24 de novembro de 2011

Automutilação é praticada por um em 12 adolescentes


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Agressão, que pode incluir cortes, queimaduras e envenenamento, é tentativa de aliviar angústia e raiva 

Estudo conclui também que, em 90% dos casos, jovens param de se agredir ao entrar na idade adultaMARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO


Um em cada 12 jovens se mutila, com agressões como cortes, queimaduras e batidas do corpo contra a parede.

Para os que se autoflagelam, a prática é uma tentativa de aliviar sensações como angústia, raiva ou frustração, segundo especialistas. O problema é mais comum entre mulheres de 15 a 24 anos.
As conclusões são de um estudo publicado na revista médica "Lancet", feito no King's College, em Londres, e na Universidade de Melbourne, na Austrália.

Esse é o primeiro trabalho a acompanhar a evolução da automutilação da adolescência à vida adulta.
Entre 1992 e 2008, foram avaliados 1.802 adolescentes, entre os quais 8% afirmaram ter se mutilado de alguma forma. Ao completar 29 anos, menos de 1% dos jovens mantinham esse comportamento.

A conclusão dos autores é a de que, na maioria dos casos, o problema se resolve espontaneamente.
Isso não significa que seja dispensável buscar tratamento. Os próprios autores afirmam que, em geral, a automutilação é associada a doenças psiquiátricas como depressão, que podem precisar de atenção médica.

"Se a pessoa começou a se mutilar, merece receber avaliação e tratamento. Não se pode pensar que vai passar", afirma a psiquiatra da infância e da adolescência Jackeline Giusti, do Hospital das Clínicas da USP.

Ela afirma que, como qualquer doença psiquiátrica não tratada, o problema pode se tornar crônico e ficar mais grave. Nesse caso, o tratamento pode ser com psicoterapia ou medicamentos.
"Ao se tratar na adolescência, o jovem pode desenvolver habilidades de lidar com a frustração de outra forma, e as chances de não se mutilar mais são maiores", diz a psiquiatra.

IMPULSIVIDADE
 
Para Giusti, as conclusões do estudo mostram que o comportamento em relação à automutilação é parecido com o do uso de drogas: muitos experimentam na adolescência, mas só para uma minoria o comportamento se torna um problema crônico.

Segundo Hermano Tavares, professor de psiquiatria da USP, o cérebro passa por transformações importantes da metade da adolescência para o final, que favorecem a impulsividade e a vulnerabilidade para tomar decisões.

"Mais tarde existe um amadurecimento cerebral, mas isso não é sinônimo de melhora do status psíquico. A depressão continua."

Segundo um dos autores do estudo, o psiquiatra Paul Moran, do King's College, se a automutilação segue na vida adulta, o problema se torna mais sério e pode evoluir para tentativa de suicídio.

É raro que a pessoa que se agride procure tratamento sozinha. Parentes costumam descobrir o problema por acaso, segundo Giusti.

Dar broncas ao descobrir que o filho pratica automutilação só piora o quadro, de acordo com a psiquiatra.

"Os pais devem entender que esse comportamento é sintoma de alguma coisa. A mutilação é uma automedicação para a tristeza."


Cicatrizes próximas são sinal de problema

DE SÃO PAULO

Cortes e queimaduras de quem se mutila costumam ficar cobertos pelas roupas -em geral, as agressões são feitas nos braços, nas pernas e na barriga.

"É como um remédio que as pessoas tomam escondido. Não há intenção de mostrar ou ir para um pronto-socorro", afirma a psiquiatra Jackeline Giusti, do HC.

Por isso é difícil que os pais percebam que os filho estão se agredindo. Giusti diz que os familiares descobrem o problema por acaso ao perceber machucados frequentes ou cicatrizes próximas umas das outras.

A psiquiatra diz também que, principalmente em dias mais quentes, os pais podem suspeitar de que algo está errado se os filhos estão sempre com o corpo coberto e evitam usar blusas de manga curta ou bermudas.

"Mas o mais importante é perceber se houve alguma mudança de comportamento, se a pessoa está mais triste, e oferecer ajuda."

O psiquiatra Paul Moran diz ainda que os pais devem notar se o desempenho escolar caiu e se o jovem tem tido problemas para dormir ou se alimentar. "Em geral, aqueles que se mutilam não procuram ajuda. Acham que isso é a solução, e não o problema", diz Giusti.

 

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