A realização de feiras, olimpíadas, prêmios e concursos científicos, em conjunto com a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, se apresentam como bons indicadores na recente empreitada brasileira rumo ao fortalecimento da educação cientifica e da popularização das ciências. Na educação básica, essa empreitada deve buscar, de outro modo, que os educandos possam compreender e refletir sobre o mundo das ciências em detrimento a visões empírico-indutivistas que são invariavelmente disseminadas entre os jovens tanto na educação formal quanto na informal/não formal. Nesse contexto o ensino de ciências se mostra, em grande parte, escasso de recursos, desatualizado e carente de professores que tenham uma formação sólida e assim possam estimular a experimentação, a curiosidade e a criatividade, características expurgadas no contexto do ensino de ciências. Popularizar as ciências não é uma tarefa simplista que possa ser resolvida apenas no chão da escola, é uma empreitada que perpassa diversas instâncias dentro da sociedade e constantemente se esbarra em obstáculos burocráticos e políticos que ainda devem ser vencidos no Brasil.Não é incomum escutar ou ler que a escola básica padece de eficazes resultados e que nela se acumulam diversos problemas estruturais (funcionamento do sistema), sociais(alunos, professores, funcionários e comunidade) e principalmente pedagógicos (um mix dos outros e muito mais). Isso pode ser constatado na diversificada literatura que trata de temas ligados a educação básica e que nesse exato momento ocupa a mente de autores de muitas monografias, dissertações e teses que buscam indicadores e/ou soluções/esclarecimentos/confirmações para os ditos "distúrbios" no processo ensino e aprendizagem, em particular, na educação pública. Mesmo assim a escola se supera e consegue produzir em terreno dito "infértil" alguns poucos resultados positivos em prol da instauração de uma cultura de C&T. Muitos desses resultados estão ligados à educação cientifica, quando alunos e professores de escolas públicas produzem projetos de ensino e/ou aprendizagem,em áreas diversas como engenharia, saúde e ciências sociais. É nesse momento que a pesquisa se insere no ambiente escolar, tendo muitas dessas ações vinculadas a instituições cientifica [Universidades e Centros de Pesquisa] e em alguns casos conseguem premiações que valorizam os trabalhos produzidos, dando um significado ao que é estudado e aproximando os jovens das ciências. Do outro lado da balança está o principal motivo que faz insurgir o presente texto: a incapacidade de manutenção de tais atividades quando estas não são fomentadas no contexto da escola. Exemplo claro é o grande número de projetos oriundos de escolas públicas que deixam de ser apresentados em feiras como a Febrace, por falta de recursos para que professores e alunos, que não residem em São Paulo, possam apresentar seus projetos classificados como finalistas durante a mostra de trabalhos. É necessária uma tomada de conhecimento por parte das secretarias de educação em suas diversas instâncias [municipais e estaduais] sobre quais atividades estão sendo desenvolvidas nas escolas e, de outro modo, possam ser viabilizados recursos materiais e financeiros, em especial, quando se trata de apresentação de trabalhos que demandem hospedagem e translado de professores e alunos fora de sua cidade. Professores e alunos, nesse contexto, precisariam se preocupar com o desenvolvimento e conclusão das pesquisas, sua metodologia e seus alcances. Porém, na presente conjuntura, além dos itens já citados, devem "bater em diversas portas" explicando seu projeto, postulando auxilio e ficando a mercê de recursos que até o último momento são duvidosos e em muitos casos não são disponibilizados. Um País que almeja, mesmo que remotamente, um crescimento econômico e social deve se preocupar com a educação de sua população. Isso é fato! Penso que indiscutível. A educação está além dos muros da escola e por ela perpassa os rumos de uma nação. É por isso que ela está na agenda dos diversos países que apostaram em seu potencial e tornaram-se bem sucedidos em suas empreitadas. Japão, Espanha, Estados Unidos da América, França e Israel, são alguns exemplos, tanto que invariavelmente copiamos seus modelos educacionais. O caso da cópia