1 de dezembro de 2011

Cámara dos deputados: Instituto Sangari apresenta estudo sobre violência entre jovens




Reportagem Especial

Instituto Sangari apresenta estudo sobre violência entre jovens (12'07")

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Resumo
Você ouve a partir de agora a primeira reportagem de uma série especial sobre a violência entre os jovens brasileiros. O repórter Eduardo Tramarim aborda na série, entre outros aspectos, os resultados de uma pesquisa do Instituto Sangari que mostra como esta violência impacta o cotidiano do brasileiro. A relação entre a ingestão de álcool e acidentes de trânsito, a violência nas escolas e o que o legislativo brasileiro pode fazer para diminuir o problema.



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Professora apanha de aluno de 14 anos ao proibir uso de celular em aula em Mogi das Cruzes - São Paulo.

Skinhead é preso por morte de punk em São Paulo

Casal gay é atacado por grupo de jovens na Avenida Paulista.

Crescem as brigas e os arrastões marcados pela Internet.

Manchetes como essas fazem parte de uma imprensa que teme e explora a violência.

Esse recorte da realidade transmitido todos os dias pelos meios de comunicação aumenta a percepção de insegurança da população. Se você ouviu alguma delas nos últimos meses deve ter pensado: a violência juvenil explodiu no país.

Não é bem assim. A violência no país se estabilizou num patamar elevado, aponta o estudo "Mapa da Violência no Brasil".

A partir de óbitos registrados em todo território nacional pelo Ministério da Saúde, um estudo do Instituto Sangari aponta que essa violência se interiorizou e impacta o cotidiano de muito mais brasileiros. Essa violência continua a ter como principal ator e vítima a juventude do país:são duas em cada três mortes.

O sociólogo argentino Julio Jacobo, diretor de pesquisa do Instituto Sangari, diz que a violência está em toda parte, fruto da desconcentração econômica em direção ao interior do país na segunda metade dos anos 90.

A interiorização da produção de riqueza, de acordo com Jacobo, ajudou a espalhar a violência para outros estados e municípios.

"Unidades que até então eram um oásis de paz, como o Maranhão, começam a apresentar índices extremamente altos de violência. Alagoas é um dos casos mais típicos. Em 1998, tem uma taxa de 21 homicídios para 100 mil habitantes e passa para 60. Passou da posição 11 para a primeira posição nacional."

O sociólogo diz que houve forte investimento federal na área de segurança pública das grandes metrópoles no início dos anos 2000 com a implantação do Fundo Nacional de Segurança Pública. Melhorou o aparelhamento do sistema de segurança das capitais e o crime migrou para a zona mais desprotegida.

Em comparação com a década de 80, os últimos números do Mapa da Violência, de 2008, o número de mortes aumenta apenas entre jovens, principalmente os da periferia e os negros. Jovens negros são 134 vezes mais vítimas do que jovens brancos. Jacobo tem uma opinião sobre esse fenômeno.

"A midiatização da violência. Quando acontece um homicídio de classe média alta a mídia está presente e pressiona pela resolução do caso aos órgãos de segurança pública. A diferença de vitimização é porque abaixou muito o número de mortes de jovens brancos enquanto aumentou um pouco o número de jovens negros vitimados Segundo fator. O império de segurança privada neste momento no país. Segurança privada é a indústria que mais cresce no país Quem pode pagar por essa terceirização é a classe alta e branca. A periferia urbana não pode pagar a segurança privada."

Para a psicóloga Thais Helena Cardinale Branco a violência está relacionada à lógica consumista de mercado.

"A gente vive num mundo em que se valoriza o que se tem. As marcas, as posses de dinheiro e coisas. Isso permeia nossa sociedade de uma forma geral"

A psicóloga Thaís Cardinali Branco fez um levantamento em regiões limites de São Paulo do valor que o jovem da periferia da cidade dava à violência.

Thais prefere iniciar a conversa expondo sua maior preocupação: a associação imediata na cabeça das pessoas entre violência e jovens da periferia. E pede uma reflexão do ouvinte.

