Só uma transformação significativa do sistema educacional é capaz de mudar o curso da nossa história e colocar o Brasil no caminho do desenvolvimento; e esta é a nossa última chance
Ana Maria Diniz
03 Maio 2018 | 12h17
Sábado, 28 de abril, foi o Dia da Educação. Criada há 18 anos, durante o Fórum Mundial de Educação, em Dakar, a data representa o compromisso das 164 nações ali reunidas, entre elas o Brasil, em oferecer uma Educação de qualidade para suas populações. Por conta da ocasião, e a convite do Valor Econômico, escrevi um artigo sobre a urgência de priorizarmos a Educação em nosso país. O texto, que reproduzo para os leitores do blog, foi publicado sexta, dia 27, na versão impressa do jornal:
Muito se discute sobre qual reforma, dentre as tantas necessárias no Brasil, o próximo presidente irá priorizar logo após tomar posse, em janeiro de 2019. Como se sabe, os primeiros 100 dias de um governo são cruciais para se emplacar mudanças que poderão ditar os rumos do país não só durante o novo mandato, mas nas décadas seguintes.
No páreo, concorrendo ao primeiro lugar, estão a Reforma Política, pela gritante necessidade de substituir o sistema atual por um que funcione e que atraia gente boa e compromissada com os objetivos da sociedade, a Reforma da Previdência, pela urgência inequívoca do equilíbrio das contas públicas, e a Reforma Tributária, capaz de tornar o Brasil um país mais competitivo e turbinar o progresso.
Mas qual é a Reforma Mãe? A que colocará, de fato, o Brasil em outro patamar de desenvolvimento e de inserção no mundo? Para mim, é a Educacional. Se não encararmos de frente o problema da Educação, vamos parar no tempo. Nenhum país rompeu um ciclo vicioso de pobreza, corrupção e violência sem uma Educação de qualidade e digna.
Desde 1990, aumentamos a oferta de vagas, mas ainda não oferecemos um bom ensino. Nada menos que 55% das crianças até o 3º ano do Fundamental não estão aptas a ler e escrever estruturas simples. Quase metade dos estudantes tem nível de aprendizagem inadequado, mostra o PISA, e isso independe de condição social: os alunos com maior nível socioeconômico têm desempenho pior do que os mais pobres de Macau e Vietnã.
Várias condições tornam a nossa Educação uma das mais atrasadas do mundo. O mau uso do dinheiro público é uma delas. Outra é a burocracia. Ambas sobrecarregam o setor público, aniquilam a produtividade e prejudicam a Educação, nos prendendo a um looping de retrocesso. Enfim, criamos um sistema educacional mais preocupado em manter a máquina funcionado, muitas vezes para beneficiar o próprio sistema, do que com a aprendizagem.
Eu acredito que esta é a nossa última chance de colocar o ensino em primeiro lugar. Para isso, precisamos de um plano estratégico, com etapas e passos bem definidos não só na implementação, mas na continuidade, e que contemple ao menos três mandatos. Estudos do Todos pela Educação mostram que é possível mudar a cara da nossa Educação em doze anos.
Este plano precisa de ingredientes nada misteriosos ou milagrosos: um projeto bem arquitetado para a erradicação do analfabetismo; um projeto sério de valorização do professor; uma política nacional para a Primeira Infância; um governo que coordene a ação de quem executa a Educação na ponta (estados e municípios), dê incentivos e fiscalize a implementação de diretrizes para que todos tenham acesso a um ensino qualificado.
A exemplo do Chile e da Coreia do Sul, o Brasil deveria ter a Educação no centro de suas reformas. Com os devidos esforços no setor, em 20 anos esses dois países aumentaram a produtividade e hoje trilham um caminho mais próspero. No Brasil, todo o lavor das últimas três décadas em torno da Educação parece ter sido inócuo. Nossa produtividade permanece estagnada em sua “soneca de 50 anos”, como colocou a revista The Economist.
Para que mudar o curso da nossa história, não basta a crença de que sem Educação não há progresso. Nem é suficiente o comprometimento dos políticos que virão a assumir o país em elevar a qualidade do ensino. É preciso coragem para encarar nossas fraquezas, detectar onde erramos e, a partir daí, iniciarmos uma transformação profunda e significativa do sistema educacional, uma mudança alinhada com o projeto de país que pretendemos ser.
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