12 de setembro de 2014

HÉLIO SCHWARTSMAN Armadilhas da medição


SÃO PAULO - Até certo ponto é verdadeira a máxima de que só conhecemos aquilo que conseguimos medir. Mas é preciso acrescentar que medições podem ser traiçoeiras.
Tomemos o caso da educação. A maneira mais óbvia de aferir se uma escola está funcionando é submeter seus alunos a um teste. Se, na média, forem bem, a instituição está cumprindo seu papel. Caso contrário... O problema é que, quando pulamos da prancheta da razão para a realidade, as coisas podem funcionar de outro jeito.
Quando uma medição é percebida como relevante pelos agentes que podem reagir a ela modificando seu comportamento, saímos do terreno da linearidade para entrar no reino da complexidade. Se você quer que o colégio que você comanda fique bem no retrato dos testes, o que de melhor pode fazer é reprovar os piores alunos, para que eles nunca façam o exame. O problema é que, na educação básica, não é desejável ter um sistema que promova reprovações em massa, assim como não é desejável ter um em que todos passem de ano mesmo sem aprender nada.
O Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, calculado pelo Inep, até que resolve bem essa questão, ao considerar não apenas o desempenho em provas mas também as taxas de repetência. Num exemplo hipotético, uma rede que tenha nota 5 nos testes padronizados, mas cujos estudantes levem em média dois anos em vez de um para completar a quarta série ficará com nota 2,5 e não 5 no Ideb.
Engenhoso, mas, como me fez ver o professor Renato Pedrosa, da Unicamp, isso ainda não é tudo. Como quem vai mal na escola tem maior tendência a abandoná-la, é bem diferente tirar a nota 4 com 65% da população-alvo frequentando o curso, caso do DF no recém-divulgado Ideb do ensino médio, e obter o mesmo conceito com apenas 51%, como se deu com o RJ. Está aí um problema para o pessoal do Inep tentar equacionar.

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