13 de março de 2010

O desafio da inclusão digital

Jorge Werthein (*)

Os dados do IBGE sobre acesso
à internet e posse de telefone móvel
para uso pessoal confi rmam: a inclu-
são digital ainda é um desafi o sob vá-
rios aspectos no Brasil. Constatou-se
que houve crescimento substancial no
número de conectados, porém ainda
existem 104,7 milhões de brasileiros
excluídos do mundo digital, segundo
dados da Pnad (Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios) recolhidos
pelo IBGE em 2008 e divulgados no
fi nal do ano passado.
A expansão da renda e do crédito
possibilitou que o número de brasi-
leiros com acesso à rede mundial de
computadores aumentasse 75% em
três anos, passando de 32 milhões
para 56 milhões de pessoas. No mes-
mo período, 30 milhões de brasileiros
adquiriram, pela primeira vez, um
aparelho de telefone celular. O total de
brasileiros com linha individual soma
86 milhões, um aumento de 53,6%
em comparação a 2005.
A ampliação do acesso, felizmen-
te, parece estar em bom caminho.
O novo retrato do Brasil na internet
é este: 34,8% da população está
conectada – em 2005, o percentual
era 21%. O resultado é superior ao da
média mundial -25,8%.
O crescimento da quantidade
de incluídos ocorreu de modo mais
acentuado nas regiões Nordeste e
Norte. O incremento foi de 12% para
25%, e de 12% para 27,5%, respec-
tivamente. No total, chega a 24 mi-
lhões o contigente de brasileiros que
descobriram a internet entre 2005
e 2008. Em média, o novo usuário
tem 27 anos de idade e renda de até
um salário mínimo. Acessa a rede
mundial de computadores em casa
ou em uma Lan House, por banda
larga, e também está cadastrado
O desafio da inclusão digital
(*) Jorge Werthein – Doutor em
Educação pela Stanford University.
Ex-representante da UNESCO
no Brasil. Vice-presidente
da Sangari Brasil
no site de relacionamento Orkut para
encontrar amigos.
Assim como no uso da internet,
o IBGE identifi cou o maior salto, em
termos proporcionais, entre grupos
de baixa renda. Entre pessoas com
renda familiar per capita entre zero
e um quarto de salário mínimo, 11%
tinham celular em 2005; agora, 1 em
cada 4 tem o aparelhinho.
O caminho que deve ser percorri-
do, agora, é aquele que nos levará à
universalização do acesso. Segmentos
populacionais específi cos, como pes-
soas idosas, menos escolarizadas ou
ambas, ainda fi guram como minoria
entre os usuários. E permanece o
contraste acentuado entre regiões:
o Norte, como já dissemos, detém
percentual de usuários da internet de
apenas 27,5%, enquanto o Sudeste
conta com 40,3%.
Além disso, cabe salientar o as-
pecto referente ao motivo de uso da
rede. A comunicação entre as pessoas
aparece na pesquisa como o principal,
superando os fi ns educacionais e de
aprendizado, em terceiro lugar.
Daí a importância de programas
que operem em diversas frentes.
A facilitação do acesso deve estar
acompanhada da preocupação com a
formação. Se há 65% de pessoas com
dez anos ou mais de idade sem acesso
à internet no Brasil, e isso merece
atenção e providências, também é fato
que os 35% que integram a comunidade
virtual nem sempre sabem aproveitá-la
adequadamente.
Tirar o devido proveito da tecno-
logia pode ser um desafi o tão grande
quanto ou maior do que ter acesso a
ela. Para superá-lo, o papel da edu-
cação (leia-se escola) é fundamental,
a começar pela própria inclusão e
capacitação dos professores nas novas
tecnologias.
Quanto aos estudantes, a inserção
de uma disciplina como tecnologia da informação no currículo certamente
contribuiria para a formação de
usuários mais conscientes e aptos
a maximizar o aproveitamento de
ferramentas como a internet e os
celulares.
Na atual era do conhecimento, é
preocupante que a educação esteja
perdendo espaço para a comunicação
interpessoal (ainda que essa também
seja de extrema importância) e o lazer
na rede mundial de computadores.
Esse talvez seja um indício de que a
escola ainda não está sufi cientemente
integrada às novas tecnologias e, com
isso, as esteja subaproveitando.
Portanto, torna-se cada vez mais
relevante a educação em ciência
e tecnologia desde a infância. Ao
ritmo em que avança a sociedade
contemporânea, em termos de de-
senvolvimento científi co-tecnológico,
relegar esse tipo de formação a um
segundo plano representa prejuízo em
diversos níveis tanto para indivíduos
quanto para nações.
A educação de qualidade é uma
tarefa de todos, para todos e a ser
desenvolvida com todos. E precisa inse-
rir-se em clara estratégia de desenvol-
vimento, como o fi zeram, no século 19,
Argentina, Uruguai e Costa Rica, entre
outros países, e, na história recente,
Cuba, Irlanda, Espanha e Coreia do Sul.
Agora, no início do século 21, a América
Latina está na posição de perceber o
que se passa no mundo desenvolvido. É
tempo de correr para reduzir a distância
que separa os desenvolvidos dos em
desenvolvimento. O caminho mais
curto está na educação.

Diarioa da Serra, Botucatu,SP

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