinco a oito anos de escolaridade ganharam 21% mais (de R$ 741 para R$ 895) e os que têm entre 9 a 11 anos de estudo viram o salário crescer apenas 3%, de R$ 1.115 Para R$ 1.147. A média geral de alta foi de 22% nesses anos.
"O crescimento muito alto dos salários dos menos qualificados é bom para reduzir a desigualdade", disse Naercio. "Mas o ideal seria que o salário de todos os trabalhadores aumentasse e os dos menos qualificados aumentasse ainda mais."
Jovens. O recorte feito com os dados da Pnad levando em conta os anos de estudo mostra que os jovens estão melhor do que os trabalhadores mais velhos. O aumento salarial dos trabalhadores de 17 a 24 anos foi de 33% entre 2002 e 2011, passando de R$ 580 para R$ 773. Para os trabalhadores com 25 a 50 anos, o aumento foi menor, de apenas 14% - de R$ 1.206 para R$ 1.376. "O mercado de trabalho está favorável ao jovem. A taxa de desemprego diminui e o salário real tem aumentado", afirmou Naercio.
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