Walmyr Junior *
Jornal do Brasil
O Brasil carrega a triste 7ª posição no ranking de países mais violentos do mundo. Os dados apontam que 56.337 pessoas perderam a vida assassinadas no país no ano de 2012, 7% a mais do que em 2011. O crescimento de 13,4% de registros desse tipo de morte, comparados ao ano de 2002, equivalem a um pouco mais que o crescimento da população total do país, que foi de 11,1%.
Com uma perspectiva de elucidar a identificação das causas da violência nas cidades, temos um instrumento que fala da triste constatação do genocídio da população negra no país. O Mapa da violência deste ano anuncia uma tragédia que atinge toda a população brasileira, mas os casos de homicídios relatados no documento só mostra o que temos anunciado há muito tempo.
Não somos números, estamos falando de um retrato cruel das diferenças raciais no Brasil e os problemas enfrentados por cada família negra brasileira. Estou me referindo ao assassinato de jovens negros entre 15 a 29 anos, que consolidam 30.072 mortos. O número representa 53,4% do total de homicídios do país.
Mas por que este índice de mortalidade só aumenta?
A sociedade brasileira está acostumada a naturalizar a violência e junto com essa lógica o racismo institucional é utilizado como ferramenta de manutenção dessa sociedade que não só mata, mas deseja banir a juventude negra dos espaços de sociabilidade.
A política de segurança do Estado brasileiro corrobora com o sistema racista e faz da militarização da sociedade uma maneira de analisar o cidadão pela sua renda, por sua cor e por suas características físicas, interpretando assim quem é bandido ou não.
Por isso é tão importante debater a desmilitarização da Polícia Militar (PM). Quem não se lembra dos 111 presos assassinados em 1992 durante o Massacre do Carandiru? E o desaparecimento do Amarildo? E o assassinato da Claudia, do Douglas (o DG) e tantos outros que sucumbiram por causa da violência e despreparo policial? Esses casos, somados aos inúmeros flagrantes de abusos durante as manifestações de junho/2013, nos faz pensar sobre a urgência da desmilitarização ou mesmo o fim da PM como uma das alternativas para acabar de vez com essa indústria da morte.
Outra alternativa para conter o extermínio da juventude negra é a aprovação da Lei que implica no fim dos autos de resistência. Por conta do auto de resistência, que é uma forma de manter impune os policiais que reagem de forma violenta contra a população, o Estado mantem um aparelho policial que tem como método o fim de quem sofre a maior violência. O negro da favela, por possuir ‘o estereotipo subversivo’, é o maior perseguido pelos policiais que se beneficiam do esquema fraudulento dos autos de resistências. É através dessa proteção do Estado que o PM mata e não é julgado como criminoso.
O projeto democrático e popular tem conseguido conquistas importantes no ultimo período, como o aumento da presença de jovens negros na universidade e ampliação da renda dos postos de trabalho formal e da renda media do trabalhador. As Leis de Cotas, o JUVENTUDE VIVA, o PRONATEC, o REUNE e o PROUNI, o BOLSA FAMÍLIA são algumas soluções temporárias que o governo tem pensado para incluir o jovem negro na dinâmica da ocupação do espaço social. Mas precisamos ir além, precisamos dar espaço para jovem negro buscar sua emancipação.
Quando o jovem negro é impedido de ocupar os mais variados espaços,quando não consegue um emprego ou um salário descente, quando não tem acesso a educação, saúde, moradia, lazer e tantas outras necessidades básicas,ele vai optar por assumir o discurso violento que a sociedade naturaliza e reproduz. Essa catarse de violência faz do oprimido o seu próprio opressor, ou seja, o jovem, pobre e negro acaba virando o vilão da sua própria gente, alimentando o Mapa da Violência e relatando que o fim do povo negro do Brasil pode estar próximo.
* Walmyr Júnior Integra a Pastoral da Juventude da Arquidiocese do Rio de Janeiro, assim como a equipe da Pastoral Universitária Anchieta da PUC-Rio. É membro do Coletivo de Juventude Negra - Enegrecer. Graduado em História pela PUC-RJ e representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.
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