Desenvolvimento: BID sugere que países da região invistam em infraestrutura, educação e pesquisa. Aumento de produtividade, com investimentos em infraestrutura, educação e ciência e tecnologia serão fundamentais para que os países latino-americanos aproveitem o momento positivo em suas economias, alertou, em entrevista ao Valor, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Luis Alberto Moreno. Ele veio ao País para participar, com cerca de 700 executivos de grandes empresas e instituições, do Fórum Econômico Mundial - versão América Latina, que se realiza no Rio de Janeiro. "Essa é a década da América Latina", insiste Moreno, citando o tema do Fórum, neste ano. "Temos uma série de produtos que o mundo demanda hoje em dia, em quantidades importantes", lembra o presidente do BID, ao prever que não há perspectiva para queda significativa de produtos básicos como petróleo, grãos e minerais produzidos no continente e demandados em quantidade crescente, principalmente pelos países asiáticos onde aumenta a população de classe média, com hábitos mais sofisticados de consumo. As receitas obtidas com produtos básicos, apesar de vistas como uma ameaça às indústrias, por trazer pressões inflacionárias e valorização das moedas locais, também poderão, segundo acredita Moreno, dar aos países da América Latina condições de construir uma economia "do século 21", com maior peso dos serviços, vinculados a educação, ciência e tecnologia e infraestrutura. Os governos têm papel importante nessa mudança, a começar pela necessidade de aumentar investimentos em ciência e tecnologia, aponta ele. "O Brasil é quem mais investe, mas os investimentos em ciência e tecnologia na região estão bem abaixo do que fazem outros países em desenvolvimento", critica o executivo. O investimento no setor feito pela Coreia é superior a todos os investimentos dos países latino-americanos em ciência e tecnologia, compara. Moreno cita estudo recente do BID, segundo o qual o principal problema de produtividade na América Latina está no setor de serviços, que representa 70% do mercado de trabalho e que seria capaz de duplicar a produtividade dos países da região caso eles tivessem seguido o desempenho dos países asiáticos. O mau desempenho da produtividade da indústria também é problemático, analisa o BID: sofreu queda anual de 0,9% entre 1975 e 1990, e crescimento de apenas 2% anuais entre 1990 e 2005, enquanto os asiáticos registravam crescimentos entre 3,2% e 3,5% por ano nesses períodos. Dos países latino-americanos, apenas o Chile teve produtividade média acima dos Estados Unidos desde 1960, e o Brasil ficou entre os que tiveram menor queda, 2%, quando comparado à produtividade americana. Enquanto isso, a China teve aumento de 216%. Se os países da região tivessem acompanhado a média de produtividade do resto do mundo, poderiam ter aumentado em 54% sua renda per capita, calcula o BID. "Uma área que poderia gerar um valor importante para a região é a integração econômica, a própria interconectividade dos países e a queda de tarifas", sugere o presidente do BID, que pretende destinar mais recursos e estimular pesquisas para projetos nesses setores. Ele afirma que a maior integração poderia aumentar em 40% o comércio entre os países da região, segundo revela estudo em conclusão no banco. Só em investimentos para integração física, em redes de transporte, o BID calcula serem necessários investimentos equivalentes a 1,1% anual do Produto Interno Bruto Regional durante a próxima década. A taxa de retorno dos investimentos em estradas, ferrovias e hidrovias chega a 70%, com geração de receitas fiscais e redução de custos aos consumidores, segundo cálculos apresentados na última reunião de ministros da Fazenda dos países do BID, realizada há um mês, no Canadá. Para o BID, a demanda por produtos da região e o próprio impulso gerado pelo consumo das classes médias emergentes na América Latina fez aumentar o valor da integração, com investimentos em conexões físicas e reformas na burocracia para facilitar transações entre os países. "Há ainda temas de conjuntura, como a necessidade de consolidação fiscal, mas estamos em um grande momento para a América Latina", disse Moreno. O BID é um dos co-patrocinadores do Fórum Econômico, que começa hoje (27), no Rio de Janeiro. Moreno aposta que as multinacionais latino-americanas (assunto de um dos painéis do Fórum, amanhã) têm condições de rivalizar com investidores da China, Estados Unidos e Europa como fonte de investimento na região. "Não só as grandes, mas as médias empresas estão ampliando as operações e temos de trabalhar muitíssimo para que se tornem maiores", defende ele, que constata uma maior presença de executivos latino-americanos treinados nos países desenvolvidos, de volta a seus países de origem. "Esse é um dos motivos do êxito da Índia", comentou. A prioridade será investir nos talentos - A falta de mão de obra qualificada para sustentar o crescimento da economia e a expansão dos negócios - problema que afeta boa parte das empresas brasileiras atualmente- deverá ser o maior desafio das organizações por, no mínimo, mais quatro anos. Durante esse período, portanto, a principal estratégia dos líderes será reter e desenvolver talentos. Essa é a conclusão de um levantamento realizado pela Deloitte com CEOs, diretores e administradores de 352 empresas que atuam no Brasil. Juntas, elas faturaram R$ 114 bilhões em 2010 e 76% têm origem de capital nacional. De acordo com José Paulo Rocha, sócio-líder da área de "corporate finance" da Deloitte, aumentar o foco na gestão de pessoas tem como objetivo garantir a competitividade das companhias nos mercados interno e externo. "Tão importante quanto melhorar o problema da infraestrutura, que está em evidência no País, é preparar trabalhadores para suportar as novas demandas. Formar pessoas leva tempo e só é possível com planejamento de médio e longo prazo", diz. Segundo o estudo, gerenciar custos sem comprometer a qualidade e lidar com a concorrência vão ser outros grandes desafios das corporações até 2015. A boa notícia, na opinião de Rocha, é que as organizações já estão desenvolvendo estratégias para enfrentá-los, investindo, principalmente, em inovação. Desse modo, criar produtos, serviços e direcionar recursos para novas tecnologias estão entre as prioridades dos gestores. Embora essa estratégia seja fundamental para garantir um futuro saudável independentemente dos ventos favoráveis, as corporações estão mais concentradas em aproveitar o bom momento da economia. Os investimentos de curto prazo, portanto, apoiam-se no tripé marketing, recursos humanos e ampliação da capacidade operacional. "Esses fatores combinados são responsáveis por atender a procura do mercado e estão diretamente ligados aos resultados das organizações", afirma Rocha. Dentre as ações já adotadas pelas empresas, as mais eficazes na opinião de cerca de 70% dos administradores é a maior interação com consumidores, clientes, fornecedores e distribuidores. Na visão de Rocha, isso denota o amadurecimento da economia brasileira, que começa a ficar mais sofisticada e passa a atuar de forma parecida com o resto do mundo. "A complexidade cada vez maior dos negócios cria interdependência entre as organizações. Não há mais espaço hoje para empresas autossuficientes e que operam de maneira fechada." Comparando o levantamento realizado pela Deloitte no ano passado com a previsão dos líderes para 2015, o desafio de aumentar a participação no mercado externo passou de 17% para 30%. Mais de 80% deles, inclusive, apostam no aumento de investimentos estrangeiros no Brasil e na internacionalização de empresas nacionais, o que fez crescer também a preocupação com o nível de governança corporativa. "Algumas companhias ainda veem essa questão com certo distanciamento. Melhorar a governança, porém, é uma forte tendência em um cenário econômico global e de guerras cambiais", ressalta Rocha. (Valor Econômico) |
Nenhum comentário:
Postar um comentário