sem contexto, não é foco do presente texto, mas tais países remetem a reflexão de quais os reais motivos que o Brasil não consegue estabelecer rumos eficazes em relação a um "modelo" próprio de educação sem se prestar aos sabores de delírios financeiros e aos requintes de algumas mágicas pseudo-pedagógicas. As ciências e as engenharias, no contexto da educação básica brasileira, são a muito negligenciadas, e são recentes iniciativas como as do Departamento para Popularização das Ciências e da Tecnologia no Ministério da Ciência e Tecnologia, que fomenta ações como a Semana Nacional de C&T, citada anteriormente como uma das molas propulsoras rumo à compreensão pública das ciências.Tais ações tramitam desde a educação básica a educação superior e estabelecem novos rumos para um setor que no futuro se desdobra em um forte indicador quando se estabelece critérios relevantes ao número de cientistas e engenheiros que uma nação dispõe. A popularização das ciências já se encontra na agenda do país e esse é o momento para que sejam tomadas decisões eficazes no que tange a educação cientifica e o estimulo as carreiras ligadas às exatas e as engenharias. Faz-se necessário um recorte para salientar que nossa taxa de inovação é tímida, quiçá inexpressiva, em relação aos chamados países centrais. Nosso modelo de P&D ainda engatinha em um contexto de pré-sal e, só agora, empresas multinacionais começam a se instalar com intuito de formar centros de pesquisas como ocorre atualmente na Ilha do Fundão no Rio de Janeiro [UFRJ] com a chegada de empresas como a Schlumberger (França), FMC Technologies, Baker Hughes e Halliburton (EUA) e a Repsol (Espanha). Por outro lado ainda persistem visões de conglomerados que veem o Brasil somente como um local de mão de obra barata para montagem de seus equipamentos, como é o caso da chinesa Foxconn [montadora da Aplle] e a recente iniciativa de "produção" do ipad1 no Brasil [Jundiaí (SP)], o que ainda nos deixa, parafraseando um termo em voga, pensando de "dentro da caixa". Temos atualmente no Brasil a clara necessidade de profissionais técnicos, em especial nas ciências exatas. Profissionais que possam atuar em um mercado onde o desemprego alcançou uma baixa histórica de 12,4% em 2003 para 6,7% em 2010, mas, de outro modo, mantêm do outro lado da moeda um exército de desempregados não qualificados, sedentos por empregos. Tal descompasso atesta a incapacidade de um país em produzir mão-de-obra, mesmo que para reprodução de conhecimento, e estimular carreiras cientificas, em especial, no contexto da educação básica. Algumas áreas são críticas e expõem um esvaziamento nas carreiras cientificas exatas, tendo sobra de vagas em universidades, inclusive as públicas, em cursos como engenharia civil (28%) e engenharia de petróleo (52%).Fomentar as ciências na educação básica não se restringe em injetar recursos financeiros nas contas bancárias de gestores, muitos destes despreparados, mas leva a uma reflexão sobre como será discutida as ciências e seus desdobramentos na escola básica. As diversas ações no campo da popularização das ciências e, aqui em especial, as olimpíadas, feiras, concursos científicos e a SNC&T, podem estimular as carreiras cientificas fazendo que o jovem perceba o papel das ciências, não só as ciências exatas, e possam optar por carreiras cientificas que tendem a alavancar os setores produtivos da nação.O quanto precisamos avançar? Talvez essa seja uma questão menor em um contexto onde não dispomos de um pleno entendimento de como se deve dar o fomento as ciências e a tecnologia na educação básica [Vide o nosso Pisa, que mesmo tendo ganho um fôlego, ainda deixa a desejar]. Talvez seja importante negociarmos um conjunto de ações que simplifiquem, por exemplo, as possibilidades de "ilustrados" professores da escola pública [repito, escola pública] mostrarem suas atividades de pesquisa com os alunos, pois já "atravessamos o Rubicão" e não temos outro destino senão organizarmos para decidir quais os futuros profissionais e cidadãos que irão alavancar o país detentor da ordem e do progresso. Alea jacta est. * Alex Vieira dos Santos é engenheiro de produção civil, Msc.e doutorando em Ensino, Filosofia e História das Ciências, UFBA/UEFS. Jornal da Ciencia |
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