BUENOS AIRES - O governo venezuelano viola cláusulas democráticas fundamentais do Mercosul e, longe de condenar esta atitude, seus sócios regionais reforçaram a denúncia do Palácio Miraflores sobre uma suposta tentativa opositora de “desestabilizar a ordem democrática” no país. Esta é a opinião do economista uruguaio José Manuel Quijano, que foi diretor da Secretaria do Mercosul nos anos de 2009 e 2010, compartilhada por analistas venezuelanos como Elsa Cardozo, professora da Universidade Central da Venezuela (UCV), que considera “irresponsável” o silêncio do bloco diante das violações dos direitos humanos que estão sendo cometidas com estudantes e opositores”. A postura dos parceiros de Maduro na região, que em nota oficial respaldaram o presidente bolivariano, contrasta com a de organismos como as Nações Unidas e a Organização de Estados Americanos (OEA), que manifestaram sua preocupação pela violência na Venezuela e os abusos cometidos pelo governo e forças policiais locais, confirmados por informações e imagens divulgadas nos últimos dias por ONGs locais.
— Demoramos dez anos para construir um pensamento sobre democracia no Mercosul, e o bloco exige uma democracia representativa e respeito aos direitos humanos. A Venezuela não cumpre estas exigências, e o Mercosul está ignorando dez anos de trabalho — lamentou Quijano. Para este especialista em integração sul-americana, o silêncio do Mercosul se deve, basicamente, a dois motivos: interesses comerciais e a incerteza sobre o que aconteceria se o bloco pressionasse Maduro. Segundo ele, a democracia representativa que se pratica na Venezuela é de uma fraqueza alarmante” — A Venezuela é um importante parceiro comercial, principalmente para países como Uruguai e Argentina. Mas a situação é delicada e acho que, no mínimo, os países da região deveriam expressar preocupação — enfatizou o ex-diretor da secretaria do Mercosul. Na visão da professora da UCV, o Mercosul não defende regimes democráticos, defende governos aliados. — Os governos do bloco deveriam ser controlados, deveriam submeter-se a exames de conduta. A atitude do Mercosul é uma falta de respeito à democracia venezuelana e aos venezuelanos — assegurou Elsa. Na segunda-feira, o Parlasul (o Parlamento formado por membros de todos os países do bloco) lamentou a violência na Venezuela e criticou “ingerências externas” no país, mas não fez qualquer menção às acusações sobre a suposta responsabilidade do governo na morte de três pessoas nos protestos da semana passada nem às denúncias sobre supostas torturas a manifestantes detidos. Já o alto comissário de Direitos Humanos da ONU, Rupert Colville, condenou recentemente o ataque a manifestantes por parte de grupos armados e o cerco à imprensa. A reposta de Maduro foi enfática: — Peço a Rupert Colville que não seja um abusador. Se ele quer saber sobre a Venezuela, que me telefone ou venha para cá. |