01-DEZ-2014 | |
JORNAL DO DIA - SE
Reproduzimos um diálogo entre um jornalista curioso para saber a quantas anda a nossa educação, e um estudante de 13 anos cursando o 9º ano de uma escola no interior do estado.
- Você já leu algum livro além dos escolares?
- Não.
- Seus professores lhe recomendaram algum livro?
- Uma professora disse para eu ler Dom Quixote.
- Ela falou alguma coisa sobre o Dom Quixote?
- Não, nada.
- Qual a matéria que você mais gosta?
- Geografia.
- Você sabe as capitais dos estados?
- Sei
- Então vamos lá: Amazonas? (nada), Ceará? (nada), Pernambuco? (nada), Minas Gerais? (nada).
Afinal, acertou as capitais de três estados: Alagoas, São Paulo, Rio de Janeiro, e disse saber que Brasília era a capital do Brasil.
- Você sabe a capital de algum país, além do Brasil?
- Acho que não.
- Você estuda inglês?
- Estudo.
- Há quantos anos?
- 3 anos.
- Sabe alguma palavra em inglês?
- Sei, are.
- O que é are?
- É um verbo.
- Seria o verbo to be?
- O que é isso?
- Sabe algum número em inglês.
- Sei. (citou corretamente de one a ten)
- Ontem foi o Dia da Consciência Negra, falaram sobre isso na sua Escola?
- Falaram, falaram em Zumbi.
- Quem foi ele?
- Ele lutou pelos escravos.
- Quem assinou a Lei acabando a escravatura no Brasil?
- A Rainha da Inglaterra.
Alunos como este, vítima de um sistema disfuncional, não existem apenas em Sergipe. Eles estão em todos os estados brasileiros, aos milhares, aos milhões.
Cada dia que passa, em cada escola pública, um jovem brasileiro deixa de colocar um tijolo na construção do seu próprio futuro. A manutenção deste modelo emperrado é o mesmo que abrir para o Brasil a tampa de lixo da História.
Se os políticos principalmente senadores, deputados, vereadores, não começarem a entender a educação como uma Política de Estado, necessariamente afastada das ingerências eleitoreiras, não haverá presidente, não haverá governador nem prefeito que consiga realizar as transformações necessárias. O professor não pode ficar olimpicamente ausente dessa luta que não se resume à conquista de salários. Qualquer melhoria na qualidade do nosso ensino só será alcançada quando houver um processo criterioso e permanente de avaliação. Isso acontece em todos os locais onde a escola apresenta bons índices de aproveitamento, auferíveis através do desempenho dos alunos, com isso, avalia-se também a capacidade revelada por cada professor para transmitir com eficiência o conhecimento.
Por outro lado, dos docentes recebendo salários incompatíveis com a dignidade e a importância da função que desempenham, não se poderá exigir muito. Os alunos não podem ser penalizados com as greves infindáveis que transformam o calendário escolar numa mera peça de ficção.
A persistência de um conflito recorrente, algumas vezes radicalizado, entre as representações dos docentes e o poder público, poderá favorecer eventuais interesses eleitoreiros particulares, mas é um malefício que recai sobre a sociedade em geral, e terá de ceder lugar ao diálogo democrático do qual participem o professor, os pais de alunos, os próprios alunos , o poder político, o Ministério Público.
Enquanto o interesse eleitoral cercar a escola com a nomeação política de diretores, vice-diretores, secretários, e ainda ocupando espaços nos pontos nevrálgicos da gestão educacional, não se terá ensino eficiente, porque administração e comitês eleitorais não se devem misturar. Por isso, é preciso fechar as portas das Secretarias da Educação para políticos sonhando com candidaturas.
Cheguemos especificamente a Sergipe. No governo Marcelo Déda, depois que um técnico como o professor José Lima foi derrotado em seus propósitos de qualificar o ensino, profissionalizando sua gestão, Déda procurou alguém com maior experiência política, exatamente para dialogar politicamente e tentar reduzir a pressão eleitoreira sobre a gestão do ensino. O escolhido foi o seu vice no primeiro mandato Belivaldo Chagas, que não era exatamente um técnico na área, mas, um quadro dotado de sensibilidade, trânsito político e infinita disposição para dialogar, sobretudo alguém que dera por encerrada a sua carreira política e não almejava ser candidato a nenhum cargo eletivo. O conflito foi reduzido, mas hoje, fazendo uma analise retrospectiva sobre os seus suarentos anos à frente da Secretaria da Educação, Belivaldo está convicto de que nenhum esforço dará plenos resultados enquanto o interesse eleitoral não se afastar da escola. Esse era também o objetivo duramente perseguido pelo governador Marcelo Déda. Ele encontrou as maiores resistências dentro do seu próprio partido.
Na cruzada que faz pela educação o senador Buarque só enxerga uma forma de afastar do ensino público as mazelas que nos municípios e nos estados, principalmente os mais pobres, fazem das nossas escolas essas fabricas de analfabetos funcionais que temos hoje. Buarque tem um projeto para federalizar os dois níveis de ensino que competem constitucionalmente aos estados e municípios. Ele propõe a avaliação do desempenho de cada escola; meritocracia na escalada funcional dos educadores, e, para eles, um salário base de 9 mil e 500 reais, o que estaria fora do alcance de estados e municípios, mas, poderia ser conseguido com a federalização. Cristóvão quer também a escola em tempo integral, tal como sonharam Darci Ribeiro e Leonel Brizola.
O professor Jorge Carvalho com a experiência que acumula na área da educação, e o saber que foi ampliar em um doutorado na Alemanha, enxerga na ideia do senador uma espécie de luz no fim do túnel onde mergulhou a escola pública brasileira.
No município de Aracaju parece que surgem boas noticias na educação com a queda de braço vencida pela secretária Márcia Valéria. Ela vai implantando o sistema de avaliação do desempenho das escolas, e para isso teria carta branca do prefeito João Alves.
No caso da rede pública estadual o problema é bem mais complexo, o desafio é ainda maior. E aqui não cabe enumerar os obstáculos que terão de ser enfrentados.
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