17 de maio de 2016

Wynne Harlen, especialista em educação científica: 'Crianças já têm ideias própias





"Tenho 79 anos, nasci na cidade de Swindom, na Inglaterra, e me formei em Física na Universidade de Oxford. Interessei-me por educação científica porque sempre fui curiosa com o que acontece ao meu redor. Acho que todos devem entender a Ciência, não só os cientistas."
Conte algo que não sei.
Talvez você não saiba o quanto as crianças muito pequenas levam para a sala de aula. Isso é algo que muita gente não sabe, porque acha que a criança em processo de aprendizado é uma espécie de folha em branco, na qual você pode simplesmente escrever o que quiser. Não é o caso. Elas já têm ideias próprias, que influenciam como entendem novas experiências.
Que tipo de ideias surgem?
Por exemplo, temos algumas crianças sortudas o bastante para ter ovos de galinha em sala de aula, em um processo de incubação. Numa pesquisa, queríamos saber o que elas achavam que estava acontecendo dentro do ovo e conseguimos algumas ideias maravilhosas. Em alguns casos, elas achavam que existiam várias partes separadas, um par de asas aqui, um bico ali, e tudo se juntaria no final. Outras achavam que lá dentro havia uma galinha bem pequenininha, que cresceria depois no mesmo formato. Foi interessante ver que elas já tinham ideias, não era só imaginação.
Como o processo de educação pode se beneficiar desses pensamentos das crianças?
A compreensão vem por meio da investigação científica.Quando as crianças trabalham por si mesmas é quando estão entendendo de verdade. Isso leva tempo. Professores precisam enfrentar um currículo que tem muito conteúdo, e sabem que não vão conseguir dar conta, a não ser que tentem ensinar diretamente. É um currículo com vários pedacinhos, que é muito desagradável para os estudantes. Eles dizem: “Não é revelante para a minha vida”, e por aí vai. Em vez disso, dizemos: “Vamos tentar identificar quais são as coisas mais importantes e aí trabalhamos em entender essas coisas.” Esse é o conceito de onde saiu o modelo do Big Ideas.
O que é esse conceito?
Há alguns anos, reunimos especialistas internacionais em educação científica. Gradualmente, decidimos que critérios seriam usados para selecionar essas ideias. Chegamos a dez grandes ideias. Por exemplo: tudo no universo é feito de pequenas partículas. É uma ideia fundamental, seja para uma criança pequena ou para um cientista. Mas é preciso trabalhar em direção a essa compreensão.
Como isso muda o processo de avaliação?
Essa é uma grande questão. Avaliar é conseguir evidências sobre o que estudantes são capazes de realizar. Há duas formas de se fazer isso. Uma é de uso imediato na sala de aula, em que professores veem como os estudantes estão se saindo e usam essa informação para ajudá-los. É a avaliação formativa. A outra parte, a avaliação somativa, é aplicada numa época específica em que é preciso fazer um relatório. Tradicionalmente, isso tem sido feito por meio de prova. Então “passar na prova” tem sido o racional por trás das atividades, não a compreensão e as habilidades que o aprendizado dão no longo prazo. É preciso encontrar alternativas às provas.
Como vê o processo de educação científica no Brasil?
Há um longo caminho a ser percorrido aqui. Um monte de alunos não gosta de educação científica, e isso é muito triste. Existe um grande gap entre meninos e meninas. Poucas meninas gostam de ciências. Há muito a ser feito, mas muito também já foi feito. É a qualidade de professores que importa. É preciso empregar muito recursos na educação deles. Trazer professores para um nível maior, porque se eles não entendem as ideias não vão conseguir encorajar o desenvolvimento nos alunos.

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