14 de julho de 2013

Novas organizações políticas negam fazer política, Miriam Abramovay

Estado d S.paulo, 14/7/2013

Para socióloga, os jovens 4 nas ruas não estão contra os partidos, só estão dizendo 'que o que está aí não serve'

A rejeição à prática política mais conhecida, especialmente aquela ligada aos partidos, é tão forte entre alguns grupos de jovens, que eles renegam que estão fazendo política mesmo quando engajados em atividades claramente políticas. Essa foi uma das constatações dos pesquisadores que atuaram no projeto Juventude e a Experiência da Política no Contemporâneo, financiado pelo CNPq.
Para a socióloga Miriam Abramovay, da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais, a crescente rejeição aos partidos não equivale necessariamente à rejeição da atividade política. "Ao negar os partidos eles não estão dizendo que não precisam de representação ou do Congresso", afirma a pesquisadora. "Estão dizendo que o que está aí não serve. Quando vão para a rua, estão aprendendo a fazer política. Mesmo quando negam isso."
Miriam coordenou o estudo Quebrando Mitos: Juventude, Participação e Políticas, realizado em 2008. Por meio de entrevistas com 1.853 participantes da Conferência da Juventude, realizada em Brasília naquele ano, ela e um grupo de pesquisadores verificaram que as três organizações nas quais os jovens menos confiam, são, pela ordem: partidos políticos, Congresso Nacional e polícia.
Uma das informações mais surpreendentes do estudo é que 50% dos entrevistados declararam que são filiados a partidos. Isso significa que, mesmo quando engajados em organizações partidárias, os jovens estão descontentes com a estrutura hierarquizada e verticalizada que as caracteriza.
Coletivo. A verticalização é rejeitada pelas organizações de periferia analisadas na pesquisa Comunicação e Juventudes em Movimento, do Ibase. Segundo sua coordenadora, Marina Ribeiro, grupos de jovens como os de hip hop tendem a privilegiar a horizontalidade, do processo de tomada de decisões à ação.
Um dos focos de interesse do estudo do Ibase foi o uso de novas tecnologias pelos grupos de periferia, especialmente as redes sociais. "Encontramos jovens que, organizados em torno de questões sociais e políticas, usam as novas tecnologias para promover articulações, divulgar suas demandas e denúncias e, ao mesmo tempo, dar publicidade ao que fazem, criando eco na sociedade", explica a socióloga.
Na avaliação dela, o resultado contraria o senso comum: "Acredita-se que jovens da periferia usam as lan houses apenas para sessões de bate-papo. Mas não foi isso que vimos. Entre jovens moradores de favelas, as redes têm ajudado na construção da identidade dos grupos e das comunidades ."
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Alternativa
"Ao negar os partidos políticos eles não estão dizendo que não precisam de representação ou do Congresso Nacional"
Miriam Abramovay
DA FACULDADE LATINO-AMERICANA DE CIÊNCIAS SOCIAIS


Engajamento agora é outro, revela pesquisa


Vitória. Memros do Passe Livre fazem festa após redução da tarifa em São Paulo


Levantamento apoiado pelo CNPq detalha ação política dos jovens fora de estruturas partidáriasRoldão Arruda
Os jovens brasileiros desconfiam dos políticos e estão cada vez mais desencantados com os partidos. Isso não provoca, no entanto, o seu afastamento automático de atividades politicamente engajadas. Ligado a organizações que se caracterizam pelo uso de redes sociais e pela estrutura pouco hierarquizada, um número significativo de jovens está se mobilizando em torno de um amplo leque de questões políticas e sociais.
Temas que vão da mobilidade urbana à organização de grupos de hip hop e cineclubes na periferia das grandes cidades fazem parte do cotidiano desses moças e moças, de acordo com três grandes pesquisas realizadas recentemente sobre juventude no Brasil. Embora conduzidas por diferentes pesquisadores e com focos diversos, as três apontaram na mesma direção.
A mais ampla delas, apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi concluída no ano passado. Ouviu cerca de quatro mil jovens e a análise de seus resultados ainda não foi completamente esgotada.
Denominada Juventude e a Experiência da Política no Contemporâneo, essa pesquisa focalizou grupos organizados e fora das estruturas políticas partidárias. O resultado surpreendeu os pesquisadores, sobretudo pela sua variedade.
Foram localizados desde estudantes fortemente articulados no Movimento Passe Livre na região Sul a grupos de hip hop no Nordeste. A lista também inclui jovens em sindicatos rurais, coletivos em escolas públicas e privadas e rádios comunitárias, entre outros casos. "Nos deparamos com muitos grupos em diferentes inserções, em torno de algum objetivo comum, visando alguma transformação social", diz a coordenadora da pesquisa, a psicóloga Lúcia Rabello de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Uma das características desses grupos que mais chamaram a atenção foi o desencanto com as formas convencionais de fazer política. "Eles se queixam de estruturas muito verticais e hierarquizadas, com pouco espaço para o que têm a dizer", relata a coordenadora.
Periferia. Também em 2012, quando ainda pareciam inimagináveis as marchas de protesto ocorridas neste ano, a pesquisa Comunicação e Juventudes em Movimento, organizada pelo Instituto Brasileira de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), apontou na mesma direção. Mesmo com foco mais restrito, de estudos de caso, ela detectou a efervescência de movimentos de jovens de periferia que recorrem cada vez mais a novas tecnologias de comunicação para se organizar e agir.
A coordenadora da pesquisa, socióloga Marina Ribeiro, observa que, embora a porcentagem de jovens organizados ainda seja muito pequena, é significativo o feito de estarem se estruturando cada vez mais fora dos partidos, sindicatos e movimentos sociais já conhecidos. A estudiosa também assinala a existência de um alto grau de insatisfação entre esses jovens.
Ela é causada por razões que vão da precariedade de serviços públicos à falta de acesso a bens de consumo. "Foram essas insatisfações que levaram um milhão de pessoas às ruas", diz.
A terceira pesquisa, Quebrando Mitos: Juventude, Participação e Políticas, é a mais antiga das três. Realizada em 2008, ela detectou insatisfação dos jovens com a estrutura partidária onde menos se esperava, entre militantes de partidos.
Para a coordenadora do estudo, a socióloga Miriam Abramovay, o resultado foi um anúncio: "Ao rever o que apuramos no levantamento, concluo que tudo o que vimos agora na rua está sendo anunciado há algum tempo".
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Variedade
"Nos deparamos com muitos grupos em diferentes inserções visando alguma transformação social" Lúcia Rabello
PSICÓLOGA QUE COORDENOU PESQUISA

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