Brasil está longe de produzir tablets | |
Pesquisa realizada pelo Ipea mostra que as empresas nacionais do setor de informática e telecomunicação estão atrasadas e defasadas Um longo caminho terá de ser percorrido até que a indústria nacional tenha condições de produzir tablets para serem vendidos a preços populares, como quer a presidente Dilma Rousseff. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que servirão de base para a elaboração de uma vertente da política industrial para o setor de informática e telecomunicações mostram que as empresas brasileiras, atrasadas e com pouca retaguarda em pesquisa tecnológica, terão de entrar num mercado no qual concorrerão com empresas globais como Alcatel-Lucent e Nokia. Na média, as empresas líderes de mercado mundial faturam R$ 2 bilhões ao ano. Em comparação, as líderes nacionais faturam em média R$ 20 milhões cada. Enquanto o Brasil investe 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em tecnologia de informação e telecomunicação, os norte-americanos aplicam 0,65% do PIB e os europeus, 0,31% do PIB. "Se a gente não começar a produzir, não vai produzir nunca", diz a pesquisadora do Ipea Fernanda De Negri, reconhecendo que a indústria nacional está em desvantagem. Ela considera que, apesar do tamanho do desafio, vale a pena enfrentá-lo porque esse setor concentra nada menos do que 35% de tudo o que o mundo investe em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil não pode ficar de fora se quiser ter uma economia moderna. "Esse setor é chave não só pela inovação, mas também porque tem um impacto profundo sobre a competitividade", afirmou. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ainda não definiu que medidas tomará para concretizar o plano da presidente Dilma de fortalecer a indústria nacional. "A presidenta disse que é importante colocar um olhar nesse setor", disse ele ao Estado. "Queremos aumentar o grau de nacionalização, por isso estamos vendo o que é utilizado pela indústria e o que é fabricado aqui, quais as condições em que as indústrias trabalham para começar a discutir", completou Bernardo. Os instrumentos de que o governo tradicionalmente dispõe para estimular setores são o corte de tributos (desoneração) e o crédito. São duas opções cuja adoção é mais difícil num período de ajuste fiscal como será o ano de 2011. "Vai ter disciplina fiscal, todo mundo está ciente disso", afirmou Bernardo, que até o mês passado chefiava o Ministério do Planejamento, responsável pelos cortes no Orçamento. "Mas vamos conversar e ver o que é possível fazer." Os estudos realizados pelo Ipea identificaram que um dos principais gargalos a serem superados pelas empresas nacionais é a produção pequena e concentrada em nichos. Segundo constataram os pesquisadores, a brasileira Padtec produz equipamentos de rede e vende serviços de manutenção para operadoras de telefonia. Enquanto isso, uma concorrente como a Nokia fabrica desde celulares até equipamentos de porte para operadoras. Os clientes da Alcatel-Lucent vão desde operadoras até governos, passando por empresas de grande, médio e pequeno porte. "Antes, as empresas se concentravam só num pedaço do mercado", disse a pesquisadora do Ipea. "Hoje elas produzem celular, produtos para operadoras de telefonia, vendem serviços de operação, produzem software." Essa mudança de estratégia não foi acompanhada pelas empresas brasileiras. A produção nacional tampouco acompanha a tendência mais forte do mercado hoje, que é a produção de terminais (celulares, I-pads e outros). Além disso, as empresas sediadas no Brasil não conquistaram um mercado global, a exemplo de suas concorrentes. As exportações nacionais ficam na casa dos US$ 19 milhões, contra US$ 2 bilhões das multinacionais. Falta ainda mão de obra especializada. "O governo tem fontes de recursos importantes, que usados de forma coordenada podem ser um impulso razoável", disse Fernanda. O Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Comunicações (Funttel) dispõe de R$ 200 milhões ao ano para serem aplicados em pesquisa. Na avaliação de Fernanda, juntando o Funttel, os recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os benefícios previstos na Lei de Informática, é possível estruturar uma política de desenvolvimento para o setor como pretende Dilma Rousseff. (Lu Aiko Otta) (O Estado de SP, 16/1) |
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