25 de setembro de 2011 Educação no Brasil | Revista IstoÉ | Comportamento | BR Numa ação premeditada, estudante de 10 anos usa a arma do pai para atirar na professora, com quem tinha uma relação conturbada, e se suicida Flávio Costa VIOLÊNCIA Baleada no quadril por seu aluno, a professora Rosileide é removida para o hospital A escola brasileira tornou-se um lugar pródigo em relatos de violência. Após o massacre de Realengo, em abril deste ano, quando um ex-aluno matou 12 estudantes, e de recorrentes casos de agressão registrados em todo o País, mais uma vez uma sala de aula foi transformada em palco de horror, desta vez na cidade de São Caetano do Sul (SP), na quinta-feira 22. O estudante da 4ª série do ensino fundamental da Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, David Mota Nogueira, 10 anos, usou o revólver calibre 38 do pai para atirar contra a professora Rosileide Queiroz de Oliveira, 38 anos, e logo depois se suicidou. O tiroteio provocou pânico no colégio de 2,2 mil alunos, que obteve a 14ª melhor nota do País entre as instituições públicas no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Colegas de classe de David afirmaram a policiais que o estudante sofria gozações por ser manco, o que pode configurar uma situação de bullying. Sabe-se, também, que o relacionamento entre o aluno e a professora não era bom, como atestou o próprio namorado de Rosileide, Luiz Eduardo. "Ele me disse que não gostava da professora", confidenciou um dos colegas de David. MEDO O tiroteio provocou pânico na Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, que tem 2,2 mil alunos De acordo com relatos colhidos pela polícia, David planejou com antecedência sua ação. Ele tirou de sua casa a arma do coldre do pai, que é guarda municipal, e foi à escola. Por volta das 15h50, pediu para ir ao banheiro e, ao voltar, disparou contra a professora. Rosileide recebeu um tiro no quadril e fraturou a patela direita. Então o aluno saiu da sala, parou em uma escada, e apertou o gatilho duas vezes contra a cabeça - chegou a ser levado a um hospital de São Caetano, onde morreu. Sua vítima permanece internada no Hospital das Clínicas, em São Paulo, mas não corre risco de morte. A polícia investiga se houve negligência do pai, Nilton Nogueira. Ele chegou a se dar conta do sumiço do revólver, mas só foi informado de seu paradeiro ao saber da morte do filho. "A princípio, ele não deve ser responsabilizado. Mas só teremos uma resposta definitiva com o aprofundamento das investigações", afirma a delegada Lucy Mastellini, do 2º Distrito Policial de São Caetano do Sul, responsável pelo caso. A tragédia de São Caetano é um exemplo radical da deterioração da relação entre professores e alunos. E esses sinais de desgaste não são recentes. Já em 2006, um levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) junto ao Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo mostrou que, dos 700 mestres entrevistados, 82,2% já tinham sofrido alguma violência física ou psicológica durante o exercício da profissão. "As crianças não estão sendo educadas pelos pais para suportar a contrariedade e a discordância nem a respeitar aquele que tem mais saber e autoridade, que é o professor", afirma a neuropedagoga Irene Maluf. |
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