"Muitos jovens da periferia não exercem a violência, talvez durante a vida toda. Mas os que não exercem convivem com ela. Há circunstâncias que são diferentes da vida em outros bairros. É comum se encontrar o resultado de violência presente nos ambientes. Está passando pela rua e vê um cadáver estendido ali. Perto de uma escola. E as crianças saem e fazem um círculo em volta e discutem, conversam. Isso é importante porque os valores morais são baseados no valor da vida humana e o valor da vida é alguma coisa que a gente adquire verificando que a vida é preservada no ambiente que vivemos."

Para Thais, a violência é um valor que o jovem de qualquer estrato social absorve em sua formação pessoal.

"A violência fica ligada a certos valores importantes, por exemplo, a masculinidade. Para ser homem não é necessário que seja violento?"

Para a psicóloga, a reversão da violência não é impossível. A pacificação parte de dentro do ser humano.

"Como a gente vê isso. Uma pessoa que assassinou, fez vandalismos e foi encarcerada. O próprio encarceramento pode ser um choque ou ela pode passar por experiências tão terríveis com o encarceramento. Isso rompe a identidade com a violência. Existem pessoas que passam muito tempo numa prisão e adotam como se fosse uma nova personalidade. Entram numa igreja, dão um testemunho, falam da vida que tiveram desde então e passam a pregar para que outras pessoas não sigam esse rumo."

Outro valor de destaque para o jovem é a liberdade, no sentido de se fazer valer, de poder escolher as coisas que quer. De poder escolher como conduzir sua vida, ressalta Thais.

"A percepção que as pessoas da comunidade têm é de que os jovens têm poucas chances de fazer valer sua própria vontade, seus desejos, inclusive descobrir quais são esses desejos. Até um momento em que é necessário que esse jovem adquira importância de alguma maneira. E o fato de eles provocarem medo em outras pessoas é um fator de importância."

A associação com a violência também está na relação do jovem com o poder e a polícia. A mesma polícia que é vaiada quando extrapola o poder na vida real é aplaudida quando bate em todo mundo em filmes como "Tropa de Elite".

"Essa violência que é apreciada pelos jovens tem caráter de poder. O jovem assiste isso, e o que ele vê: seja por parte da polícia ou do herói, ele vê que aquele herói é forte, pratica a violência e é poderoso. Quando o jovem da periferia se identifica com isso. Qual o caminho para obter o poder, para fazer aquilo que se quer com o uso de força? Em geral é o tráfico. Não é uma coisa discrepante. Na TV, ele torce pelo policial, e na vida é contra."

O círculo vicioso para o jovem se completa com a dependência das drogas, que ajudam a enfrentar os perigos. A entrada no jovem no tráfico se alia aos valores da coragem, da masculinidade e do status que conseguem junto à comunidade e às mulheres. Mas entrar para esse meio pode ser uma questão de vida também.

Não é o caso de Hugo Pereira, membro da Central Única de Favelas no Distrito Federal. Ele viveu de perto essa realidade do tráfico. Cresceu numa das regiões mais violentas da capital do país. Conheceu pessoas do tráfico local, mas não se envolveu.

Mas Hugo diz que é natural o jovem procurar a facilidade do tráfico.

"Se o tráfico gera mais dinheiro que o trabalho honesto e se isso está muito mais fácil para ele. Acho que é uma questão de se colocar a ele como um a única oportunidade que ele tem na vida. Tem gente que sustenta a família com o tráfico, com o roubo."

Outra exceção é Átila, 20 anos, que mora no Morro da Mangueira, no Rio de Janeiro. Ele faz parte de um grupo de jovens do local chamado Bonde dos Panteras. Violência, tráfico e brigas fizeram parte da realidade em que cresceu.
Mas para Átila, crescer sem ter se envolvido em confusões mais graves se deve à influência responsável da mãe.

"Minha mãe me criou na comunidade. Ela me mostrou o lado certo e o errado da vida. Vai de cada um querer seguir o que quer da vida, ela me falou. Você vai seguir o seu caminho. Você está de maior eu não vou poder te mandar. E aí eu fui levando assim. Mas algumas pessoas não tem a mente igual a minha, um pouco mais tranquila."

De Brasília, Eduardo Tramarim

sexta-feira, 25 de novembro de 201
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