Chile, Colômbia, México e Peru aprofundam integração comercial, enquanto Brasil marca passo com Argentina no emperrado Mercosul
Causam apreensão os avanços na integração comercial de países da América Latina que não comungam de ideologias "bolivarianas". Enquanto isso, do lado de cá dos Andes, o Brasil perde tempo.
Reunidos na Colômbia, os líderes de Chile, Colômbia, México e Peru reforçaram acordos de liberalização comercial. O grupo, que forma a Aliança para o Pacífico, decidiu pela isenção total de tarifas para 90% dos produtos comercializados entre si. Resta discutir detalhes, mas as novas regras devem vigorar a partir de 30 de junho.
Não é pouca coisa. A Aliança soma 209 milhões de habitantes e PIB próximo de US$ 2 trilhões. Não fica longe, assim, do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela), que tem 279 milhões e PIB de US$ 3,3 trilhões.
Se a Aliança avança para se tornar uma área de livre comércio, o Mercosul patina, tolhido pelo lastro de problemas econômicos dos protagonistas (Brasil e Argentina), além do caos venezuelano.
Noticia-se que a Aliança pode também atrair novos países. Dois membros do próprio Mercosul --Paraguai e Uruguai-- são observadores. Além disso, o bloco se alinha naturalmente com a estratégia para o Pacífico lançada pelos EUA.
É fato que o Brasil errou em sua estratégia comercial ao privilegiar o multilateralismo --que não teve avanços na última década, por conta da paralisia da Rodada Doha-- e negligenciar acordos regionais ou bilaterais de liberalização. Mas tais diretrizes não são excludentes. O problema principal do Brasil deriva da falta de visão estratégica e de barreiras ideológicas ao conceito de livre comércio.
Na última década, o país permaneceu preso a uma visão antiquada e ineficaz de protecionismo, ainda pautada pela substituição de importações.
O governo não se dá conta de que o comércio internacional --e a própria conquista da competitividade-- se pauta pela integração nas cadeias produtivas globais, para ganhar escala e incorporar tecnologia, nem de que a integração ocorre mais entre firmas, isto é, cada empresa com suas próprias redes. Isso pressupõe abertura tarifária e menos barreiras técnicas.
Tal é a agenda perseguida pelos membros da Aliança, cujo avanço conta com o apoio entusiasmado de suas lideranças empresariais. É flagrante o contraste com o desânimo do setor privado brasileiro diante do Mercosul.
Está mais que na hora de o Brasil reavaliar seu modelo de inserção global, hoje incompatível com sua dimensões e sua estrutura econômica diversificada. No entanto, como na política econômica, esse tipo de pensamento estratégico não parece vicejar no governo.
Editorial, Folha de S.Paulo, 3/6/2013
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