24 de setembro de 2011 O Estado do Maranhão | Opinião | MA Jorge Werthein Doutor em Educação pela Universidade Stanford (EUA), foi representante da Unesco no Brasil, e é vice-presidente da Sangari e do Instituto Sangari A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) revela, em documento recente, que estudantes em desvantagem do ponto de vista socioeconômico podem destacar-se nos estudos quando expostos a maior carga horária de educação em ciências. A publicação "Against the Odds - Disadvantaged Students who Succeed in School" (algo como "Contrariando as Probabilidades - Estudantes em Desvantagem que têm Êxito na Escola") fundamenta-se na análise do desempenho dos jovens submetidos ao Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). Segundo a OCDE, uma hora a mais de aulas regulares de ciências aumenta a probabilidade de um estudante ser resiliente, ou seja, superar obstáculos e ter bom desempenho. "Dadas as mesmas circunstâncias, políticas voltadas para esse objetivo [mais educação científica aos carentes] favorecerão a equidade nos resultados educacionais e impulsionarão a média do desempenho", diz o documento. Com o estudo, a OCDE demonstra que as ciências podem ser mais um fator de inclusão social. Resultado de reunião do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC), realizada em Genebra em julho deste ano, a Declaração Ministerial "Implementando os Compromissos e Metas Acordados sobre Educação" compromete-se a: "Fortalecer as oportunidades para estudantes aproveitarem e contribuírem para a inovação científica e tecnológica e desenvolver estratégias para ampliar a participação de meninas e mulheres na educação científica e tecnológica." Trata-se, simultaneamente, de mais um compromisso e alerta para todos os países, especialmente os menos desenvolvidos e em desenvolvimento, sobre a relevância do papel da educação com foco nas ciências e na tecnologia. Além de estimular o espírito investigativo, o raciocínio lógico e o pensamento científico, úteis a qualquer domínio do saber e da vida, o aprendizado de ciências abre portas para um mercado de trabalho extremamente promissor. Como se sabe, em uma sociedade altamente informatizada e mediatizada, ser e sentir-se cidadão integrado depende, em grande parte, do domínio de códigos científico-tecnológicos, seja para ingressar e manter-se no mercado de trabalho, seja para administrar a vida pessoal. Portanto, a formação precária em ciências e tecnologia - ou, em casos extremos, a ausência dessa formação - implica dois níveis de exclusão social: um mais visível, que envolve dificuldades de inserção e ascensão no mundo laboral, e outro mais sutil, relacionado à capacidade de tomar decisões individuais conscientes, assim como de participar de importantes processos decisórios coletivos. Quando a OCDE expressa a relevância de se ampliar a dedicação dos estudantes à educação científica como forma de torná-los mais resilientes, e o ECOSOC promove encontro ministerial no qual autoridades comprometem-se a elevar a qualidade da educação, especialmente a científico-tecnológica, torna-se ainda mais evidente a relação entre ciências e inclusão social. Trata-se de visão ao mesmo tempo resultante e promotora da sociedade do conhecimento. É uma espécie de círculo virtuoso no qual o saber exige cada vez mais saber - desde que todos possam dele participar, ou não seria um círculo virtuoso. |
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