RIO E BRASÍLIA - Os avanços na qualidade de vida dos brasileiros nos últimos 20 anos foram acompanhados a passos mais lentos pelo Estado do Rio, mostra o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, lançado ontem, em Brasília. A capital fluminense, que em 1991 aparecia como um dos dez maiores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do país, agora está no 45º lugar. A exemplo do IDH nacional, o IDHM mede a qualidade de vida da população a partir dos critérios de renda, saúde e educação. Apesar do Estado do Rio ter a segunda maior economia do Brasil, perdendo apenas para São Paulo, dos 92 municípios fluminenses, 64 tinham IDHM inferior à média nacional, de 0,727 (o índice varia entre zero e um e, quanto mais perto de um, melhor), em 2010.
Produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro, o atlas utiliza dados dos censos do IBGE de 1991, 2000 e 2010. Ao lançar a publicação, o presidente do Ipea e ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, destacou que o quadro do Brasil é desafiador. Ele disse que a fotografia ainda é ruim, mas o filme aponta avanços. O ministro ressaltou que, nos últimos dois anos, os indicadores sociais e do trabalho seguem avançando. Segundo ele, programas de transferência de renda, como Bolsa Família, tiveram apenas um papel de coadjuvante na melhoria da renda e do IDHM como um todo. No mapa do desenvolvimento humano brasileiro, o Rio aparece em quarto entre os estados brasileiros, atrás de Distrito Federal, São Paulo e Santa Catarina. A capital fluminense, que já teve o nono melhor IDHM do país, caiu para a posição 61 em 2000 e, agora, está em 45. Para o economista Leonardo Muls, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), a posição do Rio no ranking surpreende negativamente, mas ajuda a entender os protestos que ocorrem na cidade. — O IDH mede o bem-estar da população, que significa qualidade de transportes, educação, segurança. Esse indicador diz que a gente está muito aquém do que deveria, e os protestos, também. A impressão é que existe um discurso oficial se vangloriando de ter atraído investimentos, de sediar grandes eventos, mas no dia a a dia da população as carências estão aí — diz. Para o professor da UFF, o Rio sofre principalmente pela falta de planejamento a longo prazo, capaz de desenvolver a economia para não deixar o estado tão dependente dos recursos do petróleo. Mesmo cidades que recebem elevados royalties do petróleo, como Campos dos Goytacazes e Quissamã, têm IDHM inferior à média do Brasil. Especialista em economia fluminense, Mauro Osório, acha que, no caso da capital, a desigualdade elevada dificulta o desenvolvimento humano. — Enquanto 22% da população vivem em favelas, em São Paulo são 11,42% e Belo Horizonte, 12,96% — afirma. Em nota, o governador do Rio, Sérgio Cabral, destacou os investimentos que o estado tem atraído: “O Rio nesses últimos sete anos vem fazendo um grande esforço em busca do tempo perdido. Foram décadas de ausência de investimentos na educação, na saúde, no saneamento, na infraestrutura. Tenho certeza de que com o Rio de Janeiro tendo hoje o maior volume de investimentos públicos e privados do Brasil, inclusive na infraestrutura e nos serviços públicos essenciais para a população, o nosso IDH nas próximas avaliações certamente estará em melhor posição”, afirmou. Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que a prefeitura tem feito investimentos na melhoria da qualidade de vida da população e que quer continuar avançando para fazer uma cidade “mais justa e igualitária”. No estado, só Niterói tem índice de desenvolvimento considerado muito alto. No país, são 44 municípios nesta situação. A cidade de Niterói, porém, caiu duas posições no ranking nacional na última década. Em 2010, aparece em sétimo lugar geral e tem a segunda maior renda do país. Em 1991, era a terceira no ranking de todos os 5.565 municípios do país. O estado não tem municípios classificados como de desenvolvimento baixo ou muito baixo. — Ficamos orgulhosos com a posição de Niterói. É uma população com escolaridade maior que a média do Rio e um capital humano extraordinário. Entretanto, recentemente, a cidade observou ausência de ações do poder público municipal. Estamos melhorando o plano estratégico para recuperar as posições que a cidade perdeu — diz Rodrigo Neves, prefeito de Niterói. Camila Alves da Silva mora em São Gonçalo. Aos 17 anos, cursa o segundo ano do ensino médio e já superou a mãe, que só conseguiu concluir o ensino fundamental. Decepcionada com a falta de estrutura e professores da escola pública, resolveu se matricular num colégio particular e ontem tirou sua primeira carteira de trabalho. — Estou querendo ver esse negócio do Jovem Aprendiz e começar a trabalhar agora, para ter meu próprio dinheiro e futuramente poder pagar minha faculdade — planeja a jovem, que sonha em estudar Gastronomia. Gargalo no ensino médio ainda representa um dos maiores desafios
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RIO, RECIFE E BELÉM - Se o grande desafio do Brasil é a educação, o maior gargalo é o ensino médio, afirmam os especialistas. Entre jovens de 18 e 20 anos, a proporção com ensino médio completo aumentou de 13% para 41% ao longo das duas décadas. Mas, ainda assim, os números mostram que, de cada cem jovens na faixa de 18 a 20 anos, 59 ainda não tinham terminado essa etapa. No caso das crianças de 5 e 6 anos matriculadas na escola, por exemplo, a frequência subiu de 37,3%, em 1991, para 91,1%, em 2010. Já o percentual dos jovens de 15 a 17 anos com ensino fundamental completo passou de 20% para 57,2% no mesmo período.
— Hoje, se todas as crianças que saem do ensino fundamental quiserem ir para o ensino médio, não há vaga. Além disso, o programa é muito difícil de ser acompanhado. Ele visa ao ensino universitário, quando existem algumas profissões que deveriam ser aprendidas no ensino médio. Falta vaga e um currículo mais profissionalizante. Isso faz com que grande parte da população vá para o mercado de trabalho apenas com o ensino fundamental — afirma a professora de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Tatiane Menezes.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, afirmou que o IDHM mostrou uma evolução importante e que a grande contribuição veio do fluxo escolar, com mais alunos progredindo na idade certa e concluindo a escola. Ele diz que diminui cada vez mais o número de jovens que abandonam os estudos:
— O problema é que você tem hoje 8,5 milhões de jovens no ensino médio e 3,5 milhões que estão na escola, mas estão defasados, ainda no ensino fundamental. Para esta situação, temos um conjunto de políticas, como a escola em tempo integral e a formação continuada de professores.
Esforço compensado
Capixaba, Magno Sarlo tem 52 anos e, desde 1996, vive em Niterói (RJ), onde tem uma loja de revenda de motos. Apesar de não ter concluído o ensino superior, formou três filhos nos últimos 10 anos: a mais velha é fisioterapeuta; o segundo é engenheiro mecânico; a terceira é advogada e a caçula também se forma em Direito daqui a três anos.
— Agora, estou conseguindo vislumbrar uma qualidade de vida melhor: consigo viajar e ainda quero me formar — planeja ele, que chegou a cursar cinco períodos de Administração.
— Meu filho (Thiago Aragão Sá) trabalha há 11 anos numa multinacional, onde começou como estagiário. Ele fez pós-graduação na PUC e na FGV, é casado com uma mestranda. Ele vai dar um futuro para o filho dele muito melhor do que o que eu pude dar a ele.
http://oglobo.globo.com/economia/gargalo-no-ensino-medio-ainda-representa-um-dos-maiores-desafios- |